Empresa não paga operários, atrasa 2 arenas e vira problema para Rio-2016
Vinicius KonchinskiDo UOL, Rio de Janeiro
A construtora carioca Ibeg Engenharia tornou-se o mais novo problema da preparação do Rio de Janeiro para a Olimpíada de 2016. Responsável pela construção de duas arenas que farão parte do evento olímpico (o Centro Olímpico de Tênis e o Centro Olímpico de Hipismo), a companhia passa por uma crise. Não tem pago fornecedores nem funcionários, além de atrasar o cronograma de execução de projetos considerados essenciais para os Jogos Olímpicos, que começam daqui a pouco mais de 200 dias.
Por causa das dificuldades enfrentadas pela Ibeg, nos primeiros dias do ano, a empresa já foi alvo de dois protestos de operários demitidos do Centro Olímpico de Tênis. Acabou também cobrada publicamente pela Prefeitura do Rio de Janeiro pelo não-cumprimento de prazos na obra do Centro de Hipismo. Tanto a obra do Centro de Hipismo como a obra do Centro de Tênis estão atrasadas.
Orçada em mais de R$ 200 milhões, a construção do Centro de Tênis começou em novembro de 2013. Deveria ter sido concluída em setembro de 2014. Hoje, entretanto, 10% do projeto ainda precisa ser executado, segundo a prefeitura.
Desde o início do ano passado, a obra das quadras de tênis apresenta problemas. Em fevereiro, o TCU (Tribunal de Contas da União) já apontava que o estado do projeto era “crítico”. Em março, o canteiro de obra foi parcialmente interditado por dias pelo Ministério do Trabalho por conta da falta de segurança para operários. Tudo isso colaborou para que o espaço não estivesse completamente pronto em dezembro, quando foi realizado no Rio o evento-teste de tênis para Olimpíada.
Mesmo em obras, o Centro Olímpico de Tênis abrigou o evento-teste. Foi, inclusive, elogiado por atletas. Acontece que, dias depois da competição, operários que trabalharam na construção foram demitidos. Segundo o Sintracost-Rio (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil do Município do Rio) nenhum deles recebeu as verbas rescisórias a quem têm direito.
Por causa da falta de pagamento, os demitidos já realizaram duas manifestações em frente ao Parque Olímpico: uma na quinta-feira (7) e outra na sexta. Na quinta, após o protesto, um incêndio atingiu um container instalado no Centro de Tênis. A polícia investiga se o incêndio é criminoso e tem relação com a manifestação.
Todos os demitidos são, na verdade, funcionários do Consórcio Ibeg/Tangram/Damiani. O grupo de empresas é quem venceu a licitação para a obra do Centro de Tênis. Ele é liderado pela Ibeg.
Notificação por atraso no hipismo
A Ibeg atua sozinha na adaptação do Centro de Hipismo de Deodoro para a Olimpíada, projeto de R$ 157 milhões. O trabalho no local tampouco corre como o esperado. Tanto é assim que a prefeitura publicou na sexta-feira (8), no Diário Oficial do Município, uma convocação para que a Ibeg dê explicações sobre a situação do projeto. Convocação parecida já havia sido feita em dezembro, mas foi ignorada pela empresa.
“Tendo em vista o atraso verificado no cronograma da obra, a baixa mobilização e o não atendimento a convocação publicada no Diário Oficial de 07/12/15, fica essa empresa [a Ibeg] convocada a apresentar defesa prévia, no prazo de cinco dias úteis, estando sujeita a sanções administrativas contratuais e legais”, comunicou a administração municipal.
O município não deu mais detalhes sobre a atuação do Ibeg na obra do Centro de Hipismo pois aguarda um posicionamento da empresa. O percentual de andamento do projeto não tem sido divulgado. A data de entrega da obra segue marcada para o segundo trimestre de 2016.
Pedido de falência negado
No final do ano passado, a empresa Linha Viva, locadora de caminhões e guindastes para grandes obras, solicitou à Justiça a falência da Ibeg. A companhia alega ter contas a receber da construtora. Como os débitos não foram pagos, a Linha Viva pediu que a Ibeg seja liquidada para que seu patrimônio seja usado no pagamento de suas dívidas.
O processo foi aberto no dia 14 de dezembro, mas no dia 15 já foi extinto. O juiz Fernando Cesar Ferreira Viana, da 7ª Vara Empresarial do Rio, entendeu só a cobrança da Linha Viva não era suficiente para falência da Ibeg.
A construtora foi procurada pela reportagem do UOL três vezes desde quinta-feira para comentar os problemas apresentados em obras da Olimpíada. Não respondeu.