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Luiza Almeida diz como afeto com cavalos pode valer na Rio-16: "É como pet"

Christina Louise/Divulgação
Luiza Almeida, amazona brasileira, posa para fotos com seu cavalo Vendaval imagem: Christina Louise/Divulgação

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

Se você tem um cachorro de estimação, provavelmente cumpre com ele uma rotina diária que envolve brincadeiras, passeios e carinho. Pois saiba que esse mesmo cuidado, só que com outro animal, pode ser o segredo para um bom desempenho nos Jogos Olímpicos. Para chegar à Rio-2016 em harmonia com seus cavalos, a amazona Luiza Almeida conta que seus treinos vão muito além de exercícios elaborado, repetições e movimentos técnicos.

“No adestramento, até mais do que em outras [modalidades do hipismo], essa harmonia é muito importante”, diz a atleta, em entrevista ao UOL Esporte. “Eu tenho momentos de lazer e prazer com ele. Ir com ele num pasto e ficar com ele lá. Ou ficar puxando na mão, levar para comer grama, dar banho, você mesma dar comida. Chega a ser natural. O cavalo é um pet pra gente”, completa.

“Ele”, no caso, é Vendaval, principal montaria de Luiza Almeida para os Jogos Olímpicos. Representante verde-amarela no adestramento em Pequim-08 e Londres-12, o maior nome da modalidade no país está com o mesmo cavalo desde setembro do ano passado.

Christina Louise/Divulgação
Detalhe do ensaio com Luiza Almeida olhando de perto o cavalo Vendaval imagem: Christina Louise/Divulgação

Com Vendaval, Luiza Almeida já garantiu o índice olímpico e deve passar o próximo mês competindo pela Europa. É a etapa final de um longo processo de entrosamento entre atleta e animal. Juntos, eles convivem diariamente em Dusseldorf, na Alemanha, onde ela está concentrada com seu técnico trabalhando para ir à sua terceira Olimpíada.

E a relação afetuosa com o cavalo nesse processo é tão importante que virou tema para um ensaio de fotos. No último mês, Luiza foi procurada pela fotógrafa Christina Louise para um ensaio que tinha como objetivo retratar essa proximidade entre atletas e animais. Ao lado de Vendaval, a brasileira posou para as fotos que ilustram essa entrevista.

“Ela mandou email para o meu técnico e eu aceitei. O Vendaval foi fofo. Ficou lindo. É muito bonita essa conexão entre cavalo e cavaleiro. É baseado em respeito, que precisa ser mútuo. Cavalo não é que nem cachorro, que ama todo mundo. Você tem de conquistar essa confiança, esse respeito. Sou suspeita para falar, mas eu acho linda essa ligação”, derrete-se Luiza Almeida.

Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista da amazona ao UOL Esporte:

Experiência de suas Olimpíadas anteriores fará diferença

“Com certeza eu melhorei como amazona. O nosso esporte é diferente, quanto mais velho ele for melhor. Os cavaleiros que lutam por medalha estão com 40 anos para cima. Cada ano a mais conta. O cavaleiro tem de ser muito frio e concentrado. Os cavalos sentem tudo que a gente está sentindo. Se você entrar inseguro você passa isso para o seu animal”

Expectativa para Rio-2016 é ir à semifinal

“Eu venho fazendo notas altas como eu nunca fiz. Hoje o cavalo que eu estou é o melhor que eu já tive. A gente está focando em passar para a semifinal. Somente 25 passam para o segundo dia. Esse é o nosso foco. Vejo uma melhora que eu venho tendo. Acho que além de eu estar mais experiente, estou com cavalo que tem um potencial”

Primeiro cavalo tinha mais coração que técnica

“O Samba [primeiro cavalo que ela teve na carreira] tinha um coração maior do que ele era bom tecnicamente. Ele era um cavalo muito especial, dava sempre o melhor dele. Tecnicamente falando ele era inferior ao Pastor [cavalo que Luiza usou em Londres-12]. Eu só escolhi o Pastor pelos resultados e objetivos. O Samba faleceu no começo do ano. O Vendaval é um novo cavalo que compramos em setembro. Tive sorte da gente ter uma conexão rápida, teve relação rápido. Fazer concentração é importante para passar esse tempo com ele. São quatro horas diárias de manhã e à tarde. Tem de conviver.

Rotina diária faz diferença para os resultados na Rio-16

“No adestramento, até mais do que em outras [modalidades do hipismo], essa harmonia é muito importante. A gente brinca com o pessoal do salto que se você soltar o cavalo ele salta sozinho [risos]. No adestramento é muito importante saber as reações. Eu tenho momentos de lazer e prazer com ele. Ir com ele num pasto e ficar com ele lá. Ou ficar puxando na mão, levar para comer grama, dar banho, você mesma dar comida. Chega a ser natural. O cavalo é um pet pra gente. É muito importante seu cavalo confiar no cavaleiro para que ele confie em você se acontecer qualquer coisa adversa. São pequenos detalhes. Se ele gosta da chuva ou não gosta, se ele fica estressado com outros animais... Tem de estar muito atento a eles já que eles não falam”

Hipismo é esporte caro e atleta depende da técnica do cavalo

“Eu acho que dá para comparar em certa proporção com a Fórmula 1. No fim das contas você pode ser ótimo piloto, mas se não tiver a máquina não vai conseguir chegar lá. É bastante complicado, principalmente no Brasil em que o hipismo não é muito visado. A gente tenta pegar uma carona pela popularidade do salto, que tem mais patrocínios e visibilidade. Todos os cavaleiros lidam com isso. Eu tenho a sorte de que minha família toda é envolvida. Meu pai é criador de cavalos”

Luiza recebe do Exército, mas dinheiro ainda não é suficiente

“Eu entrei no Exército em 2011. O Exército tem sido uma parceria incrível. É uma super honra poder representá-lo. Eles fazem parte da melhoria dos meus resultados, só que o hipismo é bastante complicado, porque é muito caro e acho que a gente sentiu de ter de sair no Brasil. Os cavaleiros todos vieram para a Europa porque não conseguimos fazer as competições em casa. Quando se vai para a Europa os custos aumentam. Eu tenho uma grande ajuda do Exército e do governo. Só que às vezes não é o suficiente porque é um esporte caro.

Como é ver manifestações contra o governo de longe?

“Ontem [16 de março, dia em que uma manifestação contra o governo Dilma tomou a av. Paulista, em São Paulo] foi um dia muito emocionante para mim. Fiquei acordada até as 3h, recebendo vídeos dos meus amigos e familiares. Acho que é muito bonito ver nosso povo se unir por uma causa maior. Fiquei com muita vontade de estar lá. Se estivesse no Brasil com certeza teria ido. É um momento único que a gente está vivendo e espero contar daqui a 20 anos como o povo brasileiro acordou”
 

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