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Como um adolescente carrega o peso de ser exemplo de atleta aos 18 anos?

Divulgação / World Archery
Marcus Vinicius D'Almeida, aos 18 anos, serve de exemplo para atletas da modalidade imagem: Divulgação / World Archery

Fábio Aleixo e Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

Aos 18 anos, Marcus Vinicius D’Almeida é o maior nome de um esporte no país-sede das Olimpíadas. Promessa do tiro com arco, o carioca que acabou de entrar na maioridade lida diariamente com uma rotina pesada de treinos, a pressão pelo investimento que recebe e a expectativa de um bom resultado nos Jogos. Como ele lida com isso? Tentando ser um exemplo, mesmo com pouca idade, do tiro com arco.

“Eu entrei no esporte em 2010 e diziam que o Brasil nunca ia ganhar da Coreia. Eu fui lá e ganhei de um coreano na base. Queria ganhar o Mundial de 2015 para calar a boca de todos. Para o pessoal não pensar em ir e sim ganhar medalha. Ninguém vai ter o luxo que eu tenho se não ganhar medalha. Os meninos viram eu ganhando de um coreano na semifinal e isso serviu para acordar eles”, diz Marcus Vinicius, em entrevista ao UOL Esporte, explicando como venceu o Mundial de base de maneira histórica (e inédita) em 2015.

Marcus conheceu o tiro com arco aos 11 anos ao visitar o CT da confederação em Maricá (RJ), onde vivia com os pais. Um talento no esporte, ele foi prata nos Jogos da Juventude, prata na Copa do Mundo e bronze no Pan de Toronto. O ouro no Mundial de base em 2015 é só um dos grandes feitos do jovem, que no fim de janeiro ainda bateu o próprio recorde brasileiro em uma prova em São Paulo.

Ele ainda não está nem no auge da sua carreira, mas já pensa em coisas como fazer história e deixar um legado. A preocupação com o quem vem pela frente e com o legado que deixa para quem está atrás é incomum na idade de Marcus Vinicius.

O arqueiro não adota uma postura passiva, como um atleta que acata o que lhe é oferecido. Pelo contrário. Ciente de seu status dentro da modalidade no país, ele toma as rédeas da carreira e fala até em colocar dinheiro do próprio bolso se o investimento atual minguar depois dos Jogos do Rio.

“Não posso remar sozinho num esporte que tem cartolas, sou um mero atleta. Tem de vir alguém junto comigo das pessoas que mandam. Minha meta é não deixar morrer até 2020. É ter um time, conseguir a vaga olímpica e ir a Tóquio com um time. De um jeito ou de outro vai acontecer. Vai existir de alguma forma um CT meu ou de um amigo meu que vai fazer o Brasil ser importante. Gosto demais deste esporte, o que estamos fazendo pelo esporte, eu e todos da seleção, nós trabalhamos muito por isso”, disse Marcus, elencando as conquistas de seus colegas de time.

Aprender a descansar faz parte do trabalho

Tive poucas mudanças de 2015 para 2016. A intensidade de treino é a mesma, só que estou mais maduro, me entendendo melhor. Nem tudo é só treinar. Eu era cabeça dura achando que só tinha de treinar. Fiquei doente um tempinho, mas vi um pouco como é bom ter descanso. O tempo de descanso vai ser o mesmo que eu tinha antes, mas a consciência é outra. Antes eu encarava como uma coisa ruim, como se estivesse parado. Era incômodo. Pensava: ‘Tem um coreano fazendo 300 mil pontos a mais’, mas não é assim.

Calendário planejado para ser exemplo

Meu foco em 2015 foi o Mundial de base. Era meu último ano antes de cadete [uma categoria antes do adulto]. Era a última chance de trazer um Mundial para o Brasil e acordar todos meninos que vêm atrás. Eu entrei no esporte em 2010 e diziam que o Brasil nunca ia ganhar da Coreia. Eu fui lá e ganhei de um coreano na base. Queria ganhar o Mundial de 2015 para calar a boca de todos. Para o pessoal não pensar em ir e sim ganhar medalha. Ninguém vai ter o luxo que eu tenho se não ganhar medalha. Os meninos viram eu ganhando de um coreano na semifinal e isso serviu para acordar eles.

Para fazer tiro com arco funcionar, vale até investir

Não posso remar sozinho num esporte que tem cartolas, sou um mero atleta. Tem de vir alguém junto comigo das pessoas que mandam. Minha meta é não deixar morrer até 2020. É ter um time, conseguir a vaga olímpica e ir a Tóquio com um time. De um jeito ou de outro vai acontecer. Vai existir de alguma forma um CT meu ou de um amigo meu que vai fazer o Brasil ser importante. Gosto demais deste esporte, o que estamos fazendo pelo esporte, eu e todos da seleção, nós trabalhamos muito por isso.

Como é a estrutura hoje?

O que tem hoje é suficiente e super tranquilo. Você não precisa muito no arco. É um campo de futebol com um cavalete no meio. Além disso, preciso de academia e piscina. Agora, há um temor de que depois de 2016 diminua o número de participantes em termos de quantidade e qualidade.

Uma das lições foi não mudar expressão na hora de atirar

Desde que eu cheguei na seleção sempre tive técnicos estrangeiro. Tive três tipos de formações diferentes. O coreano estava quando eu era o bebê da seleção. Eu ficava em um canto treinando, atirando e atirando. Ele me deixava batendo cabeça. Foi quem me ensinou a gostar de treinar e me virar sozinho. O inglês me ensinou a ser frio, a não mudar de cara na competição. Sempre me deu esporro para não demonstrar emoções. O italiano trouxe um modelo diferente que usamos até hoje, de treinar por períodos. É 1h30 de treino e 20min de pausa. Ele era um cara muito divertido, mas que trabalhava demais com detalhes finos, câmeras. Gostava muito disso.

No Rio, meta é a 1ª vitória do Brasil na história 

Vou pensando no zero. Nunca ganhamos um combate em Olimpíada. Claro que quero pensar em medalha, mas quero subir esta marca, para ninguém se contentar em ficar abaixo disso. Não é impossível sair do zero para medalha, mas sair do zero para nono aumenta as chances para os próximos anos. Quero subir esta marca.

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