Ela voou de paraquedas com 100 anos. Agora quebra recorde carregando tocha
Pedro Ivo Almeida*Do UOL, em Macapá (AP)
Aida Gemaque Mendes caminha pelo corredor lateral externo de sua casa que liga a cozinha à entrada. Os passos rápidos e a força para abrir o pesado portão de ferro já mostram que aquela cena não é tão comum quanto se imagina. Pouco depois, ainda dá uma corridinha para espantar o pequeno cachorro que não parava de latir. Toda vitalidade impressiona quando se está diante de uma sorridente senhora centenária. Mas isso é praticamente nada perto do ela está acostumada fazer. Aos 106 anos, a “Vovó Iaiá”, como é conhecida nas redondezas de Novo Horizonte, bairro da zona norte de Macapá, já gravou seu nome no livro dos recordes e escreveu novo capítulo nesta quinta-feira (16).
Com 100 anos, em 2010, Aida se tornou a pessoa com idade mais avançada do mundo ao saltar de paraquedas, pulando de uma altura de três mil metros. Foram mais cinco saltos depois. Agora, menos aventura, mas novamente entrando para a história. Quando recebeu a tocha olímpica no último trecho do revezamento na capital amapaense e acendeu a pira na Praça do Marco Zero, Vovó Iaiá se tornou a pessoa mais velha do mundo a carregar o fogo olímpico em todos os tempos.
“Eu não consigo nem pensar nisso. Só posso agradecer, agradecer e agradecer. É muita felicidade mesmo, muita alegria. A outra moça lá tinha 100 anos, não é? Com essa idade, eu já voava por aí, fazia graça. Ela tava nova [risos]”, brincou a bem humorada Aida, se referindo à recordista anterior, uma inglesa que carregou a tocha antes dos Jogos de Londres-2012. Ela deu entrevista ao UOL Esporte horas antes de conduzir a chama olímpica.
“Eu tive uma infância difícil, adolescência também, sabe? Fazia muita coisa e não tinha tempo para mim. Depois que fiquei mais velhinha, resolvi aproveitar tudo que não consegui na minha mocidade. E não quero parar. O segredo é esse: não ficar em casa, sem se movimentar”, explicou a recordista.
De fato, sua vida não admite tranquilidade. A senhora nascida em 1909, na cidade paraense de Chaves, não gosta muito de descanso. Ainda participa de três grupos de pessoas da terceira idade, praticando diversas atividades.
“Eu corro, faço caminhada, jogo basquete, chuto uma bolinha de futebol, danço quadrilha. Não tem tempo ruim. Só não gosto de ficar varrendo a casa. Mas também lavo minha roupa, vou na cozinha, faço tudo. Falam de ter acompanhante em casa, mas não gosto. Sei me virar sozinha”, disse a vovó, já levantando da cadeira e dando uma leve corrida. “É para mostrar que não estou mentindo. E também já vou aquecendo para receber a tocha. Desde que soube da notícia, estou treinando. Não posso fazer feio”, disse, citando a preparação que fez para percorrer os 200 metros com o fogo olímpico.
Cervejinha e peixe-cobra: os segredos
Sem medo da idade, ela revela o único temor de sua longa vida. “Só tenho pavor de onça. Ali não tem jeito. Se ela me pegar, já era. Se eu correr, me pega também. Passo longe”, disse Ainda, contando ainda outros segredos.
“Todo mundo me pergunta como consigo me manter assim aos 106 anos. Quer saber? Não tomo remédios e bebo uma cervejinha duas vezes por semana. O outro segredo é comer poroquê, um peixe tipo cobra. Ele mata até jacaré com o choque que dá na água. Mas eu encaro. Ele tem um líquido branco que me dá disposição”, disse.
Na base da cerveja, do líquido do perigoso peixe e dos recordes que não para de bater, Vovó Aida já olha para o futuro. “Não sei até quando Deus me deixará aqui, mas seguirei aprontando. Sou atrevida. Já vou sair da tocha e pensar no meu próximo salto de paraquedas, na viagem com meus grupos, nos jogos, nas danças. Só não posso ficar quieta. Se parar, vocês sabem, já era”.
* O repórter viajou a convite da Nissan.