! Atropelamento e quase morte. Quem é o ciclista brasileiro que vai aos Jogos - 10/03/2016 - UOL Olimpíadas

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Atropelamento e quase morte. Quem é o ciclista brasileiro que vai aos Jogos

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

Cair, se ralar, levantar e sentir na pele a dor e a ardência de cada tombo. É assim que Gideoni Monteiro trilha o caminho para ser um dos principais ciclistas brasileiros de todos os tempos. No Rio de Janeiro, colocará fim ao jejum de 24 anos do país sem presença nas provas de pistas dos Jogos Olímpicos, na disputa do Omnium. O último havia sido Fernando Louro, em Barcelona-1992

Este é apenas mais um passo - ou melhor, pedalada, na carreira de Gideoni.

Uma carreira que já teve um atropelamento por caminhão que quase o vitimou fatalmente em 2012 e um tombo que o deixou conhecido durante o Pan-Americano de Toronto (CAN), em 2015, no qual ficou com a medalha de bronze.

"Quando cheguei na Vila (Pan-Americana) todo mundo tinha ficado sabendo do tombo e mostrou preocupação. Recebi um carinho muito grande de gente que nem me conhecia e também do público. Foi algo que me deixou muito feliz, pois estava ali representando a bandeira do meu país, que é o que amo fazer", afirmou ao UOL Esporte

AP Photo/Felipe Dana
Gideoni com a perna ralada após tombo no Pan de Toronto imagem: AP Photo/Felipe Dana

"Ciclista tem muito disso, de cair e levantar, mesmo porque todos andam muito próximos. Geralmente fica mais ardido que dolorido, acaba incomodando. Mas é algo com o qual a gente acaba se acostumando", continuou.

O acidente no Pan foi leve e apenas o fez sangrar e deixou o local ardido. Nada semelhante com o choque com o caminhão há quatro anos. Gideoni treinava em uma estrada na região de Ribeirão Preto (SP), quando foi atingido de frente pelo veículo.

"O caminhão estava na contramão e não me viu. Acabou sendo um choque de frente. Dei sorte de sair vivo. Tive uma fratura exposta no braço direito, uma luxação e escoriações pelo corpo. Tive de colocar uma placa para ligar os ossos que tenho até hoje. Fiquei três meses parado, mas consegui voltar bem, graças a Deus", disse o cearense de 26 anos.

No Mundial de Londres, na semana passada, Gideoni voltou a cair na prova de eliminação - uma das seis que compõem o Omnium - mas nem isso o atrapalhou para conquistar a vaga olímpica. Com a classificação assegurada, a meta agora é conseguir um bom desempenho competindo frente à torcida brasileira.

"Claro que é muito difícil de ganhar uma medalha, mas todos que estão ali (são 18 competidores no total) têm condições de levar uma medalha. Ninguém caiu ali de para-quedas. Acho que dá para ficar no Top-10 ou no Top-5. Agora que tenho a vaga, é pensar em como fazer bem esta preparação", afirmou o ciclista.

Divulgação
Gideoni Monteiro após ser atropelado por caminhão em 2012 imagem: Divulgação

Começo no ciclismo por influência do tio

Nascido em Groaíras, pequena cidade do Ceará, em 1989, Gideoni se mudou para Aracaju, quando tinha apenas dois anos de idade.

E foi na capital sergipana que começou a dar suas primeira pedaladas em 2003, por influência do tio.

"Ele tinha uma loja de bike e montou uma para mim. Ele começou a me colocar nas corridas de rua e fui pegando o gosto. Meu tio foi o prncipal incentivador e meu primeiro patrocinador", contou.

Gideoni tem vida de cigano

A mudança para Aracaju quando pequeno não foi a única que Gideoni fez em sua vida. Por causa do ciclismo, já viveu na Itália e na Suíça. No Brasil, se reveza atualmente entre Indaiatuba, no interior de São Paulo, e Maringá (PR), onde treina com a seleção.

"Levo mesmo uma vida de cigano, cada hora estou em um lugar", afirmou.

"Depois de começar em Aracaju, resolvi ir competir por uma equipe pequena de Iracemápolis (SP). Em 2009, recebi convite de uma equipe italiana da região de Treviso e fiquei três anos lá. Fui na raça, sem falar italiano, sem conhecer ninguém., Morava com meus comapnheiros de equipe e sempre depois dos treinos eu estudava sozinho para poder me comunicar. Mas foi uma ótima experiência", contou.

Depois de três anos na Itália, voltou ao Brasil e passou por equipes de Ribeirão Preto e Santos. Também costuma ir para a Suíça treinar no centro da União Ciclística Internacional (UCI).

Só faz dois anos que virou especialista no Omnium

Gideoni sempre foi um ciclista de provas de estrada e até hoje as disputa e usa como parte de seu treinamento. Foi só a partir de 2014, que decidiu se especializar no Omnium, a prova mais completa do ciclismo de pista e que só entrou no programa olímpico em Londres-2012.

E os resultados vieram rápido, com títulos brasileiros e a entrada na seleção brasileira.

"Vi que era uma nodalidade que se adqueava às minhas características e na qual é preciso ser muito resistente, pois disputamos seis provas em dois dias. Mas para ser sincero, não imaginava que teria um sucesso tão rápido. Disputar a Olmpíada será realização de um sonho", finalizou.

Disciplina é a mais completa do ciclismo

O Omnium é disputado em dois dias, com seis provas, cada uma valendo 40 pontos. Quem somar mais é o vencedor. Aas provas são:

Scratch
Para os homens, prova de 15 km (60 voltas) em que o pelotão larga junto e ganha quem chegar na frente.

Perseguição individual
Prova de 4 km (16 voltas) com dois ciclistas que largam em lados opostos pista e vence quem fizer o melhor tempo.

Prova de eliminação
Os ciclistas largam juntos e a cada duas voltas o último é eliminado, até restar apenas um.

Contrarrelógio
cada ciclista tem direito a dar quatro voltas (total de 1km). Vence quem fizer o melhor tempo.

Volta lançada
Cada ciclista dá uma volta e vence quem fizer o melhor tempo.

Corrida por pontos
Prova com 160 voltas (total de 40km), com pontuação a cada dez voltas. Quem fizer mais pontos vence.
 

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