Mês sagrado dos muçulmanos divide atletas, que terão de jejuar nas Olimpíadas

Do UOL, em São Paulo*

O Ramadã, uma das tradições mais fortes do islamismo, está na lista de preocupações dos cerca de 3000 atletas muçulmanos que disputarão os Jogos Olímpicos de Londres. Como o mês sagrado da religião cai exatamente no período da competição, os atletas, em tese terão de jejuar durante os dias de prova. Cumprir ou não a tradição é uma decisão que divide os esportistas.

Neste ano o Ramadã começa em 20 de julho, uma semana antes do início das Olímpiadas. Tradicionalmente, durante 30 dias os muçulmanos não comem nem bebem enquanto tiver luz do dia. Simbolicamente, trata-se de um período de renovação da fé e atenção aos valores da religião.

O problema é que a maior parte dos eventos em Londres acontecerão durante o dia, forçando os atletas a competirem em jejum. Normalmente, pessoas doentes, grávidas ou que estão viajando são liberadas do dever religioso. No caso dos atletas, a possível exceção dependeria da interpretação de cada um.

“Se um atleta olímpico está fazendo uma atividade que vai lhe tomar muita energia, com um impacto muito grande em seu corpo, pode ser considerada uma exceção. Se ele estiver treinando nos 30 dias do Ramadã, ele pode fazer o jejum depois”, disse à BBC Ajmal Masroor, membro da Sociedade Islâmica da Grã-Bretanha e conhecido debatedor de temas da religião na mídia inglesa.

“As palavras do Islã são claras. As Olimpíadas não são uma razão para a quebra do jejum”, disse o xeque Fawzi Zefzaf, estudioso do Al-Azhar, um dos mais renomados institutos religiosos do Egito, em entrevista ao jornal New Zealand Herald, da Nova Zelândia.

Para auxiliar os atletas, a organização dos Jogos vai colocar 150 clérigos muçulmanos para auxiliar os atletas. Os que optarem pela quebra do jejum terão à disposição kits de alimentação e hidratação especiais. O espaço ecumênico da Vila Olímpica também terá instalações especiais para os muçulmanos.

“É uma decisão pessoal. Todos no time sabem que se quiserem jejuar vão poder, mas podem quebrar se não quiserem”, disse Omar Abdulrahman, jogador da seleção de futebol dos Emirados Árabes Unidos, que deixou que cada atleta escolhesse o que fazer.

“Do mesmo jeito que você pode ficar com dez homens em campo e tem de se preparar para isso, eu tenho de trabalhar para quando ficar com sede ou fome durante o jogo. Trata-se de entender e fazer as opções certas”, disse Dareen Cheesman, muçulmano que defende o time britânico de hóquei.

“Nós treinamos muito, muito forte, para chegar à medalha de ouro, então nós não vamos desperdiçar isso. Essa Olimpíada é realmente importante. Você acha que eu vou sacrificar isso? Nós precisamos treinar, de comida, água”, disse Azizulhasni Awang, ciclista malaio que decidiu adiar seu jejum. 

*Com agências internacionais

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