Olimpíadas 2016

Na Record, Ricardinho se vê isento para comentar ex-colegas na Olimpíada

Antonio Chahestian/Divulgação/Record
Ricardinho será comentarista de vôlei da Record durante os jogos do Rio-2016 imagem: Antonio Chahestian/Divulgação/Record

Juliana Alencar

Do UOL, em São Paulo

Quase 10 anos após seu afastamento da seleção às vésperas da estreia no Pan-07, Ricardinho já se habituou a ser questionado se guarda mágoa do técnico Bernardinho. Prestes a estrear como comentarista de vôlei da Record, o atleta reafirma que a crise foi superada e que, hoje, se sente tranquilo para eventualmente criticar o trabalho do ex-desafeto. Bernardinho segue para sua quarta Olimpíada liderando o selecionado masculino.

"Me sinto isento, totalmente à vontade, em fazer alguma observação mais crítica ao trabalho dele em quadra. Se eu precisar criticar, farei. Estarei lá para comentar o jogo que eu vir. Espero que ninguém intérprete isso como rusga do passado. Mas se o fizerem, seremos os primeiros a rir disso", afirma o levantador, negando qualquer ressentimento com o treinador.

"O episódio do corte foi totalmente superado, senão nem sequer teria ido a Londres. Na época, houve um exagero da imprensa. O que ocorreu, simplesmente, foi um desgaste natural numa relação pela convivência. Acontece, é algo comum. Mas isso é uma coisa que ficou lá atrás. Já não é uma questão entre nós".
 
A discussão foi reacendida no ano passado, quando o ex-colega de seleção, Giba, contou em sua biografia que o atleta foi cortado do Pan do Rio por indisciplina. Segundo o depoimento do atacante, Ricardinho teria se recusado a se apresentar ao grupo na data determinada pela CBV.  O jogador tinha acabado de voltar da Liga Mundial, no qual foi eleito o melhor da competição.
 
"Não li o livro, nem o trecho, então não posso comentar sobre o assunto. Soube do conteúdo por outras pessoas. Acho que cada um escreve o que quer. O que é fato é que a situação estava insustentável. E que Bernardinho tomou a decisão por isso". Por causa do episódio, o levantador da campanha de ouro em Atenas-04 ficou de fora dos Jogos em Pequim, em 2008.  Mas disputou os Jogos olímpicos de Londres, em 2012, quando saiu de lá com a medalha de prata. 
 
FIVb/Divulgação
Ricardinho e Giba comemoram a vitória na Liga Mundial 2007. Pouco depois, o levantador foi desligado do grupo imagem: FIVb/Divulgação
 
Levantador se diz 'chato da organização'
 
Não é um mea-culpa, mas Ricardinho admite não ser uma pessoa tão fácil de lidar. E cita uma característica pessoal para justificar isso: a mania de organização. "Fui pai cedo, sempre fui um cara muito disciplinado. Não gosto de ambiente desorganizado. Tinha a fama de ser o chato da limpeza nas concentrações", diverte-se o atleta. "Muitos colegas 'sofreram' com isso. Eu realmente me incomodava com coisas jogadas pelo quarto. Joelheira, camiseta…  Eles chegavam e eu estava lá, organizando as coisas. Tinha um stress, mas depois virava uma piada. Era: 'Lá vem o Ricardinho limpando'. Virou uma brincadeira".
 
Ricardinho assinou no contrato com a Record no início do mês. Ele começará a gravar pilotos, como são chamados os testes antes da estreia, nas próximas semanas, na sede da emissora em São Paulo. Entusiasmado, tem encarado a cobertura para a TV como sua terceira olimpíada. E acredita que ficará ainda mais ansioso quando receber a credencial que lhe dará acesso ao parque olímpico.
 
"O fato de eu ainda ser atleta torna a situação mais interessante, porque me sinto como se eu pudesse estar lá. Vou estar mais quente, acho que até meio ofegante", acredita ele, que hoje atua no Copeltelecon. "Não vai ter um distanciamento de quem já parou."
 
Ricardinho está otimista com o resultado do vôlei na Rio-2016. E projeta que, independentemente do resultado, Bernardinho deva se manter na seleção. "Acho que cinco seleções estarão ali disputando o pódio: Brasil, Rússia, França, Estados Unidos e Polônia. Vejo o Brasil competitivo, com um grupo experiente, não creio que houve uma renovação. Lucão, Escadinha, Wallace, Lucarelli, são atletas com experiência olímpica. Mas é uma situação completamente diferente que um mundial, uma competição curta, um 100 metros. A questão física, a capacidade de reação contam muito", observa.
 
E espera que, caso o Brasil chegue à final, não repita Londres, quando perdeu duas chances de matar a partida e foi derrotada, de virada, para Rússia, por 3 sets a 2. O jogo é, para ele, o momento que ficou da sua despedida, como atleta, dos jogos olímpicos. 
 
"A memória é da derrota na final. Mas claro que a experiência em si do evento é especial. Fui a duas olimpíadas e o hiato de oito anos entre elas me fez viver a experiência de maneiras distintas. São dois Ricardinhos diferentes. O de Atenas era um, o que chegou a Londres era outro. Contribuí para equipe de maneiras diferentes nas competições". 

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