Olimpíadas 2016

Rival de Bolt aproveita passagem pelo Brasil para combater fama de vilão

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Justin Gatlin foi a estrela de um evento de atletismo na Quinta da Boavista, no Rio de Janeiro imagem: Divulgação

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

No âmbito esportivo ou no quesito carisma, não é nada fácil competir com Usain Bolt, 29, atual bicampeão olímpico dos 100 m rasos, dos 200 m rasos e do revezamento 4x100 m rasos. Os feitos esportivos e o comportamento transformaram o jamaicano em um dos principais ícones do atletismo mundial em todos os tempos. Paralelamente, influenciaram de forma drástica a imagem de Justin Gatlin, 34. Principal rival do velocista, marcado por um estilo marrento em competições e punido duas vezes por uso de doping, o norte-americano foi transformado em uma espécie de "vilão" por causa desses estilos opostos dos dois. No último fim de semana, em passagem pelo Brasil, Gatlin se esforçou muito para desmistificar a imagem de antagonista.

O norte-americano foi escolhido para substituir Bolt em um evento chamado “Mano a Mano”, que promove corridas pequenas em espaços públicos. O jamaicano havia sido a estrela das três edições anteriores, mas recusou vir ao Brasil em 2016 por questão de agenda.

“Ele teve um problema de contusão e resolveu, para focar nessa recuperação, não vir – o que é absolutamente compreensível. Aí, conversando com os parceiros do evento, o nome do Justin Gatlin apareceu na hora. É o principal oponente dele”, explicou Luiz Paulo Moura, diretor de propriedades esportivas da Dream Factory, agência que é uma das organizadoras do evento – a outra é a X3M Sports Business.

A mudança de protagonista teve influência direta na estrutura do evento. Patrocinadores que acompanhavam Bolt não renovaram – apenas Gatorade e Sesi continuaram. A manutenção de patamar da prova só foi possível porque dois novos cotistas entraram (Brasken e Net/Claro), mas nenhuma dessas adições teve relação com a presença de Gatlin. As marcas resolveram apostar no “Mano a Mano” como parte de suas plataformas de investimento em esporte (Net e Claro estão entre os patrocinadores da Rio-2016, e a Brasken tem apostado fortemente em paraolímpicos).

“Teve impacto. O Bolt tem patrocinadores globais que estavam conosco. É absolutamente compreensível. Quando ele deixa o evento as marcas perdem o motivo de estar ali. A gente teve um desafio, que foi maior ainda em um ano de situação econômica adversa”, disse Moura.

Humilde e simpático

A relação com patrocinadores é apenas um exemplo da distância que separa Bolt e Gatlin. Durante a passagem pelo Brasil, o norte-americano se esforçou para reduzir isso: pelo menos três funcionários do evento, em contato com o UOL Esporte, fizeram elogios ao comportamento e à humildade do atleta.

Gatlin também foi extremamente educado na relação com jornalistas. Ensaiou passos de samba em entrevistas a emissoras de TV e chegou a pegar o microfone de um repórter e brincar de conduzir a conversa.

“A surpresa foi bacana porque o Gatlin é uma superpessoa além de ser um superatleta. A gente viu isso aqui: a simpatia dele com o público, com a imprensa toda, o astral e a felicidade dele”, relatou Moura. “O Bolt é um atleta fenomenal, e como personagem também é sensacional. Você tem alguns exemplos assim – o Guga, no tênis, é alguém com esse carisma. Você tem personalidades tão especiais quanto [como Justin Gatlin], mas elas ficam disfarçadas porque outros oponentes são muito fortes”, completou.

A relação de Gatlin com a mídia tem sido extremamente tortuosa nos últimos anos. Em 2015, o empresário dele, Renaldo Nehemiah, chegou a dizer publicamente que o norte-americano não conversaria mais com jornalistas do Reino Unido e que boicotaria a “BBC” por causa de uma cobertura que ele julgava tendenciosa. “Toda reportagem fala de doping e o trata como um vilão”, afirmou na época.

Termos como “vilão”, “cara mau” ou “antagonista” estão na maioria dos registros sobre Gatlin na última década. Em maio deste ano, em entrevista coletiva, o próprio corredor havia demonstrado incômodo com isso: “Eu não sou o bad guy [cara mau, em tradução livre]. Sou um competidor, mas sou uma boa pessoa”.

Além da oposição a Bolt, a fama deteriorada tem relação com o histórico pessoal de Gatlin. Campeão olímpico dos 100 m rasos em Atenas-2004, o velocista foi suspenso duas vezes por uso de doping. Em 2001, recebeu pena de dois anos por uso de anfetamina. Em 2008, após ter sido flagrado novamente (a substância nunca foi revelada), recebeu pena de oito temporadas, recorreu e conseguiu reduzir o afastamento para quatro anos.

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