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'Handebol no país só piorou após título mundial', diz técnico da seleção

Wander Roberto/Inovafoto
Morten Soubak, técnico da seleção de handebol, fez críticas à estrutura do esporte imagem: Wander Roberto/Inovafoto

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Kolding (Dinamarca)

Um dos principais responsáveis pelo crescimento técnico que deu ao Brasil o título mundial de 2013 no handebol feminino, Morten Soubak não é otimista ao falar do futuro do esporte no país. Treinador da seleção desde 2009, o dinamarquês diz que a situação da modalidade não melhorou com a conquista histórica de dois anos atrás, na Sérvia.

“Antes, diziam: ‘Vocês vão ter algo depois de conquistarem um título’. Não é verdade. O handebol do Brasil só piorou depois do Mundial de 2013. A Liga Nacional tem poucos times e é muito curta. Eu não vejo clubes, cidades ou Estados investirem no handebol. É só fala”, disse o treinador, que busca o bi em seu país natal.

Morten falou com a reportagem durante a preparação para o segundo jogo do Brasil no Mundial, contra Congo (que acontece nesta segunda, às 13h, no horário de Brasília, com acompanhamento ao vivo do Placar UOL Esporte). Na conversa, o treinador opina sobre o handebol, as chances da sua equipe na competição e outros aspectos do esporte no país que receberá as Olimpíadas em 2016. 

Confira abaixo as melhores respostas do treinador:

Chances do Brasil em 2016
"Está igual para todo mundo [no Mundial]. E eu não vejo diferença para 2016. As equipes que irão às Olimpíadas já estão aqui, não vão mudar. Se você der uma olhada, em 2013 tivemos Brasil, Sérvia, Dinamarca e Polônia nas semifinais do Mundial. Um ano depois teve o Europeu. O Brasil obviamente não disputa, mas as quatro melhores foram Noruega, Espanha, Suécia e Montenegro. É tudo diferente. Pode esquecer a matemática que os jornalistas gostam".

O diferencial do Brasil
"Nossa força é o jogo coletivo e a superação. Isso pode fazer a diferença. Nós não somos o melhor time, como também não éramos em 2013, mas temos valores que levam a gente para frente, que criam lideranças. Conseguimos criar uma equipe competitiva, que acredita que o Brasil pode conseguir os resultados. Nós superamos a expectativa dos europeus. Agora eles têm um respeito diferente, a gente sente isso. Essa equipe tem um gosto, um sabor de ganhar. Isso só faz o time crescer. É muito legal trabalhar com uma equipe que tem esse sabor. Você sabe no fundo que é por isso que está aqui, para vencer".

Método de trabalho
"O primeiro objetivo era ter uma identidade. Quando eu cheguei ninguém conseguia me explicar como jogava o Brasil, mas todo mundo da seleção sabia dizer como jogava a seleção de futebol, ou seja, não se sabia como o próprio time jogava. Hoje tem europeu que fala que quer jogar como a gente. É uma mudança cultural muito grande. O handebol do Brasil era só quadra de cimentão, goteira e o car..."

Reconhecimento e mudanças pós-Mundial
"Não sinto isso [de crescimento de status], eu não sei. Você mora tão longe de onde o handebol está, que é na Europa... Mas é claro que a conquista com o Brasil deu um reconhecimento maior.  Eu não estou aqui para ganhar status. Estou para fazer o meu melhor pelo Brasil, e não pelo reconhecimento. Antes, diziam: ‘Vocês vão ter algo depois de conquistarem um título’. Não é verdade. O handebol do Brasil só piorou depois do Mundial de 2013.

A Liga Nacional tem poucos times e é muito curta. Eu não vejo clubes, cidades ou Estados investirem no handebol. É só fala. Faltam mais lugares para a molecada jogar. Não falo de estrutura escolar, que essa está boa, mas e aqueles craques do Mato Grosso? De Minas Gerais? Vão para onde? Eu digo isso porque eu venho de uma fábrica de talentos que é a Dinamarca. É uma fábrica de talentos que a cada ano produz atletas em nível altíssimo".

Como melhorar o cenário?
"Tem várias soluções. Você tem de procurar quem são os novos atletas. Há um ano e meio não tem atividade para as seleções juniores e juvenil. O último torneio foi em agosto do ano passado. Neste período a gente só teve um grande treino com jovens. Tem de procurar jogadores nos cadetes, nos juvenis e nos juniores. A coisa mais certa era ajudar essas jovens a ir jogar na Europa. Um convênio como o que já foi feito com o Hypo, da Áustria, por exemplo, seria muito bom".

É a Confederação que deveria cuidar disso?
"Algumas coisas sim, outras não. As atletas podem ir para a Europa por conta própria, por exemplo, mas um convênio é a confederação que pode fazer, assim como o trabalho de busca de talentos".

Brasil, futebol e a mídia
"A cultura no Brasil é que todo mundo sabe um pouco de futebol. Você vai no bar e fala de futebol, vai na padaria e fala de futebol... Isso é legal, é importante. Só que eu vejo muita gente também praticando algum esporte diferente. O negócio é que na mídia só tem o futebol. Aqui na Dinamarca, por exemplo, você tem de oito a dez jogos de handebol na TV por semana. E no futebol, no Brasil, quando você vai ao estádio você não vê as pessoas. Como é o país do futebol se nos EUA mais gente vai assistir aos jogos? Não me diga que os EUA gostam mais de futebol que o Brasil.

Eu vejo que o futebol, culturalmente, tem um grande peso nas mídias e para a população. Agora eu, como sou de outra modalidade, é claro que também gostaria de ver mais. O povo brasileiro é muito grande e talentoso. Se você colocar um brasileiro fazendo esqui, tenho certeza que ele vai ter sucesso. Agora, tem muitos elementos aí. Aqui na Dinamarca, por exemplo, basquete e vôlei não têm espaço porque o país não consegue produzir times bons de todos os esportes".

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