Por que só um judoca brasileiro soube pessoalmente que não iria à Rio-2016

Guilherme Costa
Do UOL, no Rio de Janeiro
Harry How/Getty Images
Luciano Correa deve encerrar trajetória na seleção brasileira

A CBJ (Confederação Brasileira de Judô) teve de montar um esquema para não deixar vazar a lista de convocados para os Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro. Alguns dos atletas preteridos foram avisados por telefone na última quarta-feira (01), enquanto os outros nomes eram divulgados. Apenas um lutador teve tratamento especial e mereceu uma conversa ao vivo: Luciano Corrêa, 33, campeão mundial em 2007, ficou fora da competição que seria a última dele pela equipe nacional.

“Por tudo que o Luciano é, por tudo que conquistou e pela relação que tem com a comissão técnica, essa foi uma decisão bastante difícil do ponto de vista do coração. Mas a gente tem de separar o afetivo, e existe uma ligação muito profunda, do técnico”, disse Ney Wilson, gestor-técnico de alto rendimento da CBJ.

Corrêa já havia decidido que se aposentaria da seleção depois da Rio-2016. No entanto, acabou alijado até da competição. O Brasil pode inscrever um lutador por peso nos Jogos, e o representante nacional no meio-pesado (até 100kg) será o paulista Rafael Buzacarini, 24 – o critério para definição entre os dois foi o ranking mundial da modalidade.

“O Luciano foi o único com quem conversamos pessoalmente”, contou Wilson. “Nós estávamos retornando do Master [competição disputada em maio, no México], na conexão no Panamá, e eu o chamei. Foi muito difícil porque envolve emoção. Na conversa, coloquei claramente a amizade que eu tenho com ele, a relação que ele tem com toda a comissão técnica. Mas a análise tem de ser fria, e o que vale é a conquista da medalha”, completou.

Buzacarini é atualmente o 24º colocado no ranking mundial dos meio-pesados. Corrêa, campeão pan-americano em 2015, ocupa a 27ª posição na lista.

“Claro que ele [Luciano] contra argumentou com toda a história dele, com 2007, com o título mundial conquistado no Rio de Janeiro. Isso o diferencia dos outros, mas faz nove anos. A gente está olhando hoje, e eu, como gestor, tenho de pensar no futuro. Entre ele e o Buzacarini são praticamente dez anos de diferença. Se o Luciano tivesse equiparado os resultados, pesaria a experiência”, disse Wilson.

Com a exclusão de Luciano Corrêa, o Brasil terá apenas três remanescentes da seleção masculina de Londres-2012: Felipe Kitadai (até 60kg), Tiago Camilo (até 90kg) e Rafael Silva (acima de 100kg). É uma situação radicalmente diferente do time feminino, que repetirá na Rio-2016 a escalação de quatro anos atrás.

Luciano não quis dar entrevistas e só se manifestou por meio de seu perfil no Instagram e lamentou a possibilidade de não conseguir buscar a tão desejada medalha olímpica.

"Essa seria minha última participação em busca de meu maior sonho: ser medalhista olímpico. Desde a derrota amarga em Londres, penso nesse momento. Mas, o momento não veio. Estive na frente do ranqueamento mundial por todo ciclo olímpico. Mantive-me na elite do Judô mundial a custo de muito esforço, o que não reclamo, pois foi o que escolhi e sei o preço que tenho que pagar. Sempre respeitei meus adversários dentro e fora do tatame. Por isso, aproveito para parabenizar meu companheiro de categoria Rafael Buzacarini pela convocação, lhe desejo sucesso e, como todo brasileiro e amante do judô, torcerei por ele e toda seleção olímpica", escreveu.

"Não farei desse momento minha última lembrança do Judô, buscarei algo mais, serei o Luciano de sempre, aquele que vai até o fim, não aprendi a ser de outro jeito e agradeço por isso", seguiu.

Outros judocas preteridos foram avisados por telefone

Na reta final, a escolha da seleção brasileira para os Jogos Olímpicos de 2016 tinha três grandes brigas. Além da disputa entre Buzacarini e Luciano no meio-pesado, a CBJ teve fazer escolhas no ligeiro (Felipe Kitadai venceu a concorrência com Erik Takabatake) e no pesado (Rafael “Baby” Silva superou David Moura).

Takabatake e Moura foram avisados por telefone e souberam da decisão apenas na quinta-feira (01). “Por uma estratégia da confederação, havia um receio de que a informação fosse antecipada. Além disso, conversar com o atleta que emocionalmente está para baixo pode acabar com a possibilidade de um clima favorável na convocação. Então, quando estava para entrar a categoria deles, os técnicos ligaram e avisaram”, relatou Wilson.

O caso mais polêmico é o de Takabatake. Ele ficou à frente de Kitadai no ranking mundial, mas foi preterido. Segundo a CBJ, como a diferença entre os dois era pequena (20 pontos), pesaram fatores como experiência, confrontos com rivais de primeira linha e número de competições internacionais nos últimos anos – Kitadai construiu a pontuação em 15 torneios, e Takabatake precisou de 18.

Confira todos os atletas convocados:

Masculino
Ligeiro (até 60 kg) - Felipe Kitadai
Meio-leve (até 66 kg) - Charles Chibana
Leve (até 73 kg) - Alex Pombo
Meio-médio (até 81 kg) - Victor Penalber
Médio (até 90 kg) - Tiago Camilo
Meio pesado (até 100 kg) - Rafael Buzacarini
Pesado (acima de 100 kg) - Rafael Silva

Feminino
Ligeiro (até 48 kg) - Sarah Menezes
Meio-leve (até 52 kg ) - Erika Miranda
Leve (até 57 kg ) - Rafaela Silva
Meio-médio (até 63 kg) - Mariana Silva
Médio (até 70 kg) - Maria Portela
Meio-pesado (até 78 kg) - Mayra Aguiar
Pesado (acima de 78 kg) - Maria Suelen Altheman