Brasil opera no limite de forças, verbas e medalhas no encerramento de Londres-2012

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • REUTERS/Tim Wimborne

    Fogos de artifício marcam o término da cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres

    Fogos de artifício marcam o término da cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres

Yane Marques foi a imagem mais marcante deste domingo. A pernambucana de 28 anos deu tudo o que tinha na prova de pentatlo moderno. Era a última competição de toda a Olimpíada. E ela era a líder. Transmissão nacional, em TV aberta, sucesso total. Mas a corrida não é o seu forte. Ela se esforçou, mas acabou superada por uma, por duas rivais. Mas também se recusou a perder a medalha. Acelerou quando não tinha mais energia, cruzou a linha de chegada em terceiro lugar, caiu no chão e ficou ofegante por vários minutos. Chegou ao seu limite. Foi suficiente para chegar ao pódio. Valeu uma medalha de bronze.

MEDALHAS DO BRASIL EM LONDRES

Sarah Menezes Judô (48kg)
Arthur Zanetti Ginástica (argolas)
Seleção feminina Vôlei
Thiago Pereira Natação (400 m medley)
Alison e Emanuel Vôlei de praia (masculino)
Seleção masculina Vôlei
Esquiva Falcão Boxe (75kg)
Seleção masculina Futebol
Felipe Kitadai Judô (60kg)
Rafael Silva Judô (+100kg)
Mayra Aguiar Judô (78kg)
Cesar Cielo Natação (50m livre)
Juliana e Larissa Vôlei de praia (feminino)
Adriana Araújo Boxe (60kg)
Robert Scheidt e Bruno Prada Vela (Star)
Yamaguchi Falcão Boxe (81kg)
Yane Marques Pentatlo moderno

Pode parecer pouco para os mais críticos. Mas não é. Sem entrar na história de superação da garota de Afogado da Ingazeira (sim, foi lá, no interior de Pernambuco, que ela nasceu), uma brasileira subir ao pódio no pentatlo moderno é o ápice do único projeto esportivo que saiu do zero no país e rendeu frutos realmente grandes. Há oito anos, a representante nacional era a norte-americana Samantha Harvey, que só defendia o país porque se casou com um brasileiro.

Yane, não. Foi descoberta em um programa do exército brasileiro, montado para que, nos Jogos Pan-Americanos de 2007, o Brasil tivesse uma atleta com bom nível. Nadadora, aprendeu esgrima, tiro e hipismo. Pentatleta de laboratório, foi levada para competir no exterior, ganhou experiência e títulos pelo caminho. Incluindo o ouro no Rio-2007 e a prata em Guadalajara-2011.

O problema é que esse exemplo é único, solitário. Olhe para as medalhas que o Brasil conquistou em Londres. O pentatlo é a única modalidade em que um brasileiro nunca tinha subido ou passado perto de um pódio antes. A ginástica artística, que também faturou sua primeira medalha, envia candidatos há dois ciclos olímpicos. Outras modalidades vencedoras - vôlei, judô, vela e natação- , são esportes consolidados. Alguns deles, inclusive, decepcionaram.

Nas piscinas, as duas medalhas, uma prata de Thiago Pereira e um bronze de Cesar Cielo, ficaram atrás do ouro e do bronze de Cielo em Pequim-2008. Na vela, com o bronze de Robert Scheidt e Bruno Prada, a medalha solitária foi o pior desempenho em 20 anos. No atletismo, foi ainda pior: apesar do que fez na maratona, com Marílson do Santos em quinto lugar e outros dois brasileiros, Paulo Roberto de Paula e Frank Caldeira, entre os 13 primeiros, o país saiu sem medalhas. Algo que não acontecia, também, há 20 anos.

Agora leve em conta o volume de investimentos estatais feitos no esporte de alto rendimento por aqui. Como o UOL Esporte relatou antes dos Jogos, esse número chegou a R$ 2,1 bilhões. Mesmo batendo o recorde de medalhas conquistadas em só uma edição dos Jogos Olímpicos (17 contra 15), ainda é pouco perto das expectativas.

E não estamos falando só de derrotas. O vôlei brasileiro perdeu neste domingo, mas chegou à final. O time campeão de quase tudo desde que Bernardinho assumiu o comando disputou a medalha e, na decisão, chegou ao seu limite. Até o terceiro set, tudo parecia bem. Mas o técnico russo resolveu fazer uma mudança tática, o meio de rede virou oposto e o Brasil não conseguiu mais segurar os europeus. Dante se contundiu, Giba entrou em quadra completamente sem ritmo e o Brasil parou de virar as bolas. A derrota foi doída, mas acontece.

O que não poderia ocorrer ao Brasil desse investimento tão alto é olhar para países como a Jamaica ou o Cazaquistão e constatar que, mesmo com orçamentos muito menores, acabaram por conquistar mais medalhas de ouro. E perceber que, em várias modalidades, o Brasil não tem, a quatro anos de sediar as próprias Olimpíadas, atletas que conseguiram se classificar para os Jogos. O Brasil sai de Londres sem nem mesmo ter competido em três esportes - badminton, hóquei na grama e polo aquático. E vendo apenas um representante (ou dupla) em modalidades que distribuem muitas medalhas, como Fernando Saraiva e Jaqueline Ferreira tentando só duas das 15 medalhas do levantamento de peso, Joice Silva, que competiu em uma das 18 categorias das lutas olímpica e greco-romana, ou Ronílson Oliveira e Erlon Silva, que disputaram uma das 12 categorias da canoagem de velocidade. A pergunta que fica, então, é se o limite do Brasil é esse. Ou se ainda podemos crescer até 2016.

ATLETISMO

CICLISMO

O ciclista brasileiro Rubens Donizete terminou na 24ª colocação na mountain bike nos Jogos Olímpicos de Londres. O ouro ficou com o tcheco Jaroslav Kulhavy, a prata com o suíço Nino Schurter e o bronze com o italiano Marco Fontana.

PENTATLO MODERNO

Yane Marques surpreendeu. Na última prova de toda a Olimpíada, ela largou na frente no evento combinado de corrida e tiro que decidiu o pódio do pentatlo moderno e não decepcionou. A pernambucana chegou em terceiro na prova decisiva e conquistou uma medalha inédita para o Brasil. Mesmo enfrentando problemas durante o hipismo: “Montei bem. Falavam que o cavalo que peguei era velho e ia cansar. Então eu tive que dar um jeito no fim da prova”.

VÔLEI

O sonho do tricampeonato olímpico do vôlei masculino foi adiado para o Rio de Janeiro. Pela segunda vez consecutiva, o Brasil foi à final dos Jogos e acabou derrotado. Desta vez, a equipe de Bernardinho chegou a ter dois match points no terceiro set, sofreu um "apagão" e perdeu de virada para a Rússia por 3 sets a 2. O jogo, que coroou Murilo, como no Mundial, o melhor jogador da Olimpíada, marcou também a despedida de veteranos como o líbero Escadinha e o ponta Giba.

 

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