Olimpíadas 2016

Baby vê o mesmo filme de Senna antes de toda luta desde a medalha em 2012

José Ricardo Leite/UOL
Rafael Silva, o Baby, vê o mesmo documentário antes de todas as lutas imagem: José Ricardo Leite/UOL

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Você já assistiu tantas vezes a um filme a ponto de decorar o roteiro e as falas? Rafael Silva, 28, já. Esse é, aliás, um dos pilares da preparação do judoca brasileiro, medalhista de bronze no peso pesado dos Jogos Olímpicos de Londres-2012. Favorito a uma das vagas na delegação que representará o país na Rio-2016, Baby vê o mesmo documentário antes de todas as lutas. A mania começou justamente em 2012 e faz parte da liturgia que o paranaense cumpre em busca de preparação mental para os combates.

O filme que acompanha Baby é o documentário “Senna”, coprodução de Brasil, Estados Unidos, França e Reino Unido, que foi dirigido por Asif Kapadia e lançado em 2010. A obra narra a vida do piloto brasileiro Ayrton Senna, tricampeão da Fórmula 1, que morreu em 1994. “Coloca no foco e ajuda”, disse o judoca em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. “Eu assisto sempre. Já sei até as falas”.

A escolha tem a ver com as características que Baby identifica em Senna: “Além de um ídolo nacional, era um cara que entrava para correr sempre com perfeição. Cada corrida era uma coisa única, e as pole positions eram mágicas. É como entrar para lutar sem ter medo de nada, se doar ao máximo e se entregar, mesmo. Ele se entregava para correr, e eu acho que esse é o grande exemplo”.

Até 2012, Baby, que tem 2,03 m e 150 kg, costumava ver lutas de MMA antes de entrar no tatame. O judoca buscou inspiração nas artes marciais mistas para tentar ativar a agressividade – ele sofria nos combates por ser calmo demais.

A tentativa de ser mais agressivo também influenciou o gosto musical de Baby. O judoca costuma ouvir rock pesado nos dias que antecedem combates. A playlist varia, mas sempre inclui sucessos de bandas como AC/DC e Iron Maiden.

“É porque eu sou muito calmo. Procurei ferramentas para tentar ativar a agressividade. É uma coisa que eu tinha dificuldade: ser muito passivo na luta e não entrar com muitos golpes. São coisas que me ajudaram a focar e melhorar nesses aspectos”, contou o atleta.

Nos dias de luta, Baby prefere a concentração à agressividade proporcionada pela música. O judoca se isola antes de entrar no tatame e põe para rodar no notebook o documentário sobre Senna. “Tem cara que leva o fone para a beira da área de competição, mas eu gosto de ficar na minha e conversar com meu técnico”, explicou.

Vai ser assim, com rock na véspera e o documentário nos dias de luta, que Baby conduzirá a reta final da preparação para a Rio-2016. O peso pesado liderou durante muito tempo o ranking nacional da categoria, mas perdeu muitos pontos por causa de uma lesão no ano passado e passou a ser ameaçado por David Moura – o país pode levar um atleta por categoria para os Jogos Olímpicos.

Judoca brincou de Lego e viu “Breaking Bad” para se recuperar de lesão

A lesão no ombro exigiu que Baby fosse submetido a uma intervenção cirúrgica e o afastou dos tatames por oito meses. A recuperação foi lenta e complicada – o judoca chegou a brincar com Lego e viu todas as temporadas da série “Breaking Bad” para passar o tempo.

Depois da recuperação física, Baby também teve de reaver a confiança. Em todo o ciclo para 2016 o judoca vinha sendo o mais constante da seleção brasileira. Quando voltou, sentiu novamente o sabor de ser derrotado no início das competições.

“Esse processo foi bem difícil: precisar de alguém para tomar banho ou fazer as necessidades básicas do dia a dia, desde colocar comida no prato até fazer fisioterapia naqueles momentos iniciais, quando você não consegue nem movimentar o braço. É algo bem doloroso, que dá muitas dúvidas se você vai conseguir voltar bem ou não. Se você não consegue nem mexer o braço, como vai voltar a lutar com os caras mais fortes da categoria?”, questionou o judoca.

Nas últimas quatro competições que disputou, Baby começou a retomar a rotina de bons resultados. Foram dois bronzes e dois ouros, rendimento que aproximou o paranaense da vaga olímpica. Ele ainda fará três torneios antes da Rio-2016.

“Acho que eu estou nuns 90%, já. Algumas coisas até melhoraram do que eu estava antes da lesão. Acho que o fato de ter lesionado foi para aprender algumas coisas, aprender o que meu corpo está dizendo para mim: se eu estou muito cansado, se eu estou lutando demais. Aprendi na marra, mas foi importante para me conhecer, mesmo”, encerrou Baby.

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