! Bruninho explica relação com Bernardinho na seleção: "não tem pai e filho" - 08/06/2016 - UOL Olimpíadas

Olimpíadas 2016

Bruninho explica relação com Bernardinho na seleção: "não tem pai e filho"

Fábio Aleixo e Leandro Carneiro

Do UOL, em São Paulo

Bruninho chegou à seleção brasileira de vôlei principal em 2007. Convocado por Bernardinho passou a conviver com críticas com as quais precisa lidar até hoje. Se acostumou a ouvir que só era chamado para o time nacional por ser “filho do técnico”.

O tempo passou e o levantador se firmou como titular. Conquistou um título mundial, duas medalhas de prata em Olimpíadas e hoje ostenta o status de capitão do time, função que mais uma vez desempenhará daqui a dois meses no Rio de Janeiro, quando buscará o seu primeiro título olímpico. A posição que ocupa dentro do grupo, entretanto, faz com que em algumas ocasiões tenha de bater de frente com o pai. Seja para discutir estratégias, questões internas do grupo ou até mesmo contestar uma cobrança exagerada.

“Tem hora que eu chego e falo: ‘está demais’. Porque isso acontece e você tem de se colocar como um deles [jogadores]. Sou um deles. Lá dentro não tem pai e filho. Ele é técnico, o chefe que vai cobrar e exigir. E de vez em quando tenho que bater de frente. Faz parte”, disse o levantador de 29 anos em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Para Bruninho, o que é dito por torcedores e críticos em redes sociais fica do lado de fora da quadra. Ele considera a confiança do grupo a parte mais importante do posto assumido hoje. Confiança esta que ele garante que vem aumentando a cada dia.

“O mais importante é o grupo, o sentimento que eles têm em relação a mim. Será que eles têm confiança de chegar no capitão e falar? Vejo muito mais isso hoje em dia”, afirmou logo após ser apresentado como novo reforço do Sesi-SP para a próxima temporada.

Confira os melhores momentos da entrevista com o levantador:

Divulgação/FIVB
imagem: Divulgação/FIVB

Amadurecimento facilitou a lidar com o pai na seleção

Hoje é mais tranquila a nossa relação, mas claro que é algo diferente. Não tem como não ser diferente. De repente, numa folga de Saquarema [onde fica o CT da Confederação Brasileira de Vôlei] vou com ele para casa. É uma relação diferente. O que as pessoas pensam fora não cabe a mim ficar julgando, tem de deixar do lado de fora. O mais importante é o grupo, o sentimento que eles têm em relação a mim. Será que eles têm confiança de chegar no capitão e falar? Vejo muito mais isso hoje em dia. Sei que ele [Bernardinho] não erra porque quer, mas erra. Seja por uma cobrança exagerada ou por um treino que passa do limite. Como capitão tenho de chegar e falar: ‘não pode ser assim’. A gente conversa, jogadores mais experientes falam. Isso melhorou muito. Hoje ele está mais calmo, ele consegue entender melhor isso, as necessidades de um grupo. Você vai ficando mais maduro e experiente, ele como técnico vai melhorando. Eu chego e falo: ‘está demais’. Porque acontece e você tem de se colocar como um deles [jogadores]. Sou um deles, lá dentro não tem pai e filho. É técnico, chefe que vai cobrar exigir. E de vez em quando tenho que bater de frente, faz parte. Esta nossa relação por  ter se tornado profissional, fez até crescer nossa relação como pai e filho fora da seleção. Nos tornamos mais homens em relação a isso. 

Leituras e aceitações de limitações o tornaram um melhor líder

Sempre busco ler sobre atletas ou técnicos. Minha base de leitura sempre são os grandes líderes, jogadores. Li inúmeros livros para buscar conhecimento. Tenho isso dentro de mim desde sempre. Sempre gostei de motivar os outros. Isso é uma forma de liderar. Eu tenho que tentar melhorar qualidades que tenho, porque de repente tenho outras carências. Não posso só pensar em ser o melhor jogador. Preciso ser o melhor jogador para aquele time, ser o melhor companheiro. Não sou e nem pretendo ser o melhor levantador da história. Mas tenho de fazer aquele time jogar da melhor maneira possível. Tenho certos defeitos e limitações que não digo que têm de ser escondidas, mas sim treinadas. Mas tenho de aumentar minhas qualidades, como minha liderança.

Tumor de Bernardinho e crise na CBV amadureceram seleção

Você amadurece. Amadureci bastante. Foram problemas extra-campo que dificultaram ainda mais a nossa vida, de certa forma. Por mais que tente ficar mais focado no que tem de fazer dentro de campo, de certa forma tivemos de segurar o rojão fora. Ele [Bernardinho] teve problemas de saúde, teve também todos os problemas da CBV, todas denúncias e roubalheiras. Não posso generalizar dizendo roubalheiras, mas tudo que teve de ruim dentro da CBV fez com que a gente passasse por momento complicado fora de quadra, mas que foi positivo para amadurecimento deste time e jogadores.

