RJ gasta R$ 40 mi para limpar Baía de Guanabara, mas projeto está parado
Vinicius KonchinskiDo UOL, no Rio de Janeiro
Uma obra de R$ 40 milhões realizada para colaborar com a limpeza da Baía de Guanabara prometida para a Olimpíada de 2016 não reduziu, até agora, em nada a quantidade de esgoto puro despejada diariamente nas águas do local das competições olímpicas de vela. A razão? Porque ela nunca foi posta para funcionar.
A obra em questão é a da UTR (Unidade de Tratamento de Rio) Irajá, na zona norte do Rio. O governo do Estado do Rio de Janeiro iniciou a construção do equipamento em 2012. Prometeu inaugura-lo em 2013, mas a execução do projeto atrasou.
Em 2015, entretanto, a UTR já estava praticamente pronta. Em setembro, ela passava por testes. A expectativa, então, era que ela estivesse funcionando em dezembro.
Acontece que um entrave entre prefeitura e o governo do Estado paralisou os planos para o funcionamento da UTR. Envolta numa crise financeira profunda, a administração estadual esperava que o município assumisse o custo de operação da UTR –cerca de R$ 3,5 milhões por ano. O município se nega a colaborar com o custeio do equipamento. Enquanto isso, ele não opera.
“Nem Deus consegue entender”, ironizou o biólogo Mario Moscatelli, que monitora periodicamente a poluição na Baía de Guanabara. “Autoridades não fizeram nada do prometido para limpar a baía para a Olimpíada. O pouco que ficou pronto não funciona. Ou seja, os políticos nunca quiseram despoluir a baía de verdade.”
Moscatelli explicou que UTRs são uma solução paliativa, mas de resultados imediatos para melhoria das condições da Baía de Guanabara. Os equipamentos “filtram” a água poluída que corre nos rios antes que ela deságue na Guanabara. Evitam, portanto, que esgoto e lixo cheguem nas raias olímpicas de vela.
Segundo o próprio governo do Estado do Rio de Janeiro, 12% dos mais de 400 milhões de litros de esgoto que chegam à Baía de Guanabara todo dia vêm pelo Rio Irajá, onde fica a UTR desativada. A meta do governo era tratar ao menos 80% do total do esgoto que chega à Guanabara até a Olimpíada de 2016. A menos de dois meses para os Jogos Olímpicos, ele trata cerca de 60%.
Federação de vela reclama do abandono
Velejadores e a Federação Internacional de Vela estão descontentes com o descumprimento da promessa. Dirigentes da entidade esportiva estiveram no Rio no mês passado para conversas sobre a Olimpíada de 2016 e demonstraram aos organizadores do evento insatisfação sobre o abandono de projetos que poderiam deixar a Guanabara mais limpa para as regatas olímpicas.
Membros da federação internacional, aliás, preocupam-se com a crise que atinge o governo do Estado do Rio de Janeiro, principal responsável pela limpeza da baía. Eles temem que a falta de dinheiro acabe paralisando ou atrasando a instalação das chamadas ecobarreiras –redes que seguram o lixo que chega à baía por rio— e o trabalho dos ecobarcos –embarcações que coletam o lixo flutuante na baía.
A Secretaria Estadual do Ambiente informou em nota que tem um amplo plano para garantir que as competições olímpicas sejam realizadas sem risco. Destacou, inclusive, que atualmente as águas da Baía de Guanabara já são próprias para competição. “É importante lembrar que as raias olímpicas seguem padrões internacionais de balneabilidade, ou seja, estão próprias para banho. ”
Sobre a UTR Irajá, o órgão declarou que ela “não está em operação porque ainda não foi concluída, mas vale lembrar que a mesma será operada pela Prefeitura”.
A Secretaria Municipal de Saneamento e Recursos Hídricos contrariou a secretaria estadual. Informou que já opera cinco UTRs no Rio. Contudo, declarou que a UTR Irajá é uma responsabilidade do governo do Estado. “A Prefeitura não opera a UTR Irajá, que é de responsabilidade do Governo do Estado.”