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UOL Olimpíadas 2012

Londres espera que febre ciclística espalhe ouros para os anfitriões

Rodrigo Bertolotto
Do UOL, em Londres (ING)

  • Spencer Platt/Getty Images

    O britânico Mark Cavendish comemora ao vencer a 11ª etapa da Volta da França em 2010

    O britânico Mark Cavendish comemora ao vencer a 11ª etapa da Volta da França em 2010

Quem mora em Londres adora uma bicicleta, seja na hora de economizar com transporte, seja na hora de torcer numa prova olímpica. O sentimento é de fácil explicação. Afinal, o ciclismo foi o esporte que mais deu triunfos para o Reino Unido chegar ao quarto lugar no quadro de medalhas de Pequim-2008 (oito dos 19 ouros foram sobre duas rodas).

Agora a esperança dos anfitriões é estrear no medalheiro de 2012 vencendo a prova de estrada com Mark Cavendish. O lugar da chegada não poderia ser mais emblemático: o palácio de Buckingham. No lugar dos turistas para assistir à troca guarda real, a residência da rainha Elizabeth 2ª será cercada por fãs britânicos no próximo sábado (29).

“Sei que todos no Reino Unido vão estar de olho em mim, mas não é tão fácil ganhar uma medalha”, disse Cavendish, que é garoto propaganda de várias marcas e estampou um selo na Isle of Man, ilha de 8.000 habitantes localizada entre a Grã-Bretanha e a Irlanda,que é sua terra natal.

No trabalho de equipe para a vitória de Cavendish na estrada estará Bradley Wiggins, que no domingo passado se tornou o primeiro britânico a vencer a lendária Volta da França. Por sua vez, o mais recente herói britânico tentará a sorte na prova contra o relógio.

Outro ídolo é o escocês Chris Hoy, que ganhou três ouros nas pistas de Pequim e, não por nada, foi elevado à condição de porta-bandeira do país na cerimônia de abertura, que ocorre na sexta-feira.

Como não poderia faltar, também há a musa dos velódromos: Victoria Pendleton ou “Queen Vic”, apelido em referência a seus nove títulos mundiais e um ouro olímpico na prova de velocidade. “Eu adoro glamour e sessões de fotografia. Muitos me criticam pela vaidade, falam que eu deveria ser uma esportista séria, mas uma coisa não impede a outra”, declarou a morena de olhos claros e 31 anos.

Pedalar virou a solução

Anos atrás, os europeus continentais não podiam esperar muito do ciclismo profissional e do café da Inglaterra. Mas, hoje, existe em Londres até uma moda de “ciclocafés”, lojas que misturam conserto e venda de equipamentos com menus elaborados e TVs com transmissão ao vivo de eventos ciclísticos.

Londres não é nenhuma Copenhague (onde 55% da população usa os pedais como meio de transporte). Nem é uma Amsterdã, tão conhecida por suas magrelas. Mas cada vez há mais incentivo para quem trabalha no centro londrino adotar as duas rodas.

Por um lado, o transporte público é caro. Por outro, quem vai de carro para áreas centrais paga um imposto diário (“congestion charge”, em inglês). E ainda muitas empresas privadas e estatais dão incentivos para os trabalhadores ciclistas. A prefeitura até dá aulas de condução de bicicletas para enfrentar o trânsito pesado e de ruas estreitas da cidade.

É muito fácil encontrar no final da tarde sérios engravatados da City, o centro financeiro londrino, colocando o terno na mochila e se travestindo com os uniformes apertados e coloridos dos ciclistas para voltar para casa.

Parecendo um profissional das pistas, o escriturário Tom Parritt encara diariamente 26 quilômetros na ida e volta para o trabalho. “Pego até alguma velocidade nos trechos de ciclovia, mas nada que se compare aos nossos atletas olímpicos”, brinca Parritt, que vai assistir in loco à prova de estrada, aproveitando que é uma dos poucos eventos dos Jogos que são grátis.

Outro fenômeno local são os ciclistas hipsters, que adotaram a bicicleta mais pelo estilo de vida do que pela praticidade. O visual dos moderninhos é inconfundível: bicicleta que parece saída do século 19, chapéu, roupas de época e a típica cesta de vime na frente do guidão.

Mas a maioria usa a bicicleta em Londres por economia. “O que você gasta em um mês de transporte público dá para comprar uma bicicleta”, conta o imigrante colombiano Mauricio Alsate, que vive há quatros anos em Londres e é atendente do McDonald's. “Só no inverno que é complicado andar de bicicleta, porque chove muito, e o chão fica muito escorregadio.”

Na cidade, há um serviço de aluguel de bicicletas por 24 horas custando apenas uma libra (três reais), valor que não paga nem uma viagem curta pelo metrô. Por essas e por outras, o Reino Unido virou o país das bicicletas, na vida real e no esporte.

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