Wada recomenda e Iaaf abre processo para suspender Rússia de competições

Do UOL, em São Paulo

A Wada (Agência Mundial Antidoping, pela sigla em inglês) divulgou um relatório nesta segunda-feira em que recomenda que a Rússia seja suspensa das competições de atletismo por um escândalo nos exames antidopings. A recomendação foi feita para a Iaaf (Federação Internacional de Associações de Atletismo), que já anunciou que abrirá processo para uma possível punição.

A suspensão pode impedir atletas russos de participar de qualquer evento da entidade, como Jogos Olímpicos (no caso, da Rio-2016) e campeonatos mundiais.

Sebastian Coe, presidente da Iaaf, disse que a punição da Rússia “poderá incluir uma suspensão provisória ou definitiva com a retirada de futuras competições da entidade". Ele considerou a investigação como "alarmante" e pedirá agilidade ao Comitê de Ética da Iaaf. A entidade exige resposta da Rússia ao relatório até o final desta semana.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) manifestou apoio à Iaaf e à Wada e reforçou prioridade da entidade em promover um "esporte limpo". O COI também revelou que deseja estudar o relatório da Wada e prometeu tolerância zero nos casos que as leis antidoping foram desrespeitadas, em um ataque às autoridades esportivas russas.

Pouco depois da divulgação do relatório, o ministro dos esportes da Rússia, Vitaly Mutko, afirmou que a Wada "não tem direito" de suspender o país das competições de atletismo.

O relatório trata apenas de questões ligadas à Rússia e ao atletismo, mas a Wada deixou claro que "o doping organizado também atinge outros países e outros esportes".

Segundo o relatório da agência, que aponta irregularidades de competidores da Rússia em exames antidoping, o esquema envolve cinco atletas, quatro técnicos e um médico.

A recomendação da Wada ainda pede o descredenciamento do laboratório de Moscou e a suspensão do diretor do local de maneira permanente.

O diretor teria destruído 1.417 amostras de exames três dias antes de receber a equipe de auditoria da Wada em busca de evidências. Ainda segundo o órgão, o laboratório teria sofrido pressão direta do governo russo.

De acordo com Dick Pound, ex-presidente da Wada, responsável por divulgar o relatório, os russos teriam escondidos resultados positivos de doping até o meio deste ano. O esquema tinha destruição de amostras após o pagamento em dinheiro.

Pound ainda fez questão de ressaltar que sua investigação foi apenas em relação ao atletismo russo.

“Esperamos que a Rússia aproveite essa oportunidade para seguir em frente e liderar um ataque para acabar com um problema que pode destruir o esporte. Para 2016, recomendamos que a federação russa seja suspensa”, disse.

“Provavelmente, esse relatório é apenas a ponta do iceberg. Não achamos que a Russia seja o único país com problema de doping e o atletismo não é a única modalidade com problema de doping”, ressaltou Pound.

Durante coletiva de imprensa, a Wada chegou a dizer que a Rússia havia sabotado os Jogos Olímpicos de 2012, permitindo que os atletas competissem.

A investigação apontou que Mariya Savinova-Farnosova e Ekaterina Poistogova, medalhas de ouro e bronze em Londres, respectivamente, estariam envolvidas no escândalo. A Wada recomendou que ambas sejam banidas do esporte.

Apesar de não falar sobre o Quênia no relatório, Pound citou que o país africano tem um problema. Segundo o dirigente, o país tem um problema real de doping e tem lidado de maneira lenta com isso.

A Usada (Agência Antidoping dos EUA) se manifestou e elogiou a Wada por expor que a Rússia conquistou competições por meios ilícitos.

AS MOTIVAÇÕES DA WADA PARA INVESTIGAR A RÚSSIA
  • Revelar os muitos casos de testes feitos de maneira inadequada e a baixa adesão a padrões seguidos por outros países do mundo.
  • Determinar o descredenciamento do laboratório de Moscou o mais rapidamente possível e remover permanentemente o diretor da entidade, Grigory Rodchenko.
  • Mostrar que um grande número de atletas suspeitos de doping poderia ser impedido de competir nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, se não fosse pela "política de laissez-faire inexplicável" instituída entre a Iaaf e a Federação de Atletismo da Rússia (Araf).
  • Sugerir que a Federação de Atletismo da Rússia (Araf) e nem a Agência Anti-Doping russa (Rusada) possam ser consideradas compatíveis com o código anti-doping.
  • Confirmar que médicos russos e/ou funcionários do laboratório atuaram como facilitadores do esquema para burlar uso de substâncias proibidas de forma sistemática, com apoio de treinadores.
  • Identificar a destruição intencional e maliciosa de mais de 1.400 amostras de exames por parte de Moscou depois de receber notificação para preservar as amostras.