Cinco motivos mostram: conquistar o bi mundial no handebol não será fácil
Gustavo Franceschini*Do UOL, em Kolding (Dinamarca)
Chegar ao topo é difícil, mas manter-se lá é muito mais. A máxima é batida, mas ainda assim é válida para a seleção feminina de handebol, que neste fim de semana inicia a disputa pelo bicampeonato mundial na Dinamarca. Alçada ao posto de favorita pela conquista de 2013, a equipe verde-amarela terá bem mais trabalho que há dois anos.
As explicações vão da pressão que o novo status traz ao acúmulo de lesões em jogadoras importantes. O que separa o Brasil do que seria um feito histórico no país nórdico:
1 - Fator psicológico pode pesar
As jogadoras são unânimes ao apontarem Morten Soubak como o principal responsável pelo salto de qualidade que a seleção deu nos últimos anos. O argumento que consagra o técnico dinamarquês sempre gira em torno da capacidade que ele teve de convencer o talentoso elenco de que ele conseguiria enfrentar de igual para igual as potências europeias.
Seguir batendo forças históricas do handebol como Noruega e Dinamarca, então, é um novo desafio. Em entrevistas recentes, Alexandra Nascimento e Duda Amorim, as duas maiores estrelas do time, ressaltaram que o novo status adquirido vai trazer consigo uma cobrança até então inédita para elas.
Morten Soubak, o mesmo técnico que as ergueu em 2013, tenta baixar a bola das pupilas dois anos depois. No fim de semana passado, durante o período de treinos em Brasília, o treinador fez questão de dizer que discorda de quem aponta o Brasil como favorito e disse que não se surpreenderia se sua equipe saísse do Mundial mais cedo.
"Temos uma seleção totalmente competitiva que pode ganhar uma medalha, mas que também pode cair nas oitavas de final", disse o dinamarquês, taxativo.
2 - Condição física do time não é das melhores
O Brasil manteve a base vencedora de 2013, mas algumas de suas principais peças chegam ao Mundial abaladas por lesões graves. Duda Amorim, melhor jogadora do mundo em 2014, voltou a jogar há poucos meses após uma ruptura do ligamento cruzado do joelho esquerdo. Dara, capitã e um dos destaques da seleção na defesa, teve uma trombose na perna esquerda e também retornou em cima da hora.
Embora tenham feito a maior parte da preparação para o Mundial com a seleção, as duas não disputaram o Pan e não chegam à Dinamarca na melhor fase. Além delas, Morten Soubak não pôde contar com Hannah e Mayara, peças importantes no primeiro título, também por conta das lesões.
O resultado é uma seleção forçosamente mais jovem, que o próprio Morten aponta como mais frágil que a anterior.
3 - Treinar no mesmo time fazia muita diferença
Em 2013, a maior parte da seleção jogava junto todo dia. A convivência extensa era fruto de uma parceria da CBHb com o Hypo, clube austríaco que disputa a Liga dos Campeões de handebol e empregava seis das sete titulares do título mundial na Sérvia - a única exceção era Duda Amorim, do húngaro Gyori.
"É difícil falar se este grupo é mais forte que o de 2013. Acho que não somos mais fortes do que aquele time, mas estamos tentando dar um avanço em alguns elementos. É um grupo que está confiante no que está fazendo, com uma experiência bacana, mas que não está tão enxuto como o de 2013. Aquele time vinha de dois anos seguidos jogando no Hypo, agora isso acabou. Isso faz diferença, não há dúvida", explicou Morten Soubak.
A parceria se desfez meses depois das conquistas. Valorizadas, as brasileiras ficaram caras demais para o clube austríaco e se espalharam pela Europa. Ainda que algumas ainda estejam juntas nos clubes, a vantagem que o Brasil tinha de uma seleção quase permanente hoje não existe mais.
4 - Ano pré-olímpico e as rivais estão mais fortes
Em 2013, na Sérvia, o Brasil foi à semifinal de um torneio de peso pela primeira vez em sua história. Embora não fosse desconhecida, a seleção também não era favorita à conquista, posto ocupado por equipes como Noruega, Dinamarca, Sérvia e Hungria.
Com um conjunto de grandes atuações, o Brasil derrubou a maior parte dessas potências e tornou-se a primeira seleção sul-americana a vencer o Mundial – e a segunda não-europeia, depois da Coreia do Sul. Agora, o time de Morten Soubak aparece em todas as listas de favoritos e é destrinchado por todos os treinadores rivais, que estudam os pontos fracos e fortes do time verde-amarelo.
5 - Cruzamento no mata-mata
Teoricamente, o Brasil é a maior força do Grupo C, que ainda tem França, Coreia do Sul, Alemanha, Argentina e Congo como candidatos às quatro vagas disponíveis. O problema é que, em um Mundial tão parelho como o de handebol, um cruzamento mais duro no início do mata-mata pode significar uma eliminação precoce.
Foi assim com o Brasil nas Olimpíadas de Londres, por exemplo. Depois de uma primeira fase perfeita, a seleção caiu na chave da Noruega, que bateu Duda, Alê e companhia nas quartas para abrir caminho até seu bicampeonato olímpico. Desta vez, a mesma Noruega pode entrar no caminho.
A seleção nórdica, que venceu o Europeu do ano passado e segue como uma grande potência, é a cabeça-de-chave do Grupo D, que cruzará com o do Brasil nas oitavas. Além da Noruega, Espanha, Romênia e Rússia, outras seleções de peso, são opções para a equipe verde-amarela logo no primeiro mata-mata.
*Colaborou Daniel Brito, em Brasília