Atirador brasileiro critica estrutura e luta por treino em sede da Rio-2016
Guilherme CostaDo UOL, no Rio de Janeiro
Parte do cronograma de eventos-teste da Rio-2016, a Copa do Mundo de tiro esportivo, realizada no Parque Olímpico de Deodoro, virou motivo de preocupação com a estrutura para a modalidade nas Olimpíadas. Número 1 do ranking mundial e principal nome do Brasil no esporte, o paulista Felipe Wu, 23, criticou a iluminação do equipamento e iniciou uma luta para treinar lá antes dos Jogos.
“A iluminação não agradou a ninguém. A gente reclamou, mas não eles podem fazer nada. Foi um pedido da mídia para que a luz não atrapalhe nas filmagens. Então eles mudaram de amarelo para branco a luz dos alvos e não tem o que fazer”, explicou Wu, que compete na pistola de ar de dez metros.
A questão da iluminação é nevrálgica em uma modalidade como o tiro esportivo. Segundo Wu, a troca de lâmpadas amarelas por luz branca demanda acertos nas armas, nos óculos e nos filtros usados para auxiliar a visão. Por causa disso, o brasileiro pleiteia datas para treinamentos em Deodoro.
“O que eu espero é que em julho a gente possa treinar lá. Eu fiquei sabendo que o dono dos alvos não quer permitir isso – os alvos são alugados –, mas a minha briga a cada dia é encher o saco todo dia de Comitê Olímpico do Brasil e confederação para que a gente possa treinar lá. Isso vai ser muito importante. A única vantagem que a gente pode ter é essa”, disse o brasileiro. “Eu treinei um dia antes da competição na Copa do Mundo, não estava enxergando bem e não tinha o que fazer. Disputei a competição assim, e outros atletas reclamaram da mesma coisa: um pouco de sombra no alvo, pouca luz no alvo e muita luz no caminho até lá”, completou Wu, 16º colocado na Copa do Mundo.
A estrutura encontrada em Deodoro, na zona oeste do Rio de Janeiro, gerou críticas da CBTE (Confederação Brasileira de Tiro Esportivo) e da ISSF (Federação internacional de tiro esportivo, na sigla em inglês). O atraso na abertura do estande de finais chegou a cancelar a cerimônia de abertura do evento-teste, que seria realizada no dia 15 de abril.
A área de competição do tiro teve uma série de espaços improvisados para o evento-teste. O restaurante que atendia os atletas não tinha tomada até o dia 13 de abril, véspera do início da Copa do Mundo, o que impossibilitava a ligação de um refrigerador. Espaços de competição ainda não contam com ar condicionado.
“O estande de final não ficou pronto, o que é uma coisa chata para o país. Não tem ar condicionado, e no calor de Deodoro estava todo mundo sofrendo. Ontem [quinta-feira], numa prova de rifle, uma atiradora chinesa que foi campeã olímpica não conseguiu concluir porque começou a passar mal e teve vertigens e foi levada para a ambulância”, relatou Wu.
Segundo a CBTE, o atraso na conclusão do estande de finais deve-se a erros na obra original. Alguns espaços foram feitos com dimensões que não seguiam as especificações de projeto e precisaram de reconstrução.
A obra do CNTE (Centro Nacional de Tiro Esportivo) foi realizada pela construtora Queiroz Galvão. O custo está no orçamento do Parque Olímpico de Deodoro, que consumiu R$ 643,7 milhões de recursos federais, mas R$ 130 milhões estão bloqueados pela Justiça por irregularidades na documentação de serviços.
Houve quatro visitas técnicas no CNTE em 2016 para minimizar erros. O aparato ainda não está 100% concluído, mas CBTE e comitê organizador dos Jogos não consideram que as obras estejam fora do cronograma. A entrega está prevista para o segundo trimestre deste ano – os Jogos têm início previsto para o dia 5 de agosto.