Entrevista: Eduardo Paes critica Dilma e já fala com Temer sobre Olimpíada
Eduardo Paes fez nesta quinta-feira (5), em entrevista ao UOL, as primeiras críticas abertas à gestão de Dilma e à participação do governo na Olimpíada do Rio, que começa daqui a três meses. O prefeito disse que faltou habilidade política à presidente e que a Prefeitura teve de assumir obras olímpicas que cabiam, inicialmente, ao governo federal. Revelou ainda que o vice-presidente, Michel Temer, já lhe telefonou para dar garantias ao COI (Comitê Olímpico Internacional) de que nada mudará se tomar posse antes dos Jogos.
Nesta ginástica política, Paes tenta isolar a Olimpíada da crise nacional. Uma tarefa difícil visto que a operação Lava-Jato já circunda projetos dos Jogos, há uma ciclovia caída na cidade e o desgaste natural da proximidade da operação do evento olímpico. Sua tática é ressaltar obras dos Jogos dentro do custo (verdade para a maioria) e do prazo (não confere com cronogramas), além de ressaltar ter sido combativo para conter custos apesar das pressões de federações internacionais de esporte. Certo é que, na maratona que iniciou em 2009 quando o Rio foi eleito sede olímpica, Paes vive seus quilômetros mais difíceis na reta final.
UOL Esporte: Durante a Olimpíada de Londres, em 2012, você disse que o Rio sediaria os melhores Jogos Olímpicos. Hoje, a promessa é fazer a melhor Olimpíada dentro do que dá para fazer, com o dinheiro que a gente tem. O que mudou?
Eduardo Paes: Essa história de fazer com orçamento controlado sempre foi uma meta. Quando decidimos tirar boa parte da cobertura da Arena de Tênis, foi no ano de 2012, longe de crise, Brasil estava em um momento altíssimo. O Aquático, quando decidimos trazer as colunas para dentro, diminuir o vão livre, para economizar, foi em 2012. Ou seja, sempre foi um objetivo fazer uma Olimpíada que fosse fantástica, mas sem exagero, sem Ninho Pássaro, sem aqueles estádios que eram a marca da Olimpíada. Acho que a gente entrega a melhor Olimpíada como evento, celebração, não porque é a mais luxuosa. Isso foi Pequim. A grande marca da Olimpíada do Rio, pelo menos o que sempre comparei, é com Barcelona. Quero que as transformações do Rio sejam tão impactantes quanto Barcelona. As Olimpíadas sempre foram uma chance de mudar a cidade.
A economia em arenas gerou críticas de atletas e federações esportivas. Como conciliar os interesses?
A Federação de Natação reclamou das colunas que colocamos dentro do Estádio Aquático. Não ficaram felizes, mas tiveram que engolir. Economizamos R$ 50 milhões. Entre a reclamação e os R$ 50 milhões, ficamos com os R$ 50 milhões. Mas há uma pressão muito grande. Há um certo descrédito no Brasil, na nossa capacidade, que é compreensível pelo nosso histórico. Agora, temos que diferenciar o que legítimo e o que não é. Não somos obrigados a atender tudo que eles querem.
O senhor também prometeu uma Olimpíada dentro do orçamento. O custo do Velódromo e do Centro de Tênis já aumentou ao menos R$ 25 milhões por conta de aditivos.
Estamos com os custos todos contidos. Se você for olhar os orçamentos das arenas, são basicamente os mesmos. Houve aditivos no Centro de Tênis e no Velódromo, mas dentro daquilo que a legislação permite, dentro dos 25% de aumento. Em alguns lugares, a gente até diminuiu o valor, compensou esse custo. Estamos aqui no Parque Olímpico. Está tudo pronto.
O contrato da obra Parque Olímpico previa que ela estivesse pronta um ano antes dos Jogos. Isso não ocorreu.
Houve um momento em que o Comitê Organizador da Olimpíada nos pediu para atrasar a entrega do parque e de algumas arenas. A Arena do Futuro, do handebol, está pronta há meses e só foi inaugurada no fim de semana passado. Independentemente disso, eu não acho que tudo tinha que ficar pronto um ano antes. Para quê? Para ficar um ano antes pagando ar-condicionado e segurança? Isso é um exagero do comitê organizador. Em Londres, meses antes, não estava tudo entregue. Havia, aliás, poucas coisas estavam entregues. Por que tem toda essa exigência com o Brasil?
