Irmãs Williams da ginástica vivem sonho olímpico e têm até gato chamado Rio
Paula AlmeidaDo UOL, em Glasgow (ESC)
Elas fogem totalmente do estereótipo da ginástica artística europeia. Não são baixinhas como as romenas. Não são esguias como as russas. Não são musas como as italianas. Mas ainda assim, colocaram seu nome na história do esporte do Reino Unido. De quebra, ainda são irmãs. Rebecca e Elissa, as 'irmãs Williams da ginástica' em referência às tenistas Venus e Serena, ou simplesmente As Downies, como são mais conhecidas, são as queridinhas da torcida local no Mundial de ginástica artística em Glasgow, na Escócia.
Ao lado de Claudia Fragapane, Ruby Harrold, Amy Tinkler e Kelly Simm, a dupla conquistou na última terça-feira uma inédita medalha por equipes para os britânicos em campeonatos mundiais, o bronze, atrás dos imbatíveis Estados Unidos e China e à frente da tradicionalíssima Rússia, e coroou a vaga para os Jogos Olímpicos do Rio-2016.
“Quando terminou, nós falamos ‘Ai, meu Deus, isso está acontecendo mesmo?’. Nós sabíamos que tínhamos uma chance porque nos classificamos em terceiro lugar, mas cometemos alguns erros nas eliminatórias. Deixamos eles para trás e fomos à luta por cada movimento, por cada aterrissagem”, comemorou Becky, a mais velha das Downies e do time com 23 anos.
Mas alcançar metas inéditas não é algo novo para essas irmãs que ainda arranjam tempo para participar de programas de TV, eventos com celebridades e amar tudo relacionado a moda. Becky foi integrante da primeira equipe feminina do Reino Unido a conquistar uma medalha em campeonatos europeus, em 2010. Ainda ganhou mais quatro medalhas continentais depois disso, incluindo duas neste ano, em Montpellier.
Os feitos de Ellie, de apenas 16 anos, são menos numerosos, mas ainda mais grandiosos. A inglesa conquistou quatro medalhas individuais nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2014, em Nanning, e se tornou a primeira medalhista individual geral do Reino Unido em um Europeu ao faturar o bronze neste ano na França.
As duas forças se juntaram agora para formar a equipe de maior sucesso da história da ginástica britânica. A caçula Ellie seguiu os passos da primogênita, de quem é a maior fã. E Becky aconselha a irmã como faz com todas as outras colegas, mas vive na corda bamba entre o companheirismo de time e o cuidado fraternal.
“É muito estranho e muito difícil emocionalmente. Obviamente, eu quero que ela vá bem, assim como quero que o time todo vá bem. Mas algumas vezes é difícil”, afirmou Becky ao UOL Esporte. “Eu sabia, por exemplo, que ela tinha ficado devastada após a queda nas barras [durante a fase de classificação], mas eu tinha que me controlar e me concentrar na minha série”.
O mesmo desapontamento das eliminatórias se repetiu na final, quando Ellie voltou a cair das assimétricas. Desta vez, ouviu um conselho direto: “você pode ir para a trave e jogar tudo fora ou pode detonar e voltar à briga”. Ellie preferiu a segunda alternativa. Fez a sétima melhor nota no aparelho entre as 24 atletas que se apresentaram e depois ainda foi a responsável por fazer a bela aterrissagem de salto que deu o bronze ao Reino Unido e incendiou a Hydro Arena.
Becky, como capitã e irmã mais velha, retribui hoje com conselhos e sua melhor forma um presente que recebeu de Ellie. Após ficar fora do time titular do Reino Unido para a Olimpíada de Londres-2012, Becky pensou em se aposentar. Ellie não deixou. Deu à irmã um gato - elas têm pelo menos outros dois - e o