"Garota-problema" no passado, Iziane vira líder do Brasil para Rio-2016
Guilherme CostaDo UOL, no Rio de Janeiro
As Olimpíadas são um sonho para a maioria dos atletas. Iziane, 33, tem um motivo especial para pensar assim sobre a Rio-2016. A ala-armadora da seleção brasileira de basquete feminino perdeu as duas edições anteriores dos Jogos por polêmicas fora das quadras e chegou a anunciar o término de sua história na equipe nacional. Agora, mais do que vislumbrar uma nova chance de disputar a competição, o que ela tem é uma oportunidade de fazer isso com outro status. De volta ao time verde-amarelo, a “garota-problema” de outrora agora se acostuma à condição de líder.
Essa faceta ficou clara no evento-teste do basquete feminino para os Jogos Olímpicos, em janeiro deste ano, na Arena Carioca 1. Além de ter sido um dos principais pilares do ataque do Brasil, Iziane chamou atenção pelo comportamento.
“Hoje eu tenho uma responsabilidade. Tenho 12 anos de seleção e disputei campeonatos no mundo inteiro. Algumas meninas olham para você e esperam que você aporte um pouco ou lidere o time de certa forma”, admitiu Iziane.
Iziane chegou à seleção brasileira em 2001. No ano seguinte, transformou-se a jogadora mais nova da WNBA (liga profissional de basquete feminino dos Estados Unidos). Construiu carreira sólida em clubes e na equipe nacional, mas ficou ainda mais marcada por polêmicas.
Em 2008, no Pré-Olímpico disputado na Espanha, Iziane discutiu com o técnico Paulo Bassul durante a prorrogação de um jogo contra Belarus e se recusou a entrar na quadra. Acabou ali o sonho da ala-armadora, que já havia disputado as Olimpíadas de Atenas-2004.
Depois disso, Iziane voltou à seleção brasileira. Chegou a ser convocada para os Jogos de Londres-2012, mas foi cortada por ter levado o namorado para a concentração da equipe nacional em Lille (França) antes do torneio.
Aí começou uma estiagem. Iziane ficou afastada da seleção brasileira até junho de 2015, quando foi convocada pelo técnico Luiz Claudio Zanon para um período de treinamentos em Campinas. Disputou a Copa América no Canadá em agosto – o Brasil terminou em quarto lugar.
“Acho que as coisas que aconteceram servem como amadurecimento. São situações que a gente passa e que acabam ensinando. Sinto falta de não ter ido a duas Olimpíadas por questões fora de quadra. Eu perdi como atleta, mas também perdeu o grupo”, avaliou a jogadora.
Atualmente, Iziane defende o Sampaio Basquete. O time é um dos que não aderiram ao boicote promovido POR equipes nacionais ao evento-teste realizado em janeiro. Sete atletas convocadas pelo técnico Antonio Carlos Barbosa declinaram, e isso apenas ampliou a responsabilidade da ala-armadora.
“Eu estou muito feliz. Agora já estou imaginando como vai ser a Olimpíada”, admitiu Iziane. “Hoje sou uma atleta mais madura, quase no fim da carreira, e acho que tenho de passar experiência para as meninas”, completou.
Todo esse contexto é fundamental para entender a importância da mudança de postura de Iziane. “Estou feliz porque são poucos os atletas que têm a oportunidade de disputar uma Olimpíada em casa. Acho que seria um fechamento superbom para minha carreira na seleção. Voltei a jogar com o Barbosa [técnico] e com amigas que eu tenho na seleção. Acho que pode ser uma coisa muito positiva”, concluiu a jogadora.