Uma perícia do Instituto de Criminalística já apontou falhas no projeto da ciclovia que desabou, causando a morte de duas pessoas. Uma das empresas responsáveis pela obra, a Concremat, monitora obras da Olimpíada. O que acontecerá com ela?
Há um relatório preliminar que confirma aquilo que os engenheiros da prefeitura já me diziam, mas ainda estamos aguardando estudos. Quando definido e confirmando-se que a culpa é da empresa Concremat, ela vai ser declarada inidônea e vai ser proibida de contratar, de licitar, de participar de qualquer coisa do município.
E os contratos que ela tem hoje?
Serão cancelados. Ela tem pouca coisa. Não tem nada de execução na Olimpíada. Ela tem gerenciamento. Agora, eu não estou dizendo que isso vai acontecer, até porque eu posso estar aqui agindo contra o interesse do município ao dizer isso. Eles podem usar isso depois dizendo que eu declarei antes. Tem todo um processo legal em que se apura a responsabilidade através de laudos, não da opinião do prefeito. Ela tem o direito a defesa até que a prefeitura decrete inidoneidade. Caso a culpa se confirme, como parece que vai se confirmar –era deles a responsabilidade do projeto executivo –, corto o pescoço, inidoneidade.
Qual a responsabilidade da prefeitura e do senhor, pessoalmente, sobre o caso?
Eu assumo todos os erros da prefeitura. É meu dever. É óbvio que houve erros. Contratar também significa pagar e fiscalizar. Estabelecer sistemas de controle. Na origem, a falha é do projetista lá da Concremat. A segunda falha é do município de não ter identificado o problema. Então é óbvio que, na minha opinião, também há uma falha do município, que também está sendo apurada.
A operação Lava-Jato já apontou corrupção em dois projetos da Olimpíada: Porto Maravilha e Linha 4 do Metrô. O procurador federal Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da operação Lava-Jato, afirmou que há mais projetos da Olimpíada sob investigação. Há corrupção nas obras da Olimpíada? Teme que a Lava Jato comprometa a Olimpíada?
Eu estou respondendo essa pergunta há dois anos. Para a Olimpíada, eu não tenho nenhum temor. Também desconheço casos de corrupção. O que eu ouvi falar é de uma delação feita por uma empresa, a Carioca Engenharia, que pagou ao deputado Eduardo Cunha, hoje ex-presidente da Câmara, e ao vice-presidente da Caixa Econômica Federal para liberação de recursos de um fundo do FGTS [Fundo de Garantia por Tempo de Serviço] para uma obra. Mas não tem nada a ver com a prefeitura. Parece que ele agia assim em outros projetos financiados pelo FGTS. Tomara que apurem tudo e tomara que prendam os responsáveis. O que posso garantir é que contra o projeto Porto Maravilha, executado na cidade do Rio de Janeiro, que teve um leilão, contra esse projeto, não há qualquer suspeita. Ele caminha muito bem, obrigado.
Formou-se um consenso na população de que não se faz obra do Brasil sem corrupção. O senhor concorda como essa avaliação?
Eu concordo que a população tem essa impressão. Aliás, acho que é uma impressão, na maior parte das vezes, mais do que justificada. Mas não concordo que aconteça em todas as situações. Não acontece aqui. Eu trabalhei com a Odebrecht aqui no Parque Olímpico, no projeto de revitalização da região portuária. Foi uma empresa excepcional. Fez as coisas muito benfeitas. Ninguém aqui pediu nada a eles, nem eles levaram nada. Isso aconteceu com várias dessas empresas envolvidas na Lava Jato: OAS, Andrade Gutierrez, etc. Eu quero reafirmar que as obras das Olimpíadas não repetem o padrão de corrupção. Você não tem aditivos grandes, você não tem perda de prazo. Essas obras todas da Lava Jato têm aditivos malucos. Boa parte delas não terminou, ainda estão em execução. Tudo é muito diferente do que a gente está fazendo aqui. Aqui está tudo no prazo, com muita transparência, com fiscalização muito grande desde o início. Aqui não aconteceu. A percepção da população é compreensível. Você ouve todo dia histórias cabeludas, mas não se pode generalizar.
Por que seu nome aparece na planilha da Odebrecht apreendida na Lava-Jato?
