Lutadoras brasileiras relatam medo em Paris e ficam sem competir

Maurício Dehò e Vanderlei Lima
Do UOL, em São Paulo
Arquivo Pessoal
Lutadoras Josiane (esquerda) Lima e Julia Vasconcelos estavam em Paris no momento dos atentados

Duas lutadoras brasileiras de taekwondo acabaram afetadas pelos ataques terroristas em Paris. Além de viverem todo o clima de apreensão diante dos incidentes, elas acabaram sem competir, após gastarem altos valores para viajar à França - em torneios que valem como preparação para as Olimpíadas do Rio, em 2016.

Julia Vasconcelos, de 23 anos, e Josiane Lima, de 27, estavam na cidade desde quinta-feira, aguardando para competir a partir deste sábado. Na sexta, passaram pela pesagem para o Aberto da França e retornavam ao hotel quando o clima de caos foi instaurado - apesar de terem notado a movimentação de policiais e bombeiros.

“A gente estava no ginásio da competição ontem à noite e por volta das 20h30 ainda estávamos no metrô, voltando da pesagem. Chegamos no hotel às 21h30 e os ataques começaram por volta das 22hs. Eu só fiquei sabendo porque um amigo meu mandou uma mensagem falando o que estava acontecendo e na hora eu liguei na internet e li. O hotel em que eu estou fica a 4 quilômetros da onde aconteceu um dos atentados, só dava pra ouvir barulho de ambulância o tempo todo aqui. A cada 30 segundos passava uma ambulância aqui por perto”, relatou Júlia.

Josiane também recebeu diversas mensagens de amigos e parentes querendo saber do seu paradeiro. “Eu saí ontem no horário para comer, depois da pesagem, e quando voltei eu fiquei sabendo do atentado. Recebi muitas mensagens, a minha família preocupada eu via as ruas todas aqui bloqueadas. Ficou uma certa angustia de saber exatamente o que fazer, como fazer... É muito triste, lamentável. A recomendação é para ter muito cuidado, porque a cidade está toda em estado de alerta a gente não sabe se pode acontecer mais coisas. Assusta, não tem como dizer que não estamos assustadas.”

As lutadoras passaram a madrugada aguardando notícias e só pela manhã foram informadas do cancelamento da competição. Agora, terão de aguardar na capital francesa até segunda-feira para tentar pegar o voo marcado para a volta ao Brasil.

“Não sei como vai se proceder, se a gente vai enfrentar algum problema para ir embora, mas nós somos militares, somos terceiro sargento do Exército e o órgão militar aqui da França está dando todo o suporte pra gente aqui”, afirmou Júlia, que até pode sair do hotel, mas prefere ficar por lá, para se manter segura.

“Eu estou apreensiva de sair na rua, não sei como está a abordagem dos policiais militares aqui. Mas, vendo do quarto do hotel, não tem quase ninguém na rua. Para voltar ao Brasil, é claro vai dar um pouco de medo, eu já tenho um pouco de medo de andar de avião porque em 2012 eu quase sofri acidente num voo da Bolívia e o avião deu um problema lá em cima. Desde então eu fiquei com trauma, então, estou com medo, sim.”

Júlia relatou outro problema, ainda, em relação a perder a viagem e não competir. O dinheiro investido para competir foi pago do próprio bolso, já que o seu Bolsa Atleta está atrasado, de acordo com a lutadora.

“O sentimento é de ter jogado dinheiro fora, porque foi hospedagem, foi passagens, foi inscrição, foi alimentação que saiu tudo do nosso bolso e no meu caso, eu estou com a minha bolsa do governo federal atrasada. A gente está desdobrando aqui pra pagar esta competição que acabou não acontecendo, eu gastei por volta de 10 mil reais, o valor da bolsa do governo federal é de 11 mil reais mensais, mas desde agosto que eu não recebo. Essa bolsa é para os atletas que estão com índice para as olimpíadas que o governo federal tem que pagar por mês e devido a burocracia não está caindo pra gente”, lamentou ela.