Por sonho olímpico, nº1 do Brasil no badminton apelou a Caldeirão do Huck
Fábio AleixoDO UOL, em São Paulo
Ygor Coelho tem hoje 18 anos, é o melhor brasileiro no ranking mundial de badminton ao ocupar a 67ª posição, integra a seleção brasileira principal, conta com quatro patrocinadores, apoio do governo federal e é forte candidato a representar o país nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Uma realidade bem diferente da que vivia no início de 2014, quando precisou apelar ao Caldeirão do Huck para conseguir dinheiro em busca de uma vaga nos Jogos Olímpicos da Juventude de Nanquim (China).
Sem dinheiro para viajar pelo mundo na reta final de classificação para o evento na China, encontrou no quadro 'Agora ou Nunca' a oportunidade que precisava para conseguir a verba. Então com 16 anos não decepcionou. Superou as três etapas do desafio e embolsou R$ 30 mil. Com o prêmio, pôde viajar, somar pontos e obteve a classificação para a Olimpíada, seu primeiro grande evento internacional.
Foi a realização do sonho e o primeiro passo visando aos Jogos Olímpicos de 2016 dado pelo garoto nascido na comunidade da Chacrinha, no Rio de Janeiro, e que até hoje segue treinando onde começou a dar as primeiras raquetadas: o projeto Miratus, criado e mantido por seu pai, Sebastião Oliveira.
“Meu pai não tinha dinheiro para bancar meus custos. Teria de fazer um sacrifício tremendo e certamente iria ficar no vermelho, com dívidas. Então, ele e os amigos mandaram e-mail para várias pessoas e um deles acabou indo para a produção do Caldeirão do Huck. Tive a sorte de ser escolhido e ir lá ganhar. Mas eu fiquei muito nervoso. Acertei quase tudo na última chance. Não tive tempo para treinar muito”, disse Ygor, que na prova decisiva teve de arremessar uma garrafa e acertá-la em um engradado.
Antes, teve de tirar de dentro de um cilindro, com uma turbina ligada, duas bolas nas cores laranja em meio a várias brancas. Na segunda fase, encaçapou uma pequena bola de metal dentro de um buraco.
Desde aquela participação no programa da TV Globo, Ygor só cresceu na modalidade. Após a participação na Olimpíada da Juventude, recebeu convite para treinar em um clube na Dinamarca e passou três meses na Europa. Com mais condições e apoio conseguiu escalar no ranking e superar o compatriota Daniel Paiola, que hoje ocupa a 87º posto. Os dois disputam ponto a ponto a vaga a que o Brasil tem direito em 2016 como país-sede. Existe uma chance de os dois se classificarem caso um deles alcance a linha minima de corte no ranking mundial a ser divulgado no dia 5 de maio 2016.
“Hoje a minha situação (financeira) é bem melhor, não passo apertos. Estou muito perto de conseguir realizar o meu sonho que é disputar uma Olimpíada no quintal de casa. Não tenho palavras para descrever o que seria conseguir isso. Acho que só estando lá mesmo para sentir”, afirmou o jogador, que neste ano participou dos Jogos Pan-Americanos de Toronto (CAN).
“Sobre esta disputa com o Daniel posso dizer que é bem saudável. Temos uma ótima relação. Desejo o melhor para ele. Tenho certeza que qualquer um dos dois que for representará bem o Brasil”, disse Ygor.
‘Sirvo de exemplo para quem está chegando’
Ygor espera que o sucesso que vem tendo sirva de motivação para outras cerca de 200 crianças e jovens que fazem parte do programa Miratus, local onde também surgiram as irmãs Luana e Lohayny Vicente.
“Graças ao esporte sou quem sou hoje e não preciso roubar. Já tive amigos que perderam e foram para o mau caminho. Sirvo de exemplo para quem está chegando”, disse Ygor.