Quem tem que explicar é a empresa, porque a planilha é dela. Se você pegar uma planilha na minha casa, eu te explico. Estavam lá eu e mais 346: governador Geraldo Alckmin, senador José Serra, Aécio Neves, ex-prefeito Cesar Maia, governador Garotinho. Tem a torcida do Flamengo, quase todos os políticos da nação. O que eu posso te afirmar é que todas as prestações de contas de minhas campanhas foram devidamente aprovadas. Em 2012, minha campanha custou R$ 23 ou R$ 24 milhões. Disso, R$ 20 milhões vieram do PMDB nacional, que recebeu doação da Odebrecht. Muito provavelmente, a empresa pode, sim, ter ajudado na minha candidatura indiretamente. Eu imagino que seja isso. Se for outra coisa, quem tem que dizer é ele.
O senhor falou de transparência na Olimpíada, mas a prefeitura por anos barrou a divulgação de contratos de obras olímpicas. Seus aliados também trabalharam para barrar a criação da CPI da Olimpíada da Câmara dos Vereadores. Por quê?
Em relação aos contratos, vocês têm toda razão. Já publicamos os contratos na internet, mas só isso não vai resolver a corrupção. Na Copa do Mundo, estava tudo publicado na internet e, pelo jeito, teve muita confusão. Em relação à CPI, digo uma coisa: fui deputado, fui parlamentar. Uma CPI é uma decisão do parlamento. Em geral, elas têm um objetivo político. Houve um pedido de CPI. O presidente da Câmara entendeu que não havia fato indeterminado para abrir a investigação, porque não há. Querem abrir a CPI citando a obra do metrô, que não é da prefeitura, e uma corrupção na Caixa Econômica Federal. Depois, a Justiça entendeu que tinha que abrir a CPI, e a CPI está aberta. Agora, eu lhe confesso que a capacidade de investigação nesse ambiente político é muito pequena. Você não tem nenhuma denúncia concreta ou nenhuma denúncia contra as obras da prefeitura para a Olimpíada. Tendo uma denúncia, acho que é sempre válido investigar. Mas qual é a denúncia? Qual é o fato concreto? Algum empreiteiro disse que pagou o prefeito por alguma obra? Alguém descobriu um superfaturamento num determinado item? Acho que não. Todas as obras são, na maioria, privadas. As que não são privadas já foram aprovadas por tribunais de contas. Na obra que deu problema [Parque de Deodoro], a CGU [Controladoria Geral da União] bloqueou os recursos antes de a obra estar pronta. Tem muito controle.
A PGR (Procuradoria Geral da República) pediu que o senhor seja investigado por supostamente ter maquiado dados de uma CPI na Câmara Federal para favorecer Aécio Neves. O que senhor tem a dizer?
Isso é para você ver como minha vida é dura. Eu fui um deputado importante e me relacionava com o então governador Aécio Neves. O que eu posso afirmar é que quem tem que explicar se tem necessidade de maquiar dados é ele, porque supostamente ele que teria pedido isso. O que eu posso garantir é que ele jamais me pediu isso. Os dados citados são do Banco Rural. Eles vêm do Banco Central. Não é a CPI que traz os dados. Essa história foi uma ilação do senador Delcídio do Amaral [feita em delação]. A partir do momento que ele falou, tem que investigar. Tenho muita tranquilidade em relação a isso, mas não é uma investigação sobre minha conduta minha. É sobre a conduta do senador Aécio Neves, então governador de Minas Gerais. É um pouco isso: você, quando está em posições de poder, acaba tendo que dialogar com pessoas que, às vezes, estão envolvidas nas coisas. Não é uma acusação direta a mim. Até quando eu falei com o presidente Lula naquela conversa de extremo mau gosto da minha parte – uma conversa privada, mas de extremo mau gosto –, ninguém estava tratando do meu tríplex, do meu sítio. Eu converso com essas pessoas, dialogo. Agora, não tem nenhuma acusação contra a prefeitura.
Nessa conversa grampeada, o senhor afirma que é “um soldado” do ex-presidente Lula. Dias depois, liberou seus secretários para irem a Brasília votarem pelo afastamento de Dilma. O senhor mudou de posição?
