Levantadora da seleção precisa de um parto normal para jogar a Rio-16

Daniel Brito
Do UOL, em Brasília (DF)

A uma semana, ou talvez menos, de ser mãe pela segunda vez, ela ainda se lembra de quando ainda carregava a primogênita Andressa, hoje com 10 anos, na barriga e acreditava que nunca mais conseguiria voltar a jogar vôlei de alto nível. Agora, à espera de Ana Vitória, ela crê exatamente no inverso do que imaginava uma década atrás.

Desde janeiro, Fabíola prepara-se psicologicamente para retornar às quadras após o nascimento de Ana Vitória. Os prognósticos mais otimistas dão conta de que a segunda herdeira da jogadora virá em 10 de maio e de parto normal. Em se confirmando esta data, ela tem até 30 dias para estar em boa forma física e apresentar-se a José Roberto Guimarães, técnico da seleção feminina de vôlei, que se prepara para a Olimpíada.

Guimarães a incluiu na lista de 19 jogadoras convocadas para a equipe nacional. Apenas cumpriu uma promessa feita a Fabíola em janeiro, quando ela ainda estava no quarto mês de gravidez. Em contato telefônico, o treinador disse que gostaria de contar com a levantadora na equipe que disputará o inédito tricampeonato olímpico no Rio-16.

Ela treina com bola e faz musculação

Desde então, Fabíola passou a treinar diariamente com bola em Taguatinga, Distrito Federal, onde mora sua família. Ela também se dedica a musculação e, principalmente, pilates. Tudo isso nas dependências do Sesi, local onde jogava o Brasília Vôlei, time da capital que disputou a Superliga feminina, e onde Andressa estuda.

“Faço esse trabalho de musculação, e o treino com bola, pensando na Olimpíada. A Olimpíada é meu segundo objetivo. Meu primeiro objetivo hoje é que minha filha, Ana Vitória, nasça com saúde. O pilates, eu faço para que possa ter parto normal, já pensava nisso antes mesmo da convocação, pela experiência que já tive, que foi muito boa. E eu quero ter de novo. Então, faço pensando nela e faço pensando na Olimpíada do Rio-2016”, explicou Fabíola.

A única maneira de a atleta, nascida em Ceilândia, Distrito Federal, permanecer no grupo de 12 jogadoras na Rio-16 é em caso de parto normal, daí tamanha preparação. “Se ela nascer de cesariana, aí eu nem me apresento à seleção, porque serão 60 dias para retomar as atividades e, por isso, não daria tempo. Tudo vai depender do parto”, disse Fabíola.

De acordo com o obstetra e ginecologista Mauro Grynszpan, a atleta está fazendo tudo certo. Ele explica que a atividade física induz a produção de adrenalina e ocitocina, dois hormônios que induzem ao parto normal. O especialista acrescentou que se não houver nenhum problema no nascimento, Fabíola pode estar treinando em 15 dias.

Por que Fabíola é fundamental para seleção

A jogadora é importante para Guimarães na Olimpíada. Duas das quatro levantadoras convocadas têm poucas horas de voo no cenário internacional. Naiane, do Minas, tem apenas 21 anos, cinco a menos que Roberta, campeã da Superliga feminina deste ano com o Rio de Janeiro. A levantadora principal da seleção é Dani Lins, do Osasco. Fabíola seria a reserva de confiança do treinador.

“Acredito que fui lembrada na convocação pela minha história na seleção. Pela experiência também, já estou com 33 anos, passei pelo voleibol europeu. Tudo isso pesou para a convocação. Isso não me coloca lá dentro, entre as 12, isso vai depender muito do meu retorno”, interpretou Fabíola, que antes da gravidez havia acabado de iniciar temporada pelo Volero Zurich, da Suíça. 

Por experiência própria, ela sabe que tem condições de voltar em alto nível após um mês do parto. Foi assim logo após o nascimento de Andressa. Ela pôs fim àquele temor que tinha durante a gestação de não conseguir atuar nunca mais. Menos de um mês após dar a luz, ela já estava em quadra. De 10 anos para cá, Fabíola foi duas vezes eleita a melhor levantadora da Superliga feminina, prêmio que também faturou na Rússia, por onde atuou por dois anos, além de campeã do Grand Prix, do Pan-2011, da Copa dos Campeões com a seleção brasileira, entre outros títulos… Só não foi campeã olímpica em Londres-2012 porque o próprio José Roberto Guimarães a dispensou do grupo às vésperas dos Jogos. Agora, ele se empenha em transformá-la também em campeã olímpica.