Pesquisadora: abordagem 'seria diferente se fossem meninos da favela'

Rodrigo Pinto
Da BBC Brasil, no Rio de Janeiro
Michael Sohn/AP
Nadador norte-americano Ryan Lochte

O desfecho da ação dos seguranças privados que abordaram e apontaram armas para quatro nadadores americanos após uma confusão em um posto de gasolina no Rio teria sido diferente se os protagonistas fossem garotos de uma comunidade pobre.

A avaliação é da antropóloga americana Erika Robb Larkins.

"No Brasil, puxa-se uma arma muito fácil", diz Erika, que também é professora-assistente da Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos.

Ela lembra que a segurança privada existe para proteger patrimônio privado, e somente nestas situações está habilitada a agir.

"O segmento de segurança privada tem outros fins, diferentes do da segurança pública. Estamos falando de proteção ao patrimônio privado", ressalta.

Ela diz que o setor cresceu a reboque do medo disseminado na sociedade brasileira, "principalmente pela mídia", o que explicaria também o uso indiscriminado de armas de fogo.

"O nível de medo é alto e tem impacto nas relações sociais", assinala.

De acordo com pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o setor de segurança equivale a 3,7% do Produto Interno Bruto Brasileiro, o PIB, conjunto de todas as riquezas produzidas no país. 

Para Erika, embora a reação dos seguranças tenha sido correta, no sentido de proteger o patrimônio privado, a situação seria diferente se o mesmo problema tivesse sido provocado por adolescentes de uma comunidade pobre, negros, e não por estrangeiros.

"Se não fossem americanos, de olhos azuis, o resultado poderia ser outro, até uma tragédia", avalia ela, que acompanhou de perto, durante dois anos, a formação de vigilantes no Brasil, como parte se sua pesquisa na Universidade de Oklahoma.

Larkins é autora do livro "The Spectacular Favela ─ Violence in Modern Brazil" (Favela Espetacular ─ A Violência no Brasil Moderno, em tradução livre) sobre o uso dos conflitos armados nas comunidades pobres do Rio como mercadoria para consumo pela mídia. Ela agora prepara uma nova obra sobre o impacto da segurança privada na sociedade brasileira.

A pesquisadora lembra que a maior parte da segurança privada não é feita por policiais, mas por vigilantes treinados.

De acordo com a lei brasileira, as empresas de vigilância devem ter registro na Polícia Federal e pedir o porte de armas para seus profissionais. Os vigilantes têm ainda que passar por exames psicotécnicos.

Ainda assim, Larkins afirma que o nível educacional dos profissionais é muito baixo, assim como os salários.

"Há uma ideia de que muitos policiais trabalham na área de vigilância, mas a maior parte dos policiais envolvidos está na diretoria das empresas ou são donos delas", diz. "Mas o mercado informal no setor é grande, o que merece atenção".

Em seu novo estudo, Erika examinou por dois anos como a segurança privada atua em diferentes áreas da cidade, e de acordo com o público atendido.