Judô

Medalha "é melhor resposta contra violência do Brasil", diz Rafaela Silva

BBC
Rafaela Silva com a medalha de ouro: melhor resposta contra a violência imagem: BBC

Ouro na categoria peso leve -57 kg, judoca diz à BBC Brasil que 'essa Olimpíada está ajudando o povo brasileiro a abrir os olhos, a ver que a gente batalha muito'.

Um dia após a conquista do ouro na Olimpíada do Rio, a judoca brasileira Rafaela Silva mal dormiu, agitada pelo momento histórico e em meio ao assédio de fãs e da imprensa.

Em conversa com a repórter da BBC Júlia Dias Carneiro, a atleta criada na Cidade de Deus disse esperar que a vitória mostre ao Brasil a importância dos Jogos para o esporte.

“Acho que o país não está vivendo um momento tão bom agora, mas acho que essa Olimpíada está ajudando o povo brasileiro a abrir os olhos, a ver que a gente batalha muito, que a gente vive isso, é a nossa vida, estar realizando um sonho e eles estarem podendo dividir essa emoção com a gente”, afirmou.

Rafaela disse que seu triunfo representa ainda uma resposta pacífica às críticas e insultos racistas que sofreu pela internet após sua derrota na Olimpíada de Londres, em 2012.

“Foi bem difícil pra mim: eu tinha apenas 19 anos, estava na minha primeira Olimpíada, com vontade de realizar um sonho e fui eliminada na segunda luta. Só queria falar com meus amigos, minha família, ter um apoio, um incentivo e eu fui recebida com críticas, preconceito. E eu nunca tinha sofrido aquilo. Me machucou bastante”, contou.

“Eu pensei em desistir do judô e comecei a fazer um trabalho psicológico, voltei a treinar e no ano seguinte o atleta que falaram que era vergonha para minha família estava sendo campeão mundial, agora está sendo campeã olímpica. Acho que é muito importante poder mostrar não com violência, como acontece no Brasil, onde um agride o outro, aparece a notícia de que a pessoa morreu, ou brigou na rua e tomou uma facada, e poder responder com uma medalha de ouro, acho que não tem resposta melhor que essa.”

Questionada sobre o impacto de sua realização para as novas gerações, ela lembrou a infância e adolescência na região da Cidade de Deus, quando “tinha que correr para dentro de casa quando começava o tiroteio”.

“É muito importante para crianças da comunidade, porque a gente vivia num mundo bem agressivo, não podia brincar, tinha que correr pra dentro de casa quando começava o tiroteio. E ver que uma menina que corria de uma bala perdida agora corre das pessoas querendo tirar fotos, entrevista, porque conquistei uma medalha olímpica dentro da minha casa. Isso é muito importante para mostrar a todo mundo que uma criança que saiu da comunidade pode conquistar o mundo.”

Topo