Aí que você vê que eu era soldado, não era general. Soldado não manda nada. Reconheço que o presidente Lula ajudou muito o Rio. Digo também que, quando convive com as pessoas, estabelece relação pessoal. Eu vi aquela condução coercitiva do Lula e acho que houve um exagero. Acho que ele deve satisfações à Justiça de todos os seus atos, mas houve um certo exagero. Quiseram fazer uma operação que tivesse mais holofotes do que qualquer coisa. Acho que ele devia ter sido notificado a comparecer para prestar depoimento. Ele não é um fugitivo, não é uma pessoa que tem interesses desconhecidos. Eu fiquei com muita pena da situação pela qual ele passou. Estabeleci com ele uma relação pessoal e liguei para ele para me solidarizar, ser gentil numa conversa essencialmente privada, em que nada de ilegal é dito. Não há qualquer crime ali no que eu digo. Mas eu digo um monte de besteira, de piada de mau gosto. Infelizmente, foi parar na imprensa. Eu fico com vergonha. Eu tenho dois filhos pequenos. Vivo dizendo para eles não falarem palavrão, aí daqui a pouco eles descobrem uma conversa minha com o Lula cheia de palavrões. Já me desculpei por isso. Sobre Lula, tenho muita gratidão. Acho que ele foi um excepcional presidente e ajudou muito o Rio de Janeiro. Liguei ali como uma forma de gentileza.
O senhor disse que o presidente Lula ajudou muito o Rio. Ele tem direito de se decepcionar com o senhor e a bancada carioca na Câmara, que votou pelo afastamento de Dilma?
Acho que a decepção dele deve ser com a presidente que nós dois apoiamos. Tanto o presidente Lula quanto eu. Apesar de ser muito correta, muito decente, Dilma não teve a capacidade política de construir uma aliança, de se sustentar, de dialogar, inclusive com seu partido. Mas eu tomei uma decisão: a partir dessa gravação com o Lula, a melhor coisa é não falar de política nacional. As pessoas fazem uma certa gozação, mas eu tenho o melhor cargo do Brasil, que é ser prefeito do Rio. Tenho uma Olimpíada para fazer. Vou me concentrar nisso aqui. Isso aí vocês perguntem para os analistas políticos. Eu não sou comentarista político. Se eu puder, não volto a Brasília até 31 de dezembro, que é quando eu tenho que sair daqui. É um ambiente muito ruim. Eu fui deputado federal em um momento em que o Brasil avançava, as medidas eram aprovadas. Prefiro não ficar de comentarista de impeachment de ninguém, não.
O senhor não foi a Brasília nem para receber a tocha olímpica. Por quê?
Eu não fui ver a tocha em Brasília porque eu não ia mesmo, porque eu não estava me programando para ir. Eu tinha programado ir a Atenas. Teve o acidente da ciclovia, eu voltei. Ao contrário da maioria dos políticos brasileiros, eu tenho uma coisa chamada “semancol”. Eu percebi que, neste momento difícil do Brasil e principalmente depois daquele acidente da ciclovia, eu não poderia ter voltado [a Atenas]. Não voltei porque acho que as pessoas me querem dedicado aqui. Tem muita gente aí fazendo festa por conta da Olimpíada. Já a prefeitura tem que entregar. Isso aqui deu muito trabalho para fazer. Estou me dedicando, trabalhando para fazer as coisas direito. A cidade está em transformação. Vou pegar a tocha quando ela chegar aqui na cidade. Vai ser um momento emocionante.
Como está sua relação com a presidente Dilma depois da votação do impeachment dela na Câmara?
Essas perguntas são feitas como se ela fosse minha namorada, minha esposa, minha amiga. Ela é a presidente da República, eu sou o prefeito da cidade. A relação institucional continua. Ela está absolutamente normal. Ontem eu tive uma reunião sobre Olimpíada com o ministro do Esporte, Ricardo Leyser. Enquanto eles forem o governo, se forem o governo até o fim, faremos Olimpíada juntos.
O senhor gostaria de ter outro governo à frente do Brasil?
O que eu preferia é que o Brasil estivesse avançando, que estivesse com a economia andando, que não houvesse tanto desemprego, que não tivesse uma crise política. Eu fico muito triste pelo fato de a presidente Dilma estar sofrendo o processo de impeachment. Não estou discutindo mérito, mas acho muito ruim. Também tenho muita dó de o governador Pezão estar com câncer neste momento. Isso tudo me deixa entristecido. Quem ficaria feliz em ver essa situação?
O senhor já conversou com o vice-presidente, Michel Temer, sobre a Olimpíada?
