RJ vai gastar R$ 28 milhões em faxina paliativa de rios para Olimpíada
Vinicius KonchinskiDo UOL, no Rio de Janeiro
Após abandonar promessas ambientais feitas para a Olimpíada, a Prefeitura do Rio de Janeiro resolveu aplicar cerca de R$ 28 milhões numa faxina em rios e córregos que cruzam as duas principais grandes áreas de competição dos Jogos de 2016. Onze cursos d’água próximos ao Parque Olímpico, em Jacarepaguá, e ao Parque de Deodoro (veja lista abaixo) passarão por limpeza e desassoreamento até junho do ano que vem, às vésperas do início da Rio-2016.
O problema é que os efeitos desse trabalho não devem durar por muito tempo. Segundo a própria prefeitura, a limpeza dos rios será paliativa, ou seja, de eficácia temporária. Isso porque os problemas que causam a sujeira não serão combatidos.
Os rios de Jacarepaguá e de Deodoro sofrem com poluição e assoreamento devido à falta de saneamento básico na capital fluminense. Bairros inteiros próximos aos cursos d’água não têm coleta de esgoto. Por isso, dejetos acabam despejados diretamente em rios e córregos, e terminam acumulando-se em locais estratégicos para a Olimpíada de 2016. A poluída Lagoa de Jacarepaguá, que circunda o Parque Olímpico, é um exemplo disso.
Quando o Rio de Janeiro se candidatou a sede dos Jogos Olímpicos, governos chegaram a prometer a expansão da rede de esgoto da cidade. Obras foram iniciadas por Prefeitura e governo do Estado. Entretanto, foram insuficientes para evitar a constante degradação de rios de Jacarepaguá e Deodoro. Restou ao município, então, a limpeza –ainda que temporária-- visando aos Jogos Olímpicos.
Duas concorrências para contratação de empresas para execução dos trabalhos já foram lançadas pela Rio-Águas, órgão municipal responsável pela manutenção dos rios da capital fluminense. Uma delas prevê investimento de R$ 18,9 milhões para limpeza de rios próximos ao Parque Olímpico. Outra, já encerrada, resultou na contratação de uma companhia para limpeza dos rios próximos do Parque de Deodoro por R$ 9,6 milhões.
Questionada sobre uma solução definitiva para os rios, a Rio-Águas ratificou que ela “só será alcançada com o saneamento das regiões”.
Veja os rios que serão limpos para a Olimpíada:
Área do Parque Olímpico (custo estimado de R$ 18,9 milhões)
. Arroio Fundo
. Arroio Pavuna
. Pavuninha
. Canal de Sernambetiba
. Canal do Anil
. Canal da Avenida Isabel Domingues
Área do Parque de Deodoro (custo de R$ 9,6 milhões)
. Catarino
. Caldeireiro
. Marangá
. Marinho
. Piraquara
Promessas abandonadas
Durante a candidatura do Rio à sede da Olimpíada, a prefeitura assumiu o compromisso de construir cinco UTRs (unidades de tratamento de rios) em Jacarepaguá para evitar que a poluição que chega a curso d’água acabasse nas lagoas da região. Só uma foi feita. As outras quatro não saíram do papel.
A administração municipal também assumiu a responsabilidade de sanear a região de Deodoro depois que o Rio foi escolhido sede dos Jogos de 2016. O trabalho deve estar 40% concluído durante a Olimpíada.
Já o governo do Estado prometeu limpar as lagoas de Jacarepaguá para a Rio-2016, porém desistiu de concluir a tarefa antes do evento. A despoluição da Baía de Guanabara também é um compromisso olímpico estadual. Não será cumprido.
Primeiro passo
Para o engenheiro ambiental David Zee, da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), a diferença entre o que foi prometido para a Olimpíada e o que será realizado, na área ambiental, é grande. Apesar disso, ele comemorou o “primeiro passo” dado pela prefeitura para a melhoria das condições de rios e córregos na zona oeste do Rio.
“Uma longa caminhada começa com um primeiro passo”, disse Zee, ao UOL Esporte. “A limpeza dos rios não resolve o problema, mas pode ser um marco. Pode mudar o aspecto péssimo desses locais e até aumentar a consciência da população para que ela também colabore e não jogue lixo na água.”
O biólogo Mario Moscatelli também criticou a falta de compromisso de governantes com o meio ambiente. Reforçou que a limpeza dos rios olímpicos é muito pouco perto do que ainda precisa ser feito. Mesmo assim, disse que o trabalho terá benefícios para o meio ambiente e população, ainda que temporários.
“O desassoreamento melhora o fluxo d’água, ajuda na circulação. Mas, se nada mais for feito, os rios voltarão a virar verdadeiros valões de esgoto”, disse. “Tem que haver vontade política para seja feito o que realmente é necessário. ”