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O dia em que Virna deixou Luciano do Valle sozinho em transmissão olímpica

Karla Torralba

Do UOL, em São Paulo

Era a primeira Olimpíada de Virna como comentarista, na TV Bandeirantes. Nos Jogos Olímpicos de Pequim, o sonho da conquista da medalha de ouro se transformou em realidade quando estava ao vivo na transmissão ao lado de Luciano do Valle. A ex-jogadora da seleção não pensou duas vezes e invadiu a quadra para comemorar o título olímpico.

“Eu vi a Fofão chorando, debruçada. Ela representava a nossa geração. Eu larguei o Do Valle sozinho, simplesmente deixei ele, e invadi a quadra, eu ‘subornei' os seguranças chineses, falei meu inglês que eles não entenderam nada e entrei na quadra. O Luciano lá em cima, ficou me chamando de volta. Eu vivi uma emoção única. Eu sei o quanto elas ralaram para chegar onde chegaram. Foram várias gerações plantando sementinhas, a gente conseguiu profissionalizar o nosso esporte”, relembrou Virna em conversa com o UOL Esporte.

Aquele era o ouro que Virna não conquistou em três Olimpíadas que disputou como atleta. Foram dois bronzes, um em Atlanta (1996) e outro em Sidney (2000). Além de uma despedida olímpica que Virna demorou a esquecer: o famoso duelo contra Rússia nos Jogos de Atenas, quando o Brasil acabou derrotado após chegar ao placar de 24 a 19 no quarto set da semifinal.

Ao UOL Esporte, Virna relembrou as Olimpíadas que participou, como deixou de ser reserva da seleção brasileira em 1996 para se transformar em uma das líderes do grupo, a relação com Bernardinho, a idolatria pela carrasca cubana Mireya Luis e a rivalidade com Cuba, construída em sua geração.

O "documentário amador" de cubana Mireya Luis

“Eu era muito fã da Mireya e eu comprei uma câmera só para filmar ela, eu queria aprender um pouco com ela, eu sempre admirei o vôlei dela. A gente foi jogar no Japão e eu comprei a câmera para filma-la. Eu tenho até hoje vários tapes da Mireya treinando. Ela era a melhor do mundo, eu queria aprender mais com ela”.

Virna precisou se encaixar no esquema de Bernardinho

“Eu me lembro das palavras do Bernardo (técnico da seleção brasileira feminina) para mim em 1995, porque ele definia a convocação antes. Ele falou ‘você quer jogar na seleção, então tem aprender a recepcionar ‘. E eu não sabia. A função no esquema dele era de ponteiras recepcionando. Eu tinha muito medo, tinha insegurança. Eu treinei seis meses separado com ele. Em 95, nós jogamos um torneio em Bremen e a Ana Moser machucou o joelho. Eu entrei e ganhei o prêmio de melhor recepção do mundo e foi graças ao Bernardo”.

A “Virninha” virou Virna ao final de Atlanta-1996

“Eu era reserva em 96 e durante a Olimpíada a Hilma se machucou. Ela estava jogando pra caramba. Eu tive que substitui-la. Nas partidas, a reserva tem que estar melhor ainda que a titular, não pode entrar mais ou menos. Não tem outra opção, senão volta para o banco. O problema é que em 96 a gente não tinha outra para ser a função da Hilma. Eu entrei bem e conseguimos ganhar a medalha de bronze na minha primeira Olimpíada. Eu saí como a ‘Virninha’ e aí me tornei a Virna. Foi uma geração de craques”.

A guerra contra a Cuba na frente da mãe

“Quando acabou aquele jogo, minha mãe estava com meu filho na arquibancada, eu fui ao encontro da minha mãe. A confusão aconteceu no vestiário e não me deixaram entrar depois. Depois eu ouvi as meninas gritando ‘porrada’, ‘porrada’. Eu gritava ‘o que está acontecendo’. E as meninas falavam que estava rolando uma pancadaria. A Filó ficou com um galo na cabeça, pegaram a muleta da Hilma para bater na cabeça das cubanas. A coisa foi séria, deu polícia”.

A confissão das cubanas após se aposentar

“Depois daquele jogo, ficamos um período sem ter contato. Chegou o presidente da Federação Internacional para intervir, porque Brasil e Cuba poderiam ser suspensos depois. A gente nem se cruza mais, era uma guerra. Quando tinha jogo, as duas seleções entravam  com segurança do lado. Quando parei de jogar, encontrei a Mireya e ela contou que elas eram treinadas para brigar com a gente, porque o Brasil começou a complicar e ficavam  desesperadas e provocando”.

A derrota doída em 2004

“Até hoje eu não consigo ver aquele jogo até o final, me dá angústia, eu não consigo ver até o final. Porque era a minha última Olimpíada eu estava arrasada e sabia que eu não poderia estar mais ali na próxima. É um luto. Eu assumi a culpa, eu como uma das mais experientes e tinha que jogar a responsabilidade para mim. Eu vivi um luto e pensei em parar de jogar. Eu tinha um contrato na Itália, mas eu estava bem desanimada, foi muito difícil aquele processo. Graças a Deus a gente deu a volta por cima”. 

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