Agora aposentado, Emanuel será tutor de atletas brasileiros na Rio-2016

Guilherme Costa
Do UOL, no Rio de Janeiro

A história do vôlei de praia nas Olimpíadas também é a história de Emanuel. O brasileiro de 42 anos disputou as cinco edições dos Jogos em que o esporte esteve presente (Atlanta-1996, Sydney-2000, Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012) e conquistou três medalhas (ouro em Atenas-2004, bronze em Pequim-2008 e prata em Londres-2012). Nome mais vencedor da modalidade em todos os tempos, anunciou nesta semana que a Rio-2016 não vai ser adicionada a essa lista. Não dentro de quadra, pelo menos. Ele e Ricardo haviam sido escalados como dupla reserva do Brasil, mas o paranaense decidiu se aposentar depois do Grand Slam do Rio de Janeiro, que acontecerá entre os dias 8 e 13 de março. Em vez de saques, cortadas e bloqueios, a rotina de Emanuel na próxima edição dos Jogos Olímpicos incluirá palestras, consultorias e torcida.

Emanuel já foi escalado pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) para fazer parte da delegação do país na Rio-2016. O jogador de vôlei de praia, que é formado em coaching e faz palestras, será responsável por conversar com atletas sobre a vida na vila olímpica. Além disso, terá ajudará na preparação motivacional do Time Brasil.

A participação de Emanuel nos Jogos ainda incluirá uma consultoria para a CBV (Confederação Brasileira de Voleibol) e uma participação como torcedor. “Nas cinco edições em que eu estive, não pude ver outras modalidades ou dar um voto de confiança aos atletas porque estava focado no meu trabalho. Talvez agora eu possa”, disse o jogador em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Desde o anúncio da aposentadoria, Emanuel também foi procurado para trabalhar como comentarista de TV na Rio-2016. Ainda não respondeu, mas as propostas só corroboraram: a trajetória dele nas Olimpíadas pode ter acabado nas quadras, mas ainda está longe do fim.

Confira abaixo os principais trechos da conversa com Emanuel:

“Acredito que lá fora todo mundo conhece o vôlei de praia do Brasil e que isso em parte se deve às minhas vitórias”, diz Emanuel

"É muito tempo para pensar em tudo que eu construí. Um dos objetivos que eu tinha era representar o Brasil, e isso eu acho que consegui com louvor. Acredito que lá fora todo mundo conhece o vôlei de praia do Brasil e que isso em parte se deve às minhas vitórias. A outra parte era dar orgulho à minha família. Desde quando eu saí de casa, aos 17 anos, eu queria mostrar que era capaz de fazer algo que desse orgulho a eles. Esse segundo objetivo eu também cumpri.

Minha carreira valeu a pena. Cada minuto, cada dificuldade, cada choro. Na vida do atleta a gente tem momentos de tristeza, mas esses momentos nos fazem dar a volta por cima. No esporte eu aprendi isso".

Por que Emanuel decidiu parar de jogar agora

"Neste momento é ficar orgulhoso que tem uma nova geração de atletas chegando. Por ter orgulho do esporte, vi que eu não conseguia acompanhá-los. Essa foi a primeira coisa. O próximo objetivo sem ser a Olimpíada seria o Mundial de 2017, e aí eu teria mais um ano. Aí eu analisei que não poderia acompanhar essa nova geração. Tenho orgulho por ter uma nova geração que está jogando muito bem, mas com isso eu acelerei minha decisão".

O que Emanuel pretende fazer na Rio-2016

“Na Olimpíada eu já recebi convites para fazer parte dos comentários da televisão. Já estou vendo um trabalho no COB para fazer parte da missão olímpica, motivar os atletas e dar uma consciência do que é a vida nos Jogos. Também tenho uma missão dentro da CBV [Confederação Brasileira de Voleibol] como consultor das equipes que vão. Preciso de um tempo para saber como posso contribuir da melhor forma.

