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Por que o Aberto do RJ importa para o Brasil e não para outros na Rio-2016

Luiz Pires/FOTOJUMP

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

O Rio de Janeiro vai sediar em agosto de 2016 as Olimpíadas. A menos de seis meses de o Maracanã receber a abertura do evento, porém, pouca gente está preocupada com isso no Jockey Club Brasileiro, sede do maior torneio de tênis da cidade. Entre os atletas que disputam o Aberto do Rio de Janeiro, o discurso mais recorrente contém raciocínios como "ainda é cedo para pensar nisso", "tenho outras prioridades no momento" e "são poucos os elementos daqui que podem servir como parâmetro". Menos para uma dupla brasileira. Para Bruno Soares e Marcelo Melo, uma coisa tem muito a ver com a outra.

Melo e Soares não são uma dupla no circuito mundial de tênis, mas resolveram jogar juntos no Aberto do Rio de Janeiro e no Aberto do Brasil, a partir de 22 de fevereiro, em São Paulo. Com isso, transformaram os dois eventos em preparação para os Jogos Olímpicos – eles não serão apenas representantes do país no Rio de Janeiro, em agosto, mas entrarão em quadra com o status de grande esperança de uma medalha inédita na modalidade.

"A gente está numa situação em que a gente não tem muito a ganhar. Se ganhar os dois torneios, eles tinham de ganhar. Se perder, precisa melhorar para as Olimpíadas. A gente está tranquilo com o trabalho e entende que são condições diferentes, mas a melhor coisa é sentir o clima da quadra aqui", disse Soares.

Atual número 10 do ranking mundial de duplas, Soares já conquistou dois títulos de duplas masculinas na temporada 2016. Jogando ao lado do inglês Jamie Murray, o brasileiro venceu inclusive o Aberto da Austrália. Melo vive uma fase ainda melhor: campeão de seis torneios ao lado de Ivan Dodig no ano passado, em lista que contempla Roland Garros e o Masters 1000 de Paris, fechou 2015 como o melhor duplista do planeta.

"A possibilidade [de uma medalha] é claríssima. Vejo de forma natural que todos pensem assim", avaliou Gustavo Kuerten, ex-número 1 do mundo na chave masculina de simples. "O Brasil tem uma chance muito clara de obter uma medalha no tênis dos Jogos Olímpicos, algo que nunca aconteceu, e essa chance é a dupla Bruno e Marcelo", corroborou Maria Esther Bueno, maior nome feminino do país na história da modalidade.

Os principais brasileiros no panteão do tênis não são os únicos que apostam em Melo e Soares. A dupla faz parte, por exemplo, de uma lista que é acompanhada com minúcia pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) – o grupo é composto pelas esperanças mais palpáveis de pódio para o país na Rio-2016. Durante todo o ciclo, isso significou mais investimento e "cortou caminhos" para ambos. Agora, também representa um pouco de pressão.

"A gente sabe que se jogar bem tem condição de ir longe, como em todos os torneios que a gente joga. A pressão faz parte do nosso dia a dia, e também vai ser assim nas Olimpíadas. A gente tem entrado na quadra com a sensação de estar jogando bem e estar no melhor momento, mas é preciso fazer dentro de quadra", ponderou Soares.

Curiosamente, o bom momento também é a justificativa para Melo e Soares não terem transformado a parceria em algo perene até os Jogos Olímpicos. Como têm rendido bem com Dodig e Murray, respectivamente, os brasileiros preferiram manter seus atuais conjuntos e se reunir apenas ocasionalmente. Isso dá uma dimensão do quanto o Aberto do Rio de Janeiro passou a ser relevante na programação.

"Da minha parte, foi tranquilo. Todo mundo sabe que este ano é especial pelas Olimpíadas e que esse tipo de coisa acontece. No fim do ano eu conversei com o Jamie e disse que o lance do Brasil estava aberto e que a gente podia tentar orquestrar isso. Ele é um cara muito tranquilo e levou numa boa", relatou Soares. "O Ivan, desde que eu virei número 1 do mundo, disse que faria tudo que eu quisesse. Quando eu voltar a ser número 2 isso não vai rolar mais", completou Melo em tom de brincadeira.

Por serem eminentemente duplistas, Melo e Soares têm estilos que facilitam um encaixe nesse tipo de jogo. Além disso, já atuaram juntos anteriormente. A grande vantagem de formarem dupla nos torneios disputados no Brasil, portanto, é conhecer um pouco do ambiente que encontrarão nas Olimpíadas, com favoritismo e pressão das arquibancadas, e aprimorar a comunicação em quadra.

"A gente se conhece há muito tempo. A gente sabe o que o outro pensava, a forma de conduzir. Mas a gente tem conversado bastante nas viradas de lado, e isso elimina conversas entre um ponto e outro. É um aspecto positivo", analisou Melo.

A dupla brasileira voltará à quadra nesta sexta-feira (19), quando Melo e Soares terão pela frente o sérvio Dusan Lajovic e o austríaco Dominic Thiem. O duelo vale uma vaga nas semifinais do Aberto do Rio de Janeiro.

E os outros tenistas? Por que não pensam em Jogos Olímpicos?

Há vários motivos para os tenistas que disputam o Aberto do Rio de Janeiro criarem pouca associação entre o evento e os Jogos Olímpicos. O primeiro é o próprio local: o Jockey Club Brasileiro não será uma instalação usada na Rio-2016 – as partidas de tênis serão disputadas em uma arena construída recentemente no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, na zona oeste da cidade.

A diferença de ambiente também passa pelo piso. O Aberto do Rio de Janeiro é disputado no saibro, e os Jogos Olímpicos terão partidas em quadra rápida.

No entanto, poucos elementos são tão díspares quanto o clima. O Aberto do Rio de Janeiro acontece no verão, com altíssimo índice de umidade e um ambiente que intercala forte calor e chuvas mais intensas ainda. Em agosto, período reservado aos Jogos Olímpicos, a previsão é que o Rio de Janeiro esteja mais seco e menos quente.

"Os Jogos Olímpicos são um objetivo para a minha temporada, certamente, mas eu ainda não estou classificado. Espero estar aqui novamente para a minha última participação nos Jogos, mas estou focado apenas no Aberto do Rio de Janeiro", disse o espanhol David Ferrer, 33, que já esteve em duas edições olímpicas.

"Não estou pensando nisso ainda. Os Jogos Olímpicos estão distantes, e o que eu quero hoje é jogar meu melhor tênis. Penso em semana após semana", completou o também espanhol Rafael Nadal.

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