Nota da redação: Em 2014, o técnico da seleção teve um tumor maligno no rim. Após o término do Mundial da Polônia, ele precisou passar por uma cirurgia para removê-lo. No mesmo ano, foram diversas as denúncias e comprovações de corrupção na Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) que levaram a saída do presidente Ary Graça e levaram a uma reformulação completa da diretoria.

Derrotas e frustrações servem de lição, mas só final não é o bastante

Você chegar a uma final olímpica, estar tão perto do sonho e acabar não conquistando é uma frustração, e não tem como ser diferente. É uma grande honra ser medalhista de prata? Claro que é. Eu agradeço a Deus por ter duas [nos Jogos de Pequim-2008 e Londres-2012]. Mas falta um algo a mais e a gente se cobra. A gente aprendeu a ver o Brasil vencer. Fiz parte de vitórias e títulos, e as pessoas e se acostumam. A pressão é para ganhar. Você não busca só medalha de prata e final. Seria hipócrita dizer que só a final está bem. Temos de ser bem firmes em relação a pensamento e sonho. As derrotas de certa forma ensinam. 

Nota da redação: Na Olimpíada de 2012, o Brasil abriu 2 sets a 0 sobre a Rússia na decisão, mas acabou levando a virada e ficando com a prata pela segunda edição consecutiva.

Ter a hegemonia mundial de novo? Missão quase impossível

São gerações diferentes, é difícil comparar. Eu acompanhei toda aquela geração que nem de ouro é. É de de diamante. Os caras ganharam tudo. Tive a oportunidade e felicidade de fazer parte durante um período. Juntou uma geração muito boa, que junta foi espetacular. O vôlei era um pouco diferente, não digo em nível técnico. A cada cinco anos o jogo muda, hoje você vê ainda mais velocidade, mais agressividade no saque. Em 2002 e 2006 você já vê a diferença que tinha, a diferença que o Ricardinho implementou. Não dá para comparar. Esta geração de agora mescla jovens com outros. O último ciclo olímpico foi um bom ciclo olímpico, apesar da medalha de prata. Neste ciclo, foi uma prata no Mundial, duas pratas na Liga Mundial, o título da Copa dos Campeões. Mas de certa forma falta alguma coisa. A gente segue sendo uma grande equipe, mas não tem mais hegemonia porque é muito difícil criar. Não tem como comparar. São jogadores e talentos diferentes e o momento é outro. 

Torcedor brasileiro ficou mal acostumado com tantas vitórias

Eu, como torcedor, muitas vezes acabei me pegando com este pensamento: ‘pô, tem que ganhar’. Mas não é bem assim. O esporte é feito de outras equipes, não depende só da gente. O torcedor brasileiro é assim, somos assim. Quando você vive no esporte começa a entender melhor. Eu mesmo já julguei assim em outros momentos, quando não jogava. O vôlei venceu muito nos últimos 15 anos. Você espera as vitórias, você acaba acostumando mal, as pessoas esperam isso. A gente, dentro da seleção, vive uma pressão nossa diária, de cobrança muito grande. A gente não precisa colocar pressão externa. Ter o público ao lado vai ser positivo, tem que fazer que seja bônus e não ônus. Espero que a gente possa quebrar este tabu e paradigma que mostram que os resultados em casa não são tão bons, apesar de termos ganhado o Pan em 2007. Tabus estão aí para serem quebrados. Espero que seja o momento.

Nota da redação: Em grandes competições mundiais, o Brasil só conquistou um título atuando em casa, a Liga Mundial de 1993. No ano passado, por exemplo, nem ao pódio subiu na fase final da Liga, jogada no Maracanãzinho. Em 2008, a história foi a mesma.

Mulheres vivem melhor fase e podem servir de exemplo

Hoje a seleção feminina é credenciada ao ouro. No masculino, o Brasil está num bolo de várias seleções, tem mais seleções que no feminino. Mas elas eram muito mais desacreditadas em 2012, ainda mais depois da primeira fase que não foram bem, e ganharam o título olímpico. Serve de exemplo. As pessoas podem pensar que não chegaremos ao ouro olímpico, mas a gente acredita e é atrás deste sonho que vamos. Temos treinado muito forte, se sacrificado, sempre com muita positividade, tentando formar um grupo mais unido. Porque a hora que chegarem os Jogos Olímpicos é hora de desfrutar e fazer o melhor.

Neymar é parça, mas eles nem falam sobre a Copa de 2014

A gente não chegou a falar. Tivemos conversa sobre esporte e futebol, mas não sobre isso. Ele tinha se machucado, não jogou os últimos dois jogos. Acredito que é complicado jogar futebol na seleção brasileira, a pressão é grande. Tem que encontrar equilíbrio e saber como se portar em evento como este. Temos de pensar de maneira positiva. Sabemos que as pessoas esperam demais de nós, do futebol, de outros esportes. Temos de trazer como coisa positiva, torcida vai estar lá e temos de fazer o melhor. Só isso posso garantir. Estas pressões externas são pesadas, sentimos no futebol na Copa do Mundo e serve de aprendizado.

Nota da redação: Bruninho e Neymar costumam aparecer juntos em fotos e redes sociais em momentos de curtição e festas.

 

 

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