Falei com ele no último sábado [dia 30 de abril], ele me ligou. E me disse que eu garantisse ao presidente do Comitê Olímpico Internacional que caso ele assumisse a presidência da República ele manteria os seus compromissos com os Jogos Olímpicos, que faria aquilo tudo que foi assumido pelo governo federal. E tenho certeza de que assim será se acontecer de fato o afastamento da presidente Dilma.
O que achou do afastamento de Eduardo Cunha da Câmara dos Deputados?
Ordem judicial não se discute. Ordem judicial se cumpre.
Governo federal deixou a desejar na atuação no Rio-2016?
Eu quero ter uma visão otimista da Olimpíada. A gente tem um Brasil cheio de problemas, mas é um Brasil que produz, que faz, que tem muito dinheiro privado. O Parque Olímpico está pronto, e a maior parte dos recursos empregados veio da iniciativa privada. Aquilo gerou empregos e um enorme legado para a cidade. Acho que a gente tem de ser otimista.
O clima político do país pode contaminar os Jogos Olímpicos? O senhor espera protestos durante os Jogos?
Acho que não. Acho que as pessoas sabem diferenciar. O evento é contaminado quando tem picaretagem. Por que as pessoas protestaram tanto contra a Copa um ano antes? Porque a pessoa via o estádio começando com cem e terminando com 200, 300. Na Olimpíada, as pessoas não veem isso. Estão vendo as coisas caminhando no custo, no prazo, sem escândalo. Não estou dizendo que não tem cobrança. Mas se as pessoas estão vendo que as coisas estão caminhando, aí elas não protestam.
Vale a pena investir quase R$ 40 bilhões para organizar uma Olimpíada?
Quando você faz essa conta, você está levando em consideração o dinheiro do Comitê Organizador, da venda de ingresso, do legado e todo o dinheiro privado. A conta da Olimpíada é, na verdade, de R$ 3 bilhões. Quando você vê a matriz de responsabilidade, são R$ 7 bilhões. Disso, 60% são privados. O que resta para os governos pagarem é algo em torno de R$ 3 bilhões. Vamos fazer uma Olimpíada em que o gasto total com arenas é o mesmo que Londres teve com apenas um estádio. Um estádio em Londres custou nossa Olimpíada inteira. Eu nunca imaginei que a gente conseguisse fazer uma Olimpíada tão barata. A Olimpíada do Rio custou R$ 3 bilhões do imposto que a população paga. BRT, metrô, revitalização de áreas da cidade. Tudo isso não é para a Olimpíada. A Olimpíada é uma boa desculpa para você fazer as coisas. Não teve uma Olimpíada na história tão barata quanto a do Rio. Desses R$ 3 bilhões, a prefeitura do Rio só gastou algo em torno de R$ 700 milhões, durante oito anos. Em oito anos, com saúde e educação, gastamos R$ 65 bilhões. Ou seja, R$ 700 milhões são um pouquinho mais que 1% do que a gente gastou em saúde e educação. Não me arrependo de nada. Acho que a gente conseguiu construir um modelo de Olimpíada que deve dar orgulho. Se a gente achar que no Brasil tudo é ruim, a gente não vai para frente. Há muita coisa ruim, mas tem muita coisa boa acontecendo.
As obras da prefeitura podem estar indo bem, mas há promessas do governo estadual que não serão cumpridas. A Baía de Guanabara é um exemplo. Isso pode comprometer a Olimpíada? Pode comprometer seu futuro político?
Primeiro, com relação ao meu futuro político: eu queria muito ser prefeito do Rio. Me elegi prefeito e termino meu mandato no dia 31 de dezembro. Meu futuro político são os próximos sete meses. Terminar meu mandato: é nisso que eu penso, é nisso que eu me dedico. Acho que é uma posição muito honrosa. Com relação à crise do Estado e do governo federal, a gente já assumiu muita coisa. Ficaram algumas porque não deu para assumir tudo. Esse Parque Olímpico não era para a prefeitura ter feito. Isso aqui era do governo federal e foi inteiro feito pela prefeitura. Eu não acho que a Baía de Guanabara é um problema olímpico. A Baía de Guanabara é uma oportunidade perdida de você recuperar a razão de ser dessa cidade e dessa região metropolitana para a população usar. Para a Olimpíada, em um mês que não chove, não tem problema nenhum. A limpeza da baía é uma oportunidade perdida. Só isso.