NY Times critica Rio de Janeiro por despejo de moradores favelados para Olimpíadas-2016

Do UOL, em São Paulo

  • Fernando Maia/UOL

    Prefeito do Rio, Eduardo Paes, acena no desembarque da bandeira olímpica no Rio de Janeiro

    Prefeito do Rio, Eduardo Paes, acena no desembarque da bandeira olímpica no Rio de Janeiro

Logo após o encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres-2012, um dos principais jornais dos Estados Unidos, o New York Times, criticou a cidade do Rio de Janeiro pelo planejamento mostrado para a Olimpíada de 2016. Agora, com as atenções voltadas para a capital do estado, a publicação disparou duras críticas ao projeto de desapropriação de alguns bairros da cidade em nome da construção de uma infraestrutura para a recepção da competição olímpica.

Em uma coluna de título “Em nome do futuro, o Rio está destruindo o passado”, o jornal critica a desapropriação de parte dos moradores do Morro da Providência, a favela mais antiga da cidade. Segundo a publicação, o plano de revitalização da cidade engloba a área e outras favelas, e fará com que a maioria dos seus habitantes tenha que ser despejada de casa, sem que haja a possibilidade de discussão.

A coluna afirma ainda que a prefeitura realiza abordagens de “dividir para conquistar”, ou seja, conversas individuais com os moradores para convencê-los a assinar uma proposta de reassentamento, impedindo que eles se juntem para decidir de forma coletiva contra a mudança de moradia imposta pelo município. Além disso, 70% das casas do topo do morro já estão “condenadas” ao despejo, e a “condenação” se dá sem aviso prévio aos habitantes.

“Embora a prefeitura alegue que esses investimentos beneficiarão aos moradores da região, um terço da comunidade já foi marcada para remoção e as únicas ‘reuniões públicas’ organizadas visavam apenas informar aos moradores qual seria o seu destino”, explicou a publicação.

“Durante o dia, as iniciais da Secretaria Municipal de Habitação e um número são pintadas nas paredes das casas com tinta-spray. Moradores voltam para casa e descobrem que suas residências serão demolidas, mas não recebem nenhuma orientação sobre o que vai acontecer com elas, e nem quando será”, detalhou o jornal.

O NYT ressaltou, ainda, que a falta de segurança citada pela prefeitura do Rio como motivo para realizar o despejo dos moradores não procede. De acordo com o diário norte-americano, um relatório produzido por engenheiros locais afirma que os fatores de risco citados pelo município são “inadequadamente estudados e imprecisos”.

“Se o Rio conseguir desmantelar e desfigurar sua favela mais histórica, abrirá o caminho para novas destruições em centenas de outras favelas da cidade”, teme o jornal, que encerra sua coluna com uma dura crítica ao desnível social entre as diversas populações da cidade.

“O Rio de Janeiro está se tornando um playground para ricos. E a desigualdade gera instabilidade. Seria muito mais eficaz economicamente investir em melhorias urbanas, definidas com a ajuda das comunidades dentro de um processo democrático participativo. Em última instância, essa estratégia poderia fortalecer a economia e desenvolver a infraestrutura da cidade; e ao mesmo tempo reduzir desigualdades e fortalecer a população afro-brasileira, que ainda hoje é marginalizada”, finalizou.

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