Talvez sentir as emoções das Olimpíadas de forma diferente. Nas cinco edições em que eu estive, não pude ver outras modalidades ou dar um voto de confiança aos atletas porque estava focado no meu trabalho. Talvez agora eu possa”.

O que Emanuel pretende fazer depois da Rio-2016

"Eu tenho uma visão muito característica. Todas as gerações anteriores à minha não tiveram acesso à parte interna da gestão esportiva e ficaram à margem disso. Não sei por quê, mas isso aconteceu no passado. Hoje, as leis do esporte, a mentalidade e a filosofia atual são para ter esses heróis dentro da gestão. Por isso se ampliaram as comissões de atletas, e os atletas que são ídolos fazem parte do processo de renovação. Essa vai ser minha bandeira: tentar fazer com que atletas bem-sucedidos e de nome façam com o coração e com a experiência o que tiveram dentro das quadras. Vai ser minha tentativa de virada: fazer com que o esporte tenha gestores, como tem hoje, mas tenha também pessoas que estiveram nas quadras. Desde que preparadas, é claro, porque muitos atletas não se preparam adequadamente para estar na gestão".

Como o mundo do esporte reagiu à aposentadoria

"Foram dias fantásticos. Recebi homenagens e palavras sinceras dos mais diversos. Pessoas de outros esportes, da minha família, amigos, jogadores de vôlei de praia. Jogadores que eu não tenho contato no vôlei de praia, que participaram do qualifying e eu não vejo jogar. Um deles me ligou, se apresentou e disse que eu sou um grande ícone e fiz o esporte melhor. Disse que sentiria minha falta. Se um jogador do qualifying tem esse sentimento, foi muito forte a decisão. Foi de surpresa, também, porque todo mundo viu que eu estava saudável. Tinha acabado de ser campeão brasileiro em 2015 e estava no alto rendimento. Acho que foi um choque".

O que Emanuel pensa de Emanuel

"Tenho uma noção. Por isso assumo a responsabilidade muitas vezes de estar à frente dessas comissões de atletas e na representação no Comitê Olímpico do Brasil. Sei que minha imagem, o que eu construí e meus títulos me dão bagagem para proteger o esporte e responder as melhores perguntas com relação a tudo que o esporte representa.

Percebi muito isso quando eu voltei de Atenas, em 2004. Na mente do atleta você só joga, e a impressão que dá é que ninguém percebe. Quando eu voltei de Atenas, desfilei em carro de bombeiros no Rio e em João Pessoa. Vi que isso movimentou muitas pessoas e vi os comentários. Quando cheguei ao Rio depois disso, um taxista disse que parou de trabalhar para me ver jogar. O cara parou de ganhar o dinheiro dele para me ver jogando. Três adolescentes disseram que começaram a jogar na semana seguinte ao título, na escolinha de vôlei de Ipanema. Então, esse tipo de depoimento demonstra que a sociedade modifica conforme os resultados acontecem no esporte. Ali eu comecei a me engajar e ajudar. Ali eu disse que queria estar mais perto, fazer eventos mais populares e participei disso. Entendi ali a importância que o esporte tinha para modificar a sociedade".

“Último torneio vai ser o mais importante da carreira”, diz Emanuel

"Semana que vem a etapa do Rio de Janeiro vai ser a mais importante da minha carreira. As pessoas vão estar me olhando, e não o jogador que vai estar representando o Brasil. Acho que a pressão vai ser grande, mas vai ser para finalizar. É para demonstrar que eu fiz tudo que eu podia para melhorar esse esporte".

Para Emanuel, faltam ídolos para o futuro do esporte brasileiro

"Acho que nós temos de repensar nossos heróis. Os heróis que nós temos foram construídos há muito tempo, e eu acho que nós temos que ter novos heróis. A construção dos heróis é difícil porque tem de ter vontade própria do atleta para ceder o tempo, estar próximo e entender a necessidade do esporte, mas também da comunidade do esporte para apoiá-lo".