Mãezona Dara vira "assassina" em quadra e é o motor da seleção de handebol
Gustavo FranceschiniDo UOL, em Kolding (Dinamarca)
Fabiana Diniz, a Dara, não é só a capitã da seleção feminina de handebol. O conjunto de qualidades que a fez receber a faixa, na verdade, ajuda a explicar o espírito da equipe campeã mundial. Em um instante, ela é a veterana que abdica da titularidade em prol do grupo. No outro, se transforma em uma espécie de mãezona que se preocupa em proteger as novatas. Quando está em quadra, porém, é o instinto “assassino” que domina.
A transformação é visual, como mostra o álbum de fotos acima. Fora da quadra, Dara tem sorriso fácil, é espontânea e esbanja simpatia. Quando o jogo começa, a diferença começa no protetor bucal, que só ela usa. Como um lutador de boxe, estreita os olhos, contrai o rosto e se coloca em posição de guerra. É com essa expressão que ela empurra a seleção como um motor.
“Eu não consigo nem olhar as fotos dos jogos [risos]. Todo mundo comenta isso. Lembram sempre aquele jogo contra a Hungria, nas quartas do Mundial passado. Falam que parece que tem duas Daras. Que é a Dara fazendo ‘darice’. Meu apelido é ‘Smiling Killer’ [assassina sorridente, em inglês]. Meu marido brinca: ‘Ainda bem que te conheci por foto de Facebook’”, diz ela, com o sorriso da Dara “boazinha”.
A postura “raçuda” passa adiante, ainda que em intensidades distintas. Foi essa capacidade de superação que permitiu ao Brasil empatar com a Coreia do Sul na estreia do Mundial da Dinamarca. Com uma atleta a menos, a seleção foi buscar o ponto decisivo no segundo final com um golaço de Alê Nascimento. Dara não participou da jogada, mas não há dúvida de que, ao mesmo tempo, algo dela estava lá.
A pivô é, ao lado de Dani Piedade, a atleta mais experiente do grupo que busca o bicampeonato mundial. E é justamente com a parceira de longa data que ela reveza constantemente em quadra. Melhor na defesa, Dara muitas vezes é usada pelo técnico Morten Soubak somente na marcação, estratégia que a deixa alijada de qualquer chance de fazer gols. Na partida da última terça contra a Alemanha, por exemplo, ela não chegou a arremessar para o gol nenhuma vez.
“[Defender bem] sempre foi uma característica minha. A gente faz isso em prol de uma causa maior”, diz a capitã. A causa maior é a vitória. Depois de uma década batendo na trave ao lado de companheiras talentosas, Dara levantou a taça do Mundial de 2013, na Sérvia. A vontade de ganhar mais um Mundial e, quem sabe, o ouro na Rio-2016, guia o grupo o tempo todo.
E para que isso aconteça, a engrenagem precisa estar completa. Na Dinamarca, a seleção mescla a base que venceu o Mundial há dois anos com uma série de novatas. No jogo contra a Alemanha, o erro de uma delas foi seguido de um tempo técnico. Dara sabia que a companheira iria levar uma bronca de Morten, que sempre mostra seu temperamento explosivo dentro de quadra. Prevenida, a chamou de canto e pediu que ela ouvisse calada, mas sem desviar o olhar. Deu certo.
“Isso tem a ver com a experiência. O que tento passar para elas é que no jogo a bronca pode parecer um pouco agressiva para quem não está acostumada. Talvez as mais novas estranhem. Ele é o técnico, faz parte”, conta Dara, que com isso “traduz” o técnico com quem trabalha desde 2009.
O instinto de proteger não é ocasional e diz muito sobre o futuro dela. “Ser mãe é um sonho que há alguns aninhos está um pouco mais à flor da pele. Não tinha nem marido e queria ser mãe [risos]. Eu já tinha pensado em parar com a seleção em 2012, mas aí saiu que a seguinte ia ser no Rio. Ali atrasei o sonho da maternidade. Agora que já está se aproximando, a dez meses dos Jogos, obviamente é uma coisa que eu quero”, conta Dara.
A capitã evita marcar datas. Não diz que este é seu último Mundial e nem fala muito sobre quando seria a despedida com a camisa verde-amarela. Só que a partir da Rio-2016, ser mãe pode passar a ser a prioridade. “São 22 anos jogando handebol. Mentalmente eu já tenho feito um trabalho com a psicóloga nessa transição de carreira. É jogar o Mundial agora tentando não pensar no Rio e depois do Rio a gente mergulha de cabeça”, diz Dara.