Olimpíadas 2016

Artigo do NY Times critica poluição no Rio e pede provas em outro país

AP Photo/Silvia Izquierdo
Membros da equipe de vela da Áustria reclamam da qualidade das águas do Rio de Janeiro (Lagoa Rodrigo de Freitas, Baía de Guanabara e praias de Copacabana e Ipanema) e teme pela saúde dos atletas na Olimpíada de 2016 imagem: AP Photo/Silvia Izquierdo

Do UOL, em São Paulo

A poluição da Baia de Guanabara, que irá sediar diversas provas aquáticas durante os Jogos Olímpicos, segue como tema da imprensa internacional.

Nesta sexta-feira (06), um artigo sobre as condições do local foi publicado pelo jornal New York Times. No texto, escrito pela ex-nadadora Lynne Cox, a Baia de Guanabara é apontada como um local com alto índice de poluição.

“Nadadores de maratonas, velejadores e triatletas precisarão competir nas altamente poluídas águas da Baia de Guanabara e da praia de Copacabana. Qualquer atleta que entrar em contato com essas águas tem alta probabilidade de ficar doente. Membros da delegação norte-americana juvenil tiveram casos de diarreia, vômitos e outros sintomas virais após treinarem nas proximidades do local. Isso que eles só tiveram um “contato incidental” com a água. Nadadores de maratonas e triatletas irão ingerir essa água – e as consequências podem ser fatais”, escreveu a ex-atleta.

Lynne, que era nadadora de longas distâncias antes mesmo da modalidade ser integrada às Olimpíadas, revelou que já passou por uma situação semelhante no período em que ainda competia. De acordo com a norte-americana, ela teve problemas intestinais após nadar uma prova realizada no Rio Nilo em meio a dejetos de esgoto, ratos apodrecidos e cachorros mortos. Após 15 milhas, a atleta começou a passar mal e precisou ser hospitalizada. Na sala de emergências, ela recebeu a informação de que estava seriamente desidratada por não ter ingerido água durante a prova, o que poderia ter resultado em sua morte.

“Eu fico preocupada que os treinadores e atletas olímpicos que estão indo ao Brasil não estejam bem informados sobre esses riscos. O esgoto da área metropolitana do Rio, onde moram 12 milhões de pessoas, seria o suficiente para encher 480 piscinas de tamanho olímpico, e isso flui para a Baia de Guanabara todos os dias. E essa água também acaba indo para a praia de Copacabana, onde será realizada a prova de maratona aquática”, salientou Lynne.

Ainda segundo o artigo, a agência de notícias Associated Press contratou o professor da Universidade Feevale, Fernando Rosado Spilki, para testar as condições da água em todos os locais que ocorrerão provas. Especialista em qualidade da água e virologista, o professor atestou uma condição alarmante.

“Os níveis de vírus identificados são 1.7 milhão mais elevados em comparação aos que seriam considerados perigosos em uma praia na California. A quantidade de coliformes fecais que estão nas águas brasileiras são extremamente altos”, teria relatado o professor a autora do artigo, acrescentando que “muito provavelmente, pessoas que nadarem nesses locais serão infectadas”.

No artigo, a ex-atleta ainda traz informações apresentadas por Kristina Mena, uma especialista em gerenciamento de risco para vírus encontrados na água. Segundo Kristina, caso os atletas ingiram uma quantidade equivalente a três colheres de chá, a chance de infecção chegará a 99%. A autora do artigo ainda aponta que o Comitê Olímpico Brasileiro estava ciente das condições dos locais e, em 2009, havia se comprometido a instalar oito estações para tratamento de água, mas apenas uma foi entregue até agora.

“Questionado sobre as instalações, o secretário do Rio declarou que elas não iriam acontecer. Os esforços da cidade não foram em reduzir a poluição. Ao invés disso, eles tentaram prevenir que mais lixo entrasse nos locais ao instalar boias, redes e outras medidas completamente ineficientes para resolver a ameaça causada pelas bactérias e vírus”, relatou Lynne.

A colunista do New York Times ainda ressalta que, faltando menos de 100 dias para os Jogos Olímpicos, o Brasil enfrenta sérios problemas políticos desencadeados pelo processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o que atrapalha os planos do governo de entregar os “Jogos verdes por um planeta azul”.

“Atletas não deveriam ter que nadar em meio ao esgoto para perseguir seus sonhos olímpicos. Algo precisa ser feito para protegê-los”, salientou Lynne, que aumentou o tom das críticas ao cobrar que o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, cumpra sua responsabilidade de garantir que as provas sejam disputadas em condições “seguras e justas”.

“Os eventos aquáticos precisam ser transferidos para águas limpas – e isso não pode ser encontrado no Brasil, então eles precisarão transferir para outro país. Enquanto não há nenhum precedente moderno para que uma Olimpíada disputada em dois países, e o Comitê possa proibir isso, talvez uma mudança seja a única solução ao invés de cancelar essas provas. Isso poderia quebrar os sonhos de atletas que treinaram a maior parte de suas vidas para chegar aos Jogos Olímpicos. Eles merecem a chance de competir em um lugar cuja água não irá feri-los”, pontuou a ex-atleta.

Lynne encerra o artigo ressaltando que os atletas estão confiando nas decisões da equipe norte-americana de natação e no Comitê Olímpico dos Estados Unidos.

“Essas organizações, além do Comitê Olímpico Internacional, deveriam estar entre as vozes que estão demandando uma solução”, finalizou. 

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