Nuzman admite cobrança do COI pela indefinição sobre ministro do Esporte
Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, admitiu nesta terça-feira, durante sabatina do jornal Folha de S.Paulo, que tem sido cobrado pelo Comitê Olímpico Internacional pela falta de definição sobre o Ministério do Esporte.
“Bom, essa questão do ministro é natural e até completando, a repercussão é grande. Não tem a menor dúvida e não podia ser diferente. A gente é questionado sempre como as coisas que estão acontecendo aqui. Não ter ministro de Esporte é destaque pela mídia e pelo COI. Mas é importante destacar que a organização tem composição de setores envolvidos e ministro é um deles. E dentro do me tem uma secretaria que controla e está muito ligada. É natural que a gente queira ter um ministro, que é importante pra todos nós. Os esclarecimentos que são pedidos são naturais e independem dos Jogos serem no Rio. Existe trocas de governantes ou de ministros. É claro e natural que nos perguntem”, falou.
O Brasil está sem ministro do Esporte de fato desde a saída de George Hilton da pasta, apesar de ele ainda não ter sido exonerado no Diário Oficial. Interinamente, o cargo é ocupado por Ricardo Leyser.
Veja mais trechos da entrevista de Nuzman:
Cenário politico
O Brasil vai fazer grandes Jogos. É o pais que vai organizar, o Rio será a cidade. Todas as questões, sejam políticas ou econômicas, não têm trazido influência direta na organização dos Jogos, na construção dessa organização. É importante destacar que fazemos jogos sem dinheiro público e em linha de organização com governos e sociedade civil.
Projeção de medalhas
Ainda bem que não fui eu que disse. Em quantas entrevistas eu falo em números de medalhas? Quem falou vai ter de responder. Esporte é desafio, mexe com a autoestima dos atletas. Nós entendemos que era importante colocar desafio. A ideia é tentar ficar entre os 10 primeiros no total de medalhas. Nós temos de homenagear todos os medalhistas. Isso é o que realmente estamos fazendo. De onde elas podem vir, não sou eu que vou dizer.
Zika vírus
É uma questão mundial. Governo federal fez campanha enorme, com repercussão muito grande. Nossa grande população é população brasileira. Os Jogos têm duas semanas, os atletas vão embora e a população fica. Esse trabalho está sendo feito pelo governo e também da nossa parte. O que está ao nosso alcance a gente tem feito pra que não haja nenhum foco que possa estimular a presença do mosquito.
Receio com Zika
A questão do Zika tem influencia no cotidiano de poder saber como está sendo tratado. Exemplo é o Around The Rings, que tem jornalista no Rio que pegou vírus Zika. Ele conta a experiência dele e diz que não é nada que se imagina. É muito menos, não deixou de trabalhar normalmente. Isso teve uma repercussão enorme.
Manifestação de outros países
Alguns comitês manifestaram preocupações nos colocando que o atleta vai se quiser. Eu queria lembrar que isso foi feito em outros Jogos. Todos lembram da ação de poluição em Pequim (Olimpíada de 2008), dos ciclistas americanos que desceram de máscara e todos acabaram competindo.
Baía de Guanabara
É bom lembrar que ela (Baía de Guanabara) sediou mais de dez mundiais de vela, Pan, dois eventos teste para Jogos Olímpicos, Ocean Race, todas sem nenhuma queixa ou reclamação. Mais ou menos 15 municípios estão em volta, mas áreas de competição são do lado oposto. Essa questão da água é questão de limpeza. Não vamos tratar de correção de esgotos que têm décadas. Nós tratamos muito mais sobre isso. Me recordo de coletiva em Londres em que me foi questionado se estávamos fazendo exames de bactérias. Respondi não só de bactéria, mas se OMS (Organização Mundial de Saúde) quiser, fazemos de vírus, só preciso do protocolo. A OMS disse que não tinha nenhuma questão sobre vírus. Essa foi a história. Temos atletas morando no Rio há mais de um ano, treinando sem problema.
Opinião das Confederações
É natural que cada Confederação defenda seu melhor. Nós entendemos isso, algumas realmente colocaram. A de vela, eles deram todos os laudos favoráveis a ter água em condições. É impossível fazer esse destaque em relação a essas atitudes. Elas defendem o seu produto. Nós estamos defendendo o nosso, que é organizar os Jogos da melhor forma e mais econômica possível. Tóquio já mudou boa parte do que estava na apresentação quando ganhou os Jogos. Isso faz parte de questão geral. O importante é ter esse convite favorável e grandes partes estarem satisfeitas e impressionadas. Estamos satisfeitos com isso. A arena da natação talvez seja a melhor da historia dos Jogos, e ela é só para natação. As arenas tinham salto. Não adianta dizer que tinham 15 mil pessoas se um terço não via a as provas. Não adianta dizer que tinham 15 mil pessoas se um terço não via a as provas porque não estavam vendo.
Obras de ciclismo
A única instalação que teve atraso foi velódromo. É uma pista complexa de madeira, importada, difícil. Tivemos alguns atrasos em relação a preparação da área para receber a pista e agora um bloqueio de obras do Ministério do Trabalho. Com COI e UCI (União Internacional de Ciclismo), chegamos à conclusão que era melhor fazer a pista com calma e dar oportunidade de que no fim de junho os ciclistas das Olimpíadas fizessem um treino com correções. Acho que todos ficaram contentes
Legado
Jogos não representam apenas legado esportivo, tem estrutura, educação, meio-ambiente. O Parque Olímpico e da Barra. É a 1ª vez que tem dois parques. O da Barra pertence à prefeitura. Ela fez algumas das obra. Ela foi magnífica, econômica, não gastou dinheiro. E algumas outras com recursos do governo federal. Nós, olímpicos, não temos condições de pagar a manutenção dessas instalações. Prefeitura está fazendo concorrência para saber como administrar. Nós temos condição de trabalhar a área técnica, mas manutenção não nos diz respeito. Deodoro pertence ao exército e a União, feito com recursos do governo federal e executado pela prefeitura. O que temos a responder é sobre isso. Quero registrar os trabalhos feitos, especialmente pela prefeitura, das instalações e dos parques. O legado que fica para toda a América Latina. Instalações que não tiveram em outros Jogos.
Aprendi uma lição, eu cuido da minha cozinha, que é a parte técnica, que faço em qualquer lugar. Temos mais de 25 atletas olímpicos que cuidam e se preparam. Os órgãos políticos vão responder as perguntas que vocês fazem, mas eu tenho certeza que eles vão.
Instalação do COB?
É possível que a gente continue com Maria Lenk. Fizemos instalação de treinamento, tem talvez melhor laboratório de treinamento da América Latina. Foi doado pela Finep. Todos os esportes fazem teste de esforço físico dentro do Parque Maria Lenk. Se na negociação ele tiver de entrar, nós vamos ter de compreender. Gostaríamos de ficar porque estamos estruturados e nesse caso pagamos a manutenção.
Ingressos dos Jogos
Nós achamos que teremos ingressos vendidos. O costume no Brasil é deixar sempre em cima da hora. Conheço muita gente esperando que os ingressos vão à bilheteria. E do paraolímpico é questão que sucesso dos Jogos que vai atrair gente pros Paraolímpicos. Brasil tem atletas que nos deixam muito orgulhosos.
Hospedagem
Em todos os jogos acontece isso. Você tem razão. Muitos que tiveram quartos vazios foi estratégia de que no início as pessoas achavam que iam ganhar muito dinheiro. Espero que tenham bom senso de baixar o custo. Fiquei feliz de ter Congonhas e Santos Dumont aberto 24h e poder assistir competição e voltar sem precisar dormir no Rio, apesar de que é bom dormir no Rio.
Acampamentos
Isso na Copa foi movimento muito grande, sei que governos estão preparados. Não cabe a nós tratar da mesma forma que não tratou das casas que os países costumam usar para receber atletas. Não é função da organização dos Jogos. Está sendo trabalhado pelos organismos públicos.
Impacto da não venda de ingressos
A avaliação disso tem de ser depois. A venda de ingressos é muito importante, está dentro do nosso orçamento e por isso esperamos assiduidade grande da venda de ingressos e esperamos ter as nossas instalações cheias.
Como vai ser lembrado
Rio começou a trabalhar na redução de custos desse gigantismo antes da agenda 2020. Nosso objetivo era diminuir o tamanho do que aconteceu em Pequim e Londres. Nós partimos para orçamento muito menor. Pequim foi o mais caro da história. Nós deveríamos fazer com metade com o que fez Londres. Divide orçamento em três. Um é COL, outras são instalações necessárias, outras são as estruturas das cidades. Nós procuramos e lutamos para diminuir instalações e sua capacidade no Rio. Rio vai deixar exemplo do que é possível diminuir e está aproveitando.