Filho de dirigente do São Paulo ganha torneio de trenó com cães e sonha com Olimpíada

Júlia Caldeira

Do UOL, em São Paulo

  • Acervo pessoal do atleta

    Julio César Filho foi campeão do sul-americano de sled dog em Ushaia, na Argentina

    Julio César Filho foi campeão do sul-americano de sled dog em Ushaia, na Argentina

Julio César Casares Filho, de 17 anos e herdeiro do atual vice-presidente de marketing do São Paulo, é o primeiro brasileiro a participar de uma competição de sled dog - corrida de trenós puxados por cães - e também a conquistar o título. Após vencer o sul-americano disputado entre os dias 25 e 29 do último mês de junho em Ushaia, na Argentina, o estudante já sonha em ampliar o esporte no país e, um dia, participar de uma Olimpíada.

A categoria foi apresentada como esporte de demonstração nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1932, realizados em Nova York, nos Estados Unidos. Sabendo disso, Casares Filho espera que, assim como o curling, que já foi esporte de demonstração e hoje figura entre as disputas oficiais, o sled dog também entre no programa das Olimpíadas.

"Eles estavam pensando se iam integrar o esporte ou não nas Olimpíadas, se sim, seria muito bom para o Brasil ter uma equipe representante. De repente, se for para as Olimpíadas, com certeza quero estar lá, ser da equipe", contou ao UOL Esporte.

O contato de Casares Filho com o esporte, porém, é recente. Em uma viagem a Ushuaia no ano passado, o garoto conheceu Alberto Cichero, administrador do centro invernal Llanos de Castor, que, ao descobrir que o brasileiro criava cães de raças nórdicas (específicas para o esporte), o convidou a participar do campenato sul-americano na cidade.

"Antes eu só disputava exposição de beleza com meus cachorros. Quando soube que eu criava cães nórdicos, o Alberto me chamou para essa experiência e me ajudou.  Fiquei em contato com ele daqui do Brasil e fui treinando resistência e força com meus cachorros", explicou.

O garoto cuida de cães da raça malamute, natural do Alasca, desde a infância e, atualmente, administra um canil em Boituva, no interior de São Paulo, onde também realiza treinamentos com os animais.

"A gente treina muito em uma pista de terra e em uma de grama, em Boituva, para parecer neve. Mas no Brasil a gente treina só cinco quilômetros por dia, por causa do calor. Fazemos isso só pra eles não perderem o hábito de correr", comentou.

Apesar disso, ele explica que o calor não é prejudicial aos cães de origem nórdica. "Eles sentem calor aqui, mas se adaptam. No Brasil, eles não tem o sub-pêlo, que é uma camada mais interna de pelagem para aquecê-los. No frio, eles desenvolvem essa camada. Eu importo só filhotinhos, que trocam o pelo em dois meses, adaptando-se ao clima quente".

Para estarem preparados para a competição, portanto, Casares Filho enviou seus cães a Ushaia dois meses antes. "Lá, a gente treinava entre quatro e cinco horas por dia. Treinamos corrida por duas horas de manhã, depois deixamos eles descansarem um tempo, para eles se alimentarem, fazerem as necessidades e se recuperarem, e a tarde faziamos mais três horas de corrida", relatou.

Apesar do treinamento e dos 21 km percorridos nas competições, os cães não ficam desgastados. "Se eles ficam muito tempo parados, eles começam a latir porque querem correr, se exercitar. É muito bom para os cães, para a saúde e prolongamento da vida deles, porque essa raça precisa fazer isso, precisa correr", contou o filho do dirigente tricolor.

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No sled dog, os cães precisam, também, teinar força, para que consigam puxar o trenó. Para isso, fazem um treino especial: puxam o transporte, na neve, com duas pessoas de 75 quilos cada uma por cerca de 10 minutos.

Um trenó é puxado por seis animais, sem restrição de gênero, sendo dois deles os líderes, que comandam o resto da matilha. Esses líderes, segundo Casares Filho, devem ter uma boa relação com o dono. "Os cães tem de ter uma relação muito boa com quem está comandando o trenó, por isso fico com os dois líderes na minha casa em São Paulo, os outros seguem eles naturalmente".

Para manter os animais correndo, Casares segue um segredo milenar. "Eles gostam muito de correr, desde a antiguidade, é do sangue deles. Enquanto eles correm, a gente só vai gritando pra irem mais rápido. Já os líderes seguem um comando especial. É um comando único, milenar, usado desde a época dos índios. Gritamos 'há' para virarem para direita 'shi' para virarem pra esquerda, 'auto' para pararem e 'sigo' para irem em frente", explicou.

Mesmo com a preparação, o jovem não foi confiante para sua primeira competição. "Não tínhamos expectativa nenhuma", disse. Mas a vitória e visibilidade que ganhou com ela o deixou animado para participar da próxima edição do sul-americano e também de competições maiores.

"O próximo sul-americano eu quero disputar com duas equipes, pois agora estou com bastante malamutes. Pretendo ir uma vez por ano para essa competição e, mais para frente, ir para o Canadá, para alguma competição maior, para enfrentar novos desafios", completou.

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