Chinês bad boy é superestrela da Olimpíada que já atrai holofotes no Rio
Guilherme CostaDo UOL, no Rio de Janeiro
Quando o nome dele foi anunciado pelo sistema de som do Riocentro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, uma comitiva o precedeu. A Olimpíada de 2016 nem começou, mas os cariocas podem conhecer - no evento-teste nesta semana - um superstar bem desconhecido por aqui. Torcedores e até jornalistas preenchiam o entorno com bandeiras e câmeras. Muitas câmeras. A liturgia de grande estrela do esporte mundial não é novidade para Lin Dan, 32. Dono de cinco títulos mundiais e atual bicampeão olímpico do badminton, o chinês é um personagem que transcende o esporte. Do passado bad boy à tatuagem em homenagem à avó, tudo que o asiático faz é notícia no país mais populoso do planeta.
Segundo a revista “Sports Weekly”, Lin Dan foi o segundo esportista que mais ganhou dinheiro na China em 2014 – amealhou US$ 4,8 milhões (R$ 17,8 milhões) em premiações e foi superado apenas pela tenista Na Li. O jogador é o principal ídolo do badminton atualmente, e a modalidade está entre as mais populares do país que tem 1,5 bilhão de habitantes. O evento-teste dos Jogos Olímpicos de 2016, que teve início na última terça-feira (24), já serviu para deixar clara a relevância disso.
“Lin Dan ganhou dois Jogos Olímpicos e cinco Mundiais. É uma das nossas grandes estrelas e um dos atletas mais conhecidos na China. É lógico que isso tem um impacto enorme e que ele tem um rosto conhecido no mundo olímpico. Por isso, é uma figura importante para disseminar a imagem do badminton”, disse Thomas Lind, secretário-geral da BWF (federação mundial de badminton, na sigla em inglês).
No mundo do badminton, Lin Dan tem status de estrela. “Poderia ser como um [Novak] Djokovic no tênis ou como um [Lionel] Messi no futebol. Não é só esforço, dedicação ou técnica. São coisas que não se pode ensinar. É engraçado, mas é um pouco de tudo. É a perfeição o que ele joga”, avaliou o atleta brasileiro Daniel Paiola, 26.
Número 1 do Brasil na modalidade, Ygor Coelho, 19, foi um dos que buscaram lugar na arquibancada do Riocentro para ver a estreia de Lin Dan no evento-teste. O chinês empilhou jogadas de efeito e bateu o brasileiro Igor Ibrahim por 2 sets a 0 (parciais de 21-12 e 21-5). “Ele tem uma linha própria de roupas. Toda a coleção é feita com o nome dele”, contou Ygor Coelho ao notar que o asiático usava um tênis de cada cor.
Campanhas publicitárias e tatuagem para a avó
O chinês é a atual capa da revista “Men’s Uno”, publicação de seu país natal voltada ao público masculino. O ensaio fotográfico que ilustra a revista é focado nas roupas de Lin Dan, que tem até uma coleção de roupas íntimas com seu nome – os produtos foram lançados em setembro deste ano, e o atleta também protagonizou as imagens de divulgação das peças.
Os ensaios fotográficos em que Lin Dan usou apenas roupas íntimas mostraram tatuagens do chinês. Ele tem uma cruz desenhada no braço esquerdo, homenagem à avó que o acompanhava na época em que o atleta ingressou na escola de esportes da China. “Eu tinha nove anos, e ela foi a pessoa que me acompanhou durante todas as semanas”, contou o jogador em uma campanha publicitária – sim, mais uma! – de 2014.
A tatuagem chegou a criar polêmica na época. Lin Dan escolheu a cruz porque a avó era católica e frequentava semanalmente a igreja. Contudo, a religião não está entre as mais populares da China. Além disso, as Forças Armadas do país têm restrições a esse tipo de adorno – o jogador de badminton é militar.
O passado bad boy
Outro traço comumente associado a Lin Dan é a personalidade forte. Sobretudo no início da carreira, o chinês sempre chamou atenção pelo estilo intempestivo. Em uma competição na Coreia do Sul, por exemplo, discutiu com um ex-técnico e arremessou uma raquete na direção dele.
“O cara é chinês e já tinha sido treinador dele, mas estava ali trabalhando com um atleta da Coreia do Sul. O jogo teve algumas marcações de linha que foram meio polêmicas, e isso gerou uma discussão. O Lin Dan jogou a raquete na direção do técnico, e a partida acabou ali”, contou Paiola. “Ele era meio esquentadinho”, completou o brasileiro.
A lista de episódios polêmicos de Lin Dan também inclui uma medalha de prata que ele arrancou do pescoço em uma premiação e várias raquetes que ele quebrou em acessos de raiva.
Em 2008, pouco antes do início dos Jogos Olímpicos de Pequim, o jornal norte-americano “The New York Times” descreveu Lin Dan como “o bad boy do badminton”. “Ele é comparável a John McEnroe pelo temperamento”, disse o periódico em alusão a um ex-tenista dos Estados Unidos que sempre foi conhecido pela personalidade forte.
No Rio, Lin Dan não se comporta como estrela. Nem como bad boy
A idolatria que o cerca e as histórias de bad boy, contudo, não apareceram no comportamento de Lin Dan no evento-teste. O chinês participou de entrevista coletiva na terça-feira (24), respondeu a uma série de perguntas em seu idioma natal e rechaçou o posto de estrela: “Tenho uma vida normal. Não acho que eu seja uma pessoa especial”.