Caminho para vaga olímpica exige marca que Cesar Cielo não faz há um ano
Guilherme CostaDo UOL, no Rio de Janeiro
Na piscina do Estádio Aquático Olímpico, no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, atletas disputavam na tarde da última sexta-feira (15) a seletiva derradeira da natação brasileira para os Jogos Olímpicos deste ano. A alguns metros, ainda na área de competição, um sorriso chamava atenção. Maior interrogação no evento que vai fechar o time nacional para a Rio-2016, Cesar Cielo, 29, conversava de forma animada com o ex-nadador Gustavo Borges e com um dirigente do Minas Tênis Clube, time que ele representa. Para alguém que hoje representa a maior interrogação do evento e que precisa obter em alguns dias uma marca que não aparece há mais de um ano, a serenidade virou notícia.
Cielo é o principal nome da natação brasileira em todos os tempos. Tricampeão mundial dos 50m livre (Roma-2009, Xangai-2011 e Barcelona-2013), o brasileiro também amealhou três pódios olímpicos (ouro nos 50m livre e bronze nos 100m livre em Pequim-2008; em Londres-2012, bronze nos 50m livre). Por todo esse lastro, o fato de ter chegado à última seletiva sem ter índice para a Rio-2016 o transformou no grande ponto de interrogação da piscina do Estádio Aquático Olímpico.
“É um atleta que a gente tem de reverenciar e que é o melhor da história da natação brasileira”, elogiou Ricardo de Moura, diretor-executivo da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos).
Cielo precisa fazer 22s27 nos 50m livre, prova em que é especialista, para obter índice para os Jogos Rio-2016. Em 2016, a melhor marca do brasileiro esteve próxima disso (ele tem um 22s28, 28º tempo do planeta na temporada).
Contudo, o índice não é o único objetivo nos 50m livre. A prova é competitiva no Brasil, e cinco atletas superaram a marca na primeira seletiva, em 2015, em Palhoça-SC. Bruno Fratus (21s50), Ítalo Duarte (22s08), Marcelo Chierighini (22s17), Matheus Santana (22s17) e Henrique Martins (22s25) já estão abaixo do necessário.
A última marca de Cielo abaixo de 22s08 foi registrada no Troféu Maria Lenk de 2015, no dia 8 de abril, quando ele nadou os 50m livre em 21s84. No entanto, foi essa competição que marcou o início de uma temporada extremamente atribulada para o brasileiro.
No Maria Lenk de 2015, Cielo perdeu a supremacia nacional para Bruno Fratus, que foi campeão e depois encerrou o ano como melhor brasileiro dos 50m livre (21s37, a segunda do planeta).
Depois disso, Cielo abdicou de nadar os Jogos Pan-Americanos e se focou no Mundial de Kazan (Rússia). Entretanto, sentiu dores no ombro e deixou a competição antes de sequer nadar os 50m livre. Com isso, foi destronado pelo francês Florent Manaudou, atualmente o melhor velocista do planeta.
Cielo também deixou a primeira seletiva olímpica, em Palhoça, antes de nadar os 50m livre. O nadador saiu da cidade após ter tido um desempenho frustrante nos 100m livre – não se classificou sequer para a prova final.
O desafio de Cielo no Maria Lenk deste ano, portanto, é superar o índice (22s27) e os velocistas que já obtiveram a marca. Mas isso também passa diretamente por uma retomada do próprio nadador, cujo desempenho caiu desde abril do ano passado.
A oscilação de Cielo corrobora os efeitos de um ciclo extremamente atribulado. O nadador trocou de técnico seis vezes entre 2012 e 2016, apostou em diferentes modelos de treinamento, oscilou entre Brasil e Estados Unidos e se isolou na fase final de preparação para o Maria Lenk.
A seletiva olímpica está sendo disputada no Parque Olímpico da Barra da Tijuca até a próxima quarta-feira (20). A disputa dos 50m livre está marcada para o último dia (eliminatórias às 9h30 e finais às 17h).