Campo de golfe nem foi usado e já gera atrito: confederação rebate prefeito
Vinicius KonchinskiDo UOL, no Rio de Janeiro
Uma das mais polêmicas instalações esportivas da Olimpíada de 2016 virou tema de mais uma discussão. O campo de golfe olímpico, que já foi alvo de suspeitas de crime ambiental e de corrupção, agora é foco de um atrito entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e a confederação brasileira da modalidade. O motivo? A conta da manutenção do espaço, que ainda nem foi usado em competições.
O campo foi inaugurado no dia 22. Menos de um mês depois, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, revelou problemas na manutenção do equipamento. “A confederação brasileira assumiu [o campo] e tinha um compromisso de manter, mas a gente não tem visto isso. Eles têm mandado as contas [para a prefeitura]”, disse ele no sábado (12), durante a cerimônia de entrega de outra arena olímpica, o centro de tênis.
Já na terça (15), Paes voltou a falar sobre o assunto. Ratificou que a CBG (Confederação Brasileira de Golfe) havia se comprometido em apresentar ao município um plano de negócios para a administração do campo. Isso, segundo Paes, não ocorreu. “Disseram que iam fazer um business plan. Até agora, nada.”
A CBG foi procurada pelo UOL Esporte na segunda-feira (16). Ninguém da entidade quis falar sobre o campo de golfe. A confederação pronunciou-se por meio de uma nota. Informou que a manutenção da instalação e seu preparo para a Olimpíada corre “dentro da normalidade” (leia a nota completa abaixo).
Leia abaixo o comunicado da CBG sobre o campo:
A CBG, que assumiu o Campo Olímpico de Golfe em 22/11, informa que está transcorrendo tudo dentro da normalidade com a manutenção e preparo do mesmo para a Olimpíada.
Além da manutenção, a maior responsabilidade da CBG será a construção do legado olímpico. A entidade já tem há alguns anos um plano bem estruturado para a construção desse legado. Fazem parte desse planejamento a criação de um Centro de Treinamento para amadores, profissionais e juvenis, que utilizará os equipamentos Flightscope X2 e SAM PuttLab, adquiridos em convênio com o Ministério do Esporte. Além dos 18 buracos, o Campo Olímpico possui um campo de treino, que servirá para a iniciação de novos jogadores.
Parte importante do legado tem a ver com a inclusão social, já que o Campo Olímpico será sede nacional do programa Golfe para a Vida, que já colocou mais de 50 mil crianças em contato com o esporte e em 2016 serao mais de 100.000. O espaço também abrigará uma escola de novos talentos, entre eles os identificados por meio do projeto, e a capacitação de treinadores e de profissionais para manutenção de campos de golfe, entre outras ações.
Campo custou R$ 60 milhões. "Golfe para quem?"
O campo de golfe da Olimpíada tem 970 mil metros quadrados e custou R$ 60 milhões. Quem pagou pela obra foi a Fiori Empreendimentos, dona do terreno onde fica a instalação esportiva. Para que empresa investisse no campo, contudo, a prefeitura do Rio a autorizou construir num terreno ao lado do equipamento esportivo um condomínio de prédios mais altos do que o anteriormente previsto na legislação municipal.
Ativistas de um movimento contrário à obra do campo, o “Golfe para Quem?”, afirmam que esse acordo é ilegal. Para eles, a prefeitura concedeu à Fiori Empreendimentos um benefício bem mais valioso que o investimento feito no campo. Essa acusação foi levada ao Ministério Público (MP), que abriu um inquérito para apurar uma possível improbidade administrativa do prefeito Paes no caso. Paes já disse que desconhece a investigação.
O MP ainda acusa a prefeitura e a Fiori Empreendimentos de desrespeitar leis ambientais. O campo de golfe fica numa área de proteção ambiental. Por isso, promotores afirmam que a obra não poderia ter sido realizada. Um processo judicial foi aberto. Município e construtora ressaltaram a regularidade do projeto. A Justiça, porém, ainda não tomou uma decisão sobre o assunto.
Legados
Além da regularidade na construção do campo, existe também um debate sobre o legado da obra para o Rio. O prefeito Paes já declarou que não construiria o campo caso ele não fosse uma exigência do COI (Comitê Olímpico Internacional).
Apesar disso, ele disse que espera que o espaço sirva para promover o esporte no Brasil e para incluir o Rio no circuito de grandes torneios da modalidade.
A CBG declarou que pretende instalar no campo um centro de treinamento para o golfe brasileiro. Informou também que o espaço será usado para projetos sociais.