A partir de terça feira, a tocha olímpica percorrerá 327 cidades brasileiras após desembarcar em Brasília vinda da Suíça. Até chegar ao Maracanã em 5 de agosto, passará pela mão de 12 mil condutores, o que daria vagas de sobra para a participação dos 1.478 atletas ainda vivos que representaram o Brasil em Olimpíadas. Mas muitos deles podem nem ter a chance de tocar a tocha.

Diversos competidores e ex-esportistas sequer foram chamados, o que motivou a pesquisadora Katia Rubio, autora do livro "Atletas Olímpicos Brasileiros", a lançar uma campanha nas redes sociais com o slogan "Todo Atleta Olímpico Deve Carregar a Tocha".

"Estive em Olímpia no acendimento da tocha e aquilo me tocou, mesmo sem ser atleta. Naquele momento, lembrei de depoimentos que muitos deram para o meu livro, falando que não eram reconhecidos ou lembrados. Então tive esta ideia. Nada mais justo que dar chance a estes atletas, já que a tocha vai percorrer o país inteiro. Mas o revezamento da tocha, infelizmente, se tornou um evento comercial", disse Katia ao UOL Esporte.

O movimento, que começou com uma postagem no blog da pesquisadora e em seu perfil Facebook, foi ganhando força e diversos atletas e ex-esportistas já se manifestaram criticando o fato de terem sido excluídos por ora.

"Todos os atletas que participaram de uma Olimpíada deveriam ter a oportunidade de levar a tocha. Acho incrível a falta de tato das pessoas que estão organizando isso. É um p... absurdo e mostra o analfabetismo olímpico dos dirigentes. Isso mostra quanto estamos atrás de outros países. Chamam artistas, políticos e quem faz o esporte acaba esquecido", disse o velejador Bruno Prada, dono de uma prata e um bronze olímpico e que ainda não foi convidado.

"As entidades e empresas envolvidas com a Olimpíada têm o direito de escolherem quem quiserem. Eu respeito esta escolha, mas acho que todos os atletas deveriam ter este direito e não digo isso só por mim. Seria bacana se pudéssemos participar deste momento", afirmou André Heller que participou de três Olimpíadas com a seleção brasileira de vôlei e ganhou um ouro e uma prata.

"Se todos fossem chamados seria um reconhecimento muito legal e justo. Acho que não custaria nada darem esta oportunidade", analisou o ex-jogador de basquete Cadum que participou de quatro Olimpíadas, entre 1980 e 1992.

Questionado pela reportagem do UOL Esporte, o Comitê Organizador do Rio-2016 afirmou que a lista de condutores ainda não foi fechada e novos convites serão feitos ao longo das próximas semanas.

Já em e-mail enviado a Katia Rubio e republicada pela pesquisadora, o órgão diz que "todos os atletas serão convidados a correr com a tocha olímpica" e que "o Comitê Rio-2016 não pode deixar de homenagear aqueles que fizeram a história do esporte brasileiro". Afirma ainda que está consolidando todas as listas de nomes que tem.

De acordo com o Comitê Rio-2016, metade dos 12 mil condutores foram escolhidos pelos três patrocinadores do revezamento (Bradesco, Coca-Cola e Nissan) por meio de indicações públicas em seu site. Uma outra parcela foi indicada pelas prefeituras das cidades que receberão a tocha, enquanto outra parte foi ou ainda será selecionada pelo próprio Comitê e pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Em contato com o UOL Esporte, o COB afirmou que Bruno Prada e André Heller fazem parte da lista de condutores indicados pela entidade, mas ainda não houve tempo hábil para o convite ser feito e o processo está em andamento.