Brasileira símbolo da escolha da Rio-2016 hoje tenta reaprender a correr
Guilherme CostaDo UOL, no Rio de Janeiro
O tempo já foi aliado de Bárbara Leôncio, 24. Não apenas pelas marcas expressivas obtidas nas pistas, mas porque a velocista brasileira conseguiu antecipar etapas no processo de formação: em 2007, aos 16 anos, foi campeã mundial de menores dos 200m rasos e ainda amealhou um quarto lugar nos 100m rasos. Em 2009, o talento precoce do atletismo foi escolhido para estrelar um vídeo dirigido pelo cineasta Fernando Meirelles, peça-chave na candidatura bem-sucedida do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016. O tempo é hoje o maior inimigo de Bárbara Leôncio. A menos de cinco meses da cerimônia de abertura, ela ainda sonha com a chance de estar nos Jogos que ajudou a levar para o país-natal. Antes disso, porém, ainda precisa reaprender a correr.
A data limite para obtenção de índice da Rio-2016 é o dia 11 de julho. Até lá, Bárbara tem de correr os 100m rasos em 11s32 ou os 200m rasos em 23s20. Ela jamais conseguiu esses resultados. De 2009 para cá, aliás, a velocista apenas se afastou disso: as melhores marcas da carreira dela seguem sendo 11s52 nos 100m (em 2007) e 23s48 nos 200m (em 2009).
No malfadado caminho para deixar de ser apenas promessa, o primeiro obstáculo para Bárbara foi físico. A corredora teve problemas musculares na coxa e uma lesão no menisco do joelho esquerdo. Precisou ser submetida a uma intervenção cirúrgica em 2010. “Na época em que participei da candidatura eu já não estava numa fase muito boa. Estava prestes a operar”, contou a velocista ao UOL Esporte.
Ainda na seara física, Bárbara teve problemas como anemia profunda, dengue e pneumonia. Ela ficou dois anos sem disputar competições internacionais entre 2010 e 2012 e não obteve índice para os Jogos Olímpicos de Londres.
O lado técnico também pesou: antes da competição na Inglaterra, Bárbara deixou de treinar com Paulo Servo, técnico dela desde 2000. A parceria foi retomada em 2014, e isso fez com que a velocista tivesse de rever conceitos biomecânicos. Segundo avaliação dele, a atleta vinha empregando uma dose muito alta de força no meio da prova e havia aumentado consideravelmente o número de passadas – nos 100m, por exemplo, ela passou de 48 para 56.
“A questão é mais técnica, mesmo. Quando eu mudei de treinador, ele queria uma coisa. Quando voltei para o Paulo, ele queria outra. Nesse meio tempo eu sofri bastante”, admitiu Bárbara.
No entanto, numa comparação entre a Bárbara que era esperança em 2007 e a Bárbara que faz seus últimos esforços pela Olimpíada em 2016, nada mudou mais do que o comportamento fora das pistas. A atleta fez 13 tatuagens, colocou 300ml de silicone em cada seio, entrou na faculdade de educação física e deixou de dormir no chão de um cômodo que compartilhava com oito pessoas. Tão depressa como os resultados na pista chegou a responsabilidade de ser esteio da família.
Em 2012, logo depois da ruptura, Paulo Servo chegou a dizer que todo esse processo fez mal a Bárbara. “Ela não vive mais no Planeta Terra. Deixou de ser a pessoa determinada que era”, avaliou o treinador ao jornal carioca “Extra”.
A queda de rendimento teve reflexos diretos em questões fora da pista. Bárbara foi excluída do Time Rio e perdeu patrocínios. Em 2012, aos 21 anos, não conseguiu correr os 100m em menos de 12s e teve 26s58 como melhor marca nos 200m.
O processo de reinvenção, portanto, não incluiu apenas aspectos biomecânicos. Bárbara pediu para treinar com o Time Brasil no Maria Lenk e tem conversado com especialistas bancados pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) para saber como voltar a evoluir.
A velocista treina hoje em dois períodos diários. “Fora da pista é descanso, dieta e disciplina, algo que meu treinador cobra muito”, listou.