Vídeos

Ex-técnico de Cielo ajudou Ítalo a contornar baixa estatura e ansiedade

SERGIO MORAES/REUTERS
Ítalo Duarte comemora vaga conquista nos 50m livre no Troféu Maria Lenk imagem: SERGIO MORAES/REUTERS

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Não foi apenas Cesar Cielo que Ítalo Duarte precisou vencer para obter uma das duas vagas do Brasil nos 50 m livre das Olimpíadas de 2016, que serão realizadas no Rio de Janeiro. O nadador de 24 anos, de 1,80 m, foi o segundo colocado da prova nesta quarta-feira (20), na última seletiva nacional para os Jogos. Nadou a distância em 21s82 e foi superado apenas por Bruno Fratus, que fez 21s74 – Cielo, ouro olímpico em Pequim-2008 e tricampeão mundial, fez 21s91 e acabou fora. O caminho de Ítalo até a vaga foi moldado com controle de ansiedade e muito trabalho para driblar a baixa estatura. E tudo isso tem relação com um ex-treinador do brasileiro mais laureado na prova.

“O Scott [Volkers] é uma pessoa sensacional. Ele me ensinou e me resgatou. Eu estava bem desmotivado em 2014, quando cheguei ao Minas. Tinha passado dois anos sem nadar muito bem. Ele trabalhou bastante essa parte de motivação e sempre disse que era possível. Acho que também é um dos pilares para eu chegar até onde estou hoje”, contou Ítalo. Volkers é australiano e trabalhou com Cielo em 2014, depois da primeira parceria entre o campeão olímpico de 2008 e o norte-americano Scott Goodrich – os dois voltaram a trabalhar juntos no início deste ano.

Quando treinou Cielo, Volkers elegeu o controle mental como um dos principais focos. Ele chegou a dizer que desejava ver o nadador “menos intenso”. Nesta quarta-feira, curiosamente, foi exatamente esse controle mental o maior teste para Ítalo. O nadador chegou ao Troféu Maria Lenk com o segundo tempo do Brasil nos 50 m livre (havia feito 22s08 em Palhoça-SC, em dezembro do ano passado), mas foi superado por Cielo na eliminatória da manhã.

“Dormi uns 15 minutos. Não consegui dormir mais do que isso por causa do nervosismo, mas já venho fazendo um trabalho para controle de ansiedade e nervosismo. Sabia que a pressão seria grande, justamente por estar disputando a vaga com o Cesar. Acho que muita gente estava esperando que eu nadasse bem. Eu estava muito ansioso para nadar na casa de 21s”, relatou Ítalo.

A questão do controle de ansiedade tornou-se ainda mais nevrálgica para o novato por causa de um imprevisto. O Estádio Aquático Olímpico teve uma queda de energia antes da sessão final desta quarta-feira, e o início dos 50 m livre foi postergado de 17h para 17h45.

“Respirei, acalmei os batimentos cardíacos, fiz bolas, fiz flexões.... Coisas para ativar a musculatura e ficar calmo de novo. Voltei para o balizamento faltando um tempinho, respirei de novo, concentrei na prova e nadei”, disse o nadador classificado para os Jogos.

Ítalo tem 24 anos e estuda administração de empresas em Belo Horizonte. É descrito por pessoas que trabalham com ele como um atleta extremamente determinado. Sobretudo porque precisa compensar a discrepância de altura: tem apenas 1,80m, estatura que é, por exemplo, 19 centímetros menor do que a do francês Florent Manaudou, atual campeão mundial e olímpico dos 50 m livre.

A altura é uma questão especialmente relevante na prova mais rápida da natação masculina. A maior parte dos atletas de altíssimo nível tem grande estatura – Manaudou é apenas um exemplo. O COB (Comitê Olímpico do Brasil) e a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) até costumam usar isso para enaltecer Bruno Fratus, 26, que hoje é o melhor velocista do país a despeito de ter “apenas” 1,87m.

“Por sermos menores, temos uma alavanca de braço menor e conseguimos imprimir uma velocidade de braçada maior, também. Foi sobre isso que nós trabalhamos, e isso é um ponto forte meu: a eficiência de nado com a frequência alta para poder compensar, analisou Ítalo.

Após ter conquistado a vaga olímpica, o nadador fará uma clínica de três dias da CBDA e do COB no Rio de Janeiro e retomará os treinos em Belo Horizonte (MG). Ítalo já estabeleceu meta para os Jogos Olímpicos deste ano: nadar os 50 m livre em 21s5. “O que eu posso dizer é que eu sou mineirinho, mesmo. Gosto de ficar na minha, comer pelas beiradas e sou um cara superdeterminado. Quando eu coloco uma coisa na cabeça eu vou atrás”, avisou.

Antes, porém, o velocista pensa em celebrar a vaga olímpica. Pai, mãe, irmão e namorada de Ítalo estavam no Estádio Aquático nesta quarta: “Tem de ser tranquilo, até porque o trabalho não acabou. Vai ser algo bem light, assim como foi o ano novo para mim. Meu ano novo foi a base de água de coco e frios porque tudo estava voltado para isso [a seletiva olímpica]”.

Topo