Aconselhado por Bolt, brasileiro tenta derrubar jejum olímpico de 28 anos
Guilherme CostaDo UOL, no Rio de Janeiro
O Brasil só teve um finalista dos 100m rasos na história dos Jogos Olímpicos – Robson Caetano, quinto colocado em Seul-1988. Em 2016, no Rio de Janeiro, corre sério risco de não contar sequer com um representante na disputa. Tudo isso dá medida do quanto é alto o sonho de Aldemir Gomes, 23, que tem apenas o décimo tempo do país na temporada (10s37). No entanto, o corredor possui um trunfo: desde 2012, quando compartilhou a pista com o jamaicano Usain Bolt, 29, o atual bicampeão da prova se transformou numa espécie de conselheiro do brasileiro.
Na primeira bateria eliminatória dos 200m rasos de Londres-2012, Aldemir, então com 20 anos, fez 20s53 e perdeu apenas para Bolt, que completou o trajeto em 20s39. “Foi um momento sensacional na minha vida. Eu era jovem, tinha passado para uma semifinal e estava acompanhado de uma estrela como ele”, relatou o brasileiro nascido no Rio de Janeiro (RJ).
As trajetórias dos dois começaram a se distanciar depois disso. Bolt saiu de Londres-2012 como bicampeão olímpico dos 100m, dos 200m e do revezamento 4x100m. Aldemir, que nem disputou os 100m, parou nas semifinais dos 200m (não conseguiu repetir o desempenho da preliminar e fechou o percurso em 20s63).
Contudo, Bolt não se esqueceu de Aldemir. “Eu entendo pouco de inglês, mas ele sempre tenta manter contato comigo quando nos encontramos em alguma competição. Ele sempre me procura para conversar”, contou o brasileiro.
Foi assim no Mundial de atletismo de 2015, disputado na China. Aldemir estava insatisfeito com seu rendimento nos 200m rasos (fez 20s59 e ficou na 36ª posição) e foi abordado por Bolt, que obteve a medalha de ouro da prova.
“Eu saí um pouco chateado por não ter conseguido alcançar minhas metas. Ele veio até mim e falou: ‘Cara, este ano é apenas mais um na nossa vida. Ano que vem vai ser O ano. Preste atenção no que eu estou falando. Ano que vem vai ser o nosso ano’. Um cara assim falando isso.... É o recordista do mundo, e eu tenho de respeitar”, disse Aldemir. “O recordista do mundo falando para você que você pode ser bom é como o Pelé dizendo para um moleque novo que ele vai conseguir se dar bem no futebol”, completou.
As interações entre Bolt e Aldemir têm um aspecto curioso: o brasileiro trata o jamaicano com deferência, mas jamais se refere a ele como ídolo. “Ele é um cara diferenciado, é lógico, mas é um adversário. Estou me dedicando ao máximo para ser um competidor no ano que vem”, finalizou o carioca.
As melhores marcas de Aldemir são 10s20 nos 100m rasos e 20s32 nos 200m rasos. Para se classificar para a Rio-2016, um atleta precisa fazer 10s16 e 20s50.
Em 2015, a melhor marca do Brasil nos 100m rasos foi feita por Vitor Hugo Santos (10s22). O recorde do país na prova é de Robson Caetano (10s00 em 1988).