Olimpíadas 2016

Importado do polo aquático recorre ao YouTube para aprender hino brasileiro

Al Bello/Getty Images
Slobodan Soro ainda não conseguiu decorar o hino brasileiro imagem: Al Bello/Getty Images

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

O YouTube virou ferramenta chave na preparação de um dos principais nomes do polo aquático do Brasil para as Olimpíadas de 2016, que serão realizadas no Rio de Janeiro. É ao portal de vídeos que o goleiro Slobodan Soro, 37, tem recorrido para tentar aprender o hino de seu novo país até o início dos Jogos, em agosto. Dono de dois bronzes em edições passadas (Pequim-2008 e Londres-2012), o atleta nascido na Sérvia é considerado um dos maiores da história da modalidade - foi eleito pela Fina (Federação internacional de esportes aquáticos) o melhor da posição na Copa do Mundo de 2010 e na Liga Mundial de 2011 - e listado em 93º lugar no livro "Os 100 melhores jogadores de polo aquático de todos os tempos", de Alex Trost e Vadim Kravetsky.

Em 2015, naturalizou-se brasileiro após decisão polêmica de José Eduardo Cardozo (PT-SP), que ocupava o Ministério da Justiça. Soro foi incluído pela CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) em um plano para turbinar o desempenho da seleção na Rio-2016 e incluir os anfitriões na briga por uma medalha. Agora, pensa apenas no que fazer se subir ao pódio.

“Eu estou aprendendo a primeira parte. Está muito difícil, mas só essa parte que é tocada na apresentação nos Jogos. Tenho ido ao YouTube e visto o hino com legenda, mas não está fácil. Não está nada fácil”, admitiu o sérvio/brasileiro em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. “Quando estou mais moreno até posso passar por brasileiro, mas quando começo a falar todo mundo sabe que estoy gringo”, completou.

Soro foi titular da seleção sérvia de polo aquático por sete temporadas, mas deixou de ser convocado em 2012 como parte de um plano de renovação da equipe nacional. No ano seguinte, viajou ao Brasil pela primeira vez a convite de Felipe Perrone, nascido no país sul-americano, que passou um tempo defendendo a seleção espanhola e foi "resgatado" pela CBDA para a Rio-2016. “A ideia era que eu treinasse junto com o grupo do Fluminense e melhorasse a qualidade dos trabalhos, já que eu não podia disputar a Liga Nacional”, relatou o goleiro.

A passagem pelo Brasil abriu um diálogo entre Soro e a CBDA para a seleção que disputaria a Rio-2016. Em 2014, o sérvio passou a receber um salário bruto de R$ 25 mil (R$ 18.746 líquidos) em um contrato para defender o país sul-americano nos Jogos. O plano da confederação para turbinar a seleção de polo aquático também incluiu Perrone e o croata Josip Vrlic, que foram contratados por valores semelhantes. Os vencimentos dos três reforços são bancados diretamente pelos Correios, patrocinadores da entidade.

A naturalização de Soro foi concedida apenas em abril de 2015, em uma atitude tomada por José Eduardo Cardozo. O goleiro e Vrlic não cumpriam exigência inicial de residência física no país há pelo menos quatro anos, mas foram beneficiados por um dispositivo que permite ao ministro reduzir o tempo demandado se o requerente prestar serviços relevantes ao país.

A despeito da cidadania brasileira, Soro seguiu defendendo o Partizan Belgrado (Sérvia) até maio de 2015. A partir disso, teve de cumprir uma quarentena imposta pela Fina. A estreia do goleiro na nova seleção acontecerá apenas na edição deste ano da Liga Mundial de polo aquático, entre 21 e 26 de junho, na China. O primeiro rival? Justamente a Sérvia.

“É o melhor time do mundo. Nos últimos três anos, ganhou todas as competições. São os únicos favoritos na Olimpíada. Eu vou jogar pela primeira vez contra eles, e vai ser logo no meu primeiro jogo oficial. Não posso imaginar o que vai acontecer, mas sei que terei uma história para contar daqui a 20 ou 30 anos”, ponderou o atleta.

Goleiro vive em hotel, é fã de churrasco e foi ajudado por Petkovic

Soro ainda não tem residência fixa no Brasil. O goleiro tem contrato até o fim deste ano e pretende se estabelecer em Copacabana depois dos Jogos Olímpicos, mas atualmente mora sozinho em um hotel da zona sul da cidade. A mulher dele e a filha, que está prestes a completar um ano, estão na Sérvia.

A solidão é um impulso para Soro melhorar o idioma. Sem a família, o jogador pratica mais o português – ele havia feito apenas algumas aulas na Sérvia antes de se mudar. Nos momentos de lazer, os programas favoritos do atleta são frequentar a praia e provar a culinária brasileira.

“Gosto da comida daqui e da variedade. Cada parte do país tem uma culinária diferente. A carne é muito boa”, avaliou Soro, que é fã do churrasco brasileiro e notou um padrão curioso sobre os hábitos alimentares dos cariocas: “É uma cidade com mar, mas ninguém come peixe”.

Quando trocou a Sérvia pelo Brasil, Soro foi auxiliado por um famoso ex-jogador de futebol que percorreu o mesmo caminho. O goleiro de polo aquático chegou a morar na casa de Dejan Petkovic, 43, que atualmente trabalha como técnico e está sem clube – foi demitido pelo Sampaio Corrêa em maio.

“A Sérvia é pequena, e nós temos muitos amigos em comum. Quando cheguei aqui pela primeira vez eu fui para a casa dele. Sempre que podemos, estamos juntos”, contou Soro.

Com Soro, o que o Brasil pode esperar do polo aquático na Rio-2016

Além de Soro, Vrlic e Perrone, o plano da CBDA para capacitar o polo aquático brasileiro passou por adições como Adria Delgado (egresso da Espanha), Felipe Salemi (ex-seleção italiana), Ives Gonzalez (oriundo de Cuba) e o técnico croata Ratko Rudic, 68, dono de seis medalhas olímpicas (uma como atleta e cinco como treinador).

Em 2015, ainda sem Soro, o Brasil conquistou um resultado histórico e terminou a Liga Mundial de polo aquático na terceira posição. “Acho que o time foi já foi de médio para baixo, mas agora somos médios ou de médio para alto. Podemos jogar contra Austrália ou Estados Unidos”, avaliou o jogador.

O grupo do Brasil na Rio-2016 tem Hungria, Grécia, Sérvia, Austrália e Japão. Todos jogam contra todos, e os quatro primeiros avançam às quartas de final. “Se ganharmos de Austrália e Japão teremos muita chance de passar à próxima fase. Acho que podemos ter um resultado muito bom”, finalizou Soro.

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