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A 262 dias da Rio-2016, governo surpreende e demite homem-forte do Esporte

Carol Guedes/Folha Imagem
Ricardo Leyser foi exonerado da Secretaria-Executiva do Ministério do Esporte imagem: Carol Guedes/Folha Imagem

Guilherme Costa e Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

A 262 dias do início dos Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro, o Ministério do Esporte do Brasil exonerou seu principal executivo ligado ao evento. Ricardo Leyser deixou nesta terça-feira (17) a secretaria-executiva do órgão em que trabalhou nos últimos 13 anos. A demissão foi surpreendente para atletas, dirigentes e até para ele.

Leyser soube da exoneração nesta manhã. Segundo o UOL Esporte apurou, ele trabalhou no ministério até as 21h30 de segunda-feira. Foi informado da demissão depois de ela ter sido publicada na edição no Diário Oficial da União. Horas depois, o Blog do Cruz já noticiava o fato.

“Espero que não haja descontinuidade principalmente no trabalho de apoio à preparação de atletas para a Olimpíada, que começa em 262 dias”, disse Lars Grael, iatista e presidente do Conselho Nacional de Atletas.

“Plano Brasil Medalha, Bolsa-Atleta, construção de novos centros de treinamento, envolvimento e ajuda na organização da Rio-2016. Ele se dedicou a construir a ideia de esporte no Brasil”, completou Ricardo Trade, CEO da CBV (Confederação Brasileira de Voleibol) e ex-secretário de alto rendimento do Ministério do Esporte.

Leyser ingressou no Ministério do Esporte em 2003, na fundação da pasta, como assessor de Agnelo Queiroz (PCdoB), primeiro nome escolhido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a área. No mesmo ano, assumiu a Secretaria Nacional de Esporte Educacional.

Entre 2005 e 2007, Leyser foi secretário-executivo para os Jogos Pan-Americanos de 2007, que também foram sediados no Rio de Janeiro, e teve papel preponderante na organização do evento. Depois, trabalhou diretamente na candidatura carioca para receber os Jogos Olímpicos de 2016 –o projeto foi declarado vitorioso no dia 2 de outubro de 2009.

Em junho de 2010, o TCU (Tribunal de Contas da União) condenou Leyser a devolver R$ 18 milhões aos cofres públicos por irregularidades cometidas na época do Pan. Segundo o jornal “O Globo”, a conta incluiu, por exemplo, R$ 4,1 milhões de pagamentos feitos em duplicidade. O dirigente se declarou inocente e chegou a dizer que a decisão parecia coisa encomendada para atingi-lo. Além disso, recorreu e foi inocentado posteriormente.

Nessa época, Leyser já havia mudado novamente de cargo no ministério. O dirigente assumiu em 2009 a Secretaria Nacional de Alto Rendimento – substituiu Djan Madruga, exonerado em fevereiro daquele ano.

Na secretaria, Leyser estreitou o contato do governo com confederações esportivas e atletas. Trabalhou pela reformulação de políticas de apoio governamental a esportistas e foi um dos grandes responsável pelo plano Brasil Medalhas, lançado em 2012 visando a colocar o Brasil entre os dez países com mais medalhas na Olimpíada de 2016 (nos Jogos de 2012, o país foi 22º).

No início deste ano, Leyser foi alçado a secretário-executivo do Ministério do Esporte após uma reformulação na pasta realizada no início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. O controle do ministério foi entregue por Dilma a George Hilton (PRB). Hilton manteve Leyser no órgão devido à sua experiência no setor esportivo. A menos de 9 meses do início da Olimpíada de 2016, o ministro exonerou Leyser e nomeou Marcos Jorge de Lima para seu lugar.

Lima é presidente do PRB em Roraima. Foi superintendente federal da pesca no Estado. Do início do ano até agora, era secretário de Cultura do governo de Roraima.

Confira a repercussão da saída de Leyser do Ministério do Esporte:

Lars Grael, iatista e presidente do Conselho Nacional de Atletas

“Leyser adquiriu conhecimento trabalhando no Pan-2007, Copa-2014 e na organização da Rio-2016. Faço votos que ele seja aproveitado ainda dentro do governo. Soube de sua demissão pelo blog do José Cruz. Nunca ouvi falar do novo secretário. Espero que não haja descontinuidade principalmente no trabalho de apoio à preparação de atletas para a Olimpíada, que começa em 262 dias.”

Ricardo Trade, CEO da CBV (Confederação Brasileira de Voleibol) e ex-secretário de Alto Rendimento no Ministério do Esporte

“Trabalhei com ele [Ricardo Leyser] durante os Jogos Pan-Americanos, e a gente teve uma relação excelente. Depois ele me indicou para o ministro [George] Hilton para substitui-lo na Secretaria de Alto Rendimento, mas por razões de família eu não pude ficar. Tenho um carinho enorme pelo Leyser. Acho que ele fez muito pelo esporte brasileiro. Ele mudou a história do esporte. Ele se dedicou a construir uma ideia de esporte no Brasil abrindo um leque grande, não beneficiando apenas um Estado, federação ou modalidade”

Maurren Maggi, ex-atleta e medalha de ouro em salto em distância em Pequim-2008

“Fui surpreendida pela notícia. Espero que, independentemente de quem está no Ministério do Esporte, o trabalho voltado à Olimpíada não pare. Neste momento, ninguém pode mudar muita coisa. O que está foi iniciado tem que acabar. Espero também que o escolhido para o lugar de Leyser esteja preparado para o trabalho. Entregar uma Olimpíada é uma bomba.”

Alaor Azevedo, presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa

“Eu não estava sabendo de nada. Fiquei sabendo pelo grupo de Whatsapp dos presidentes das confederações. Alguém postou uma notícia sobre o assunto e todo mundo ficou sabendo. Eu já tinha ouvido rumores, mas não imaginava que fosse acontecer.”

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