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Lutadora desafiou a mãe, saiu de casa e agora está perto da Rio-2016

Saulo Cruz/Exemplus/COB
Iris Sing com a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Toronto imagem: Saulo Cruz/Exemplus/COB

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

Aos 25 anos, Iris Tang Sing está muito perto de conseguir a vaga para disputar no Rio de Janeiro a primeira Olimpíada de sua carreira. Na quarta posição do ranking mundial de taekwondo na categoria até 49 quilos, precisa terminar 2015 entre as seis melhores para assegurar o posto. Isso com apenas uma competição restando: o Grand Prix Final do México, no começo de dezembro, no qual uma vitória será o suficiente. Assim, nem precisará de indicação da Confederação Brasileira da modalidade.

Mas a trajetória de Iris até chegar a esta condição não foi fácil. E não se trata apenas das adversárias que teve de superar nos tatames para alcançar esta posição. Ela precisou também desafiar sua mãe, Marli. A genitora sempre foi contra a sua incursão no esporte e fez de tudo para desencorajá-la. Não prestou nenhum tipo de apoio e teceu comentários duros desde seu início na modalidade, quando tinha 11 anos, treinava em uma academia em Itaboraí (sua cidade-natal) e ainda nem tinha planos de ser uma atleta olímpica.

“Ouvia que não seria ninguém na vida, mandava eu desistir.  Quando eu chegava em casa e perdia o campeonato, ela falava ‘bem feito, desiste disso’”, contou.

A falta de assistência da mãe fez Iris desde pequena fazer rifas em busca de patrocínios para poder viajar e treinar. A decisão mais radical foi tomada quando completou 18 anos. Cansada das brigas e maus tratos abandonou seu lar. Primeiro foi viver com uma amiga, e alguns anos mais tarde com Diego Guimarães, seu treinador e com quem mora até hoje. Ele eram colegas de academia.

“A luta estava no meu sangue desde pequena. Tive um tio-avô que lutava boxe e adorava ver lutas. Mesmo assim,  nunca tive o apoio da minha mãe para nada. Devo tudo o que tenho hoje ao Diego. Quando ainda morava com minha mãe, várias vezes pensei em desistir. E foi ele que me incentivou a prosseguir e ir em busca de meus sonhos. Desde o início acreditou que eu poderia chegar longe. Ele é como um pai para mim”, afirmou Iris, que hoje em dia tem pouco contato com a mãe, apesar de viverem na mesma cidade.

“A gente treinava junto e desde lá vi que ela era uma atleta diferenciada, com potencial”, resumiu Diego.

A fé de Diego em Iris fez o técnico montar no quintal de sua casa em Itaboraí uma academia para treinar a atleta. A iniciativa foi tomada pois no município não havia um local adequado. E é lá que Iris segue até hoje. Motivos para mudar sua rotina ela não tem. E os resultados estão aí para provar. Só neste ano conquistou a medalha de bronze na categoria até 46kg no Mundial de Chelyabinsk (RUS), o bronze na categoria até 49kg no Pan de Toronto (CAN) e ouro nesta mesma categoria nos Jogos Mundiais Militares.

“Adoro treinar no quintal de casa. É tudo mais fácil, não tenho estresse, não pego trânsito. É algo bem suave”, disse Iris, que está de mudança. Em algumas semanas, passará a viver na casa que mandou construir com seu próprio dinheiro. Entretanto seguirá treinando na casa de Diego.

“É bem pertinho, não dá nem uns cinco minutos. Mas viver em uma casa só para mim, com uma cama só para mim, é um sonho que sempre tive. Graças a Deus consegui isso com muito suor”, disse Iris, que hoje recebe Bolsa Pódio, salário de terceiro sargento do Exército e conta com patrocínio da Petrobras. Ela também dá aulas em um projeto social da prefeitura de Itaboraí.

O próximo sonho de Iris é conseguir subir ao pódio na Olimpíada de 2016, respetindo o feito obtido por Natália Falavigna nos Jogos de Pequim, em 2008.
“Primeiro quero ter a certeza desta vaga e depois pensar no que fazer. Sei que ganhar um ouro é muito diíficl, mas pela prata ou bronze vamos trabalhar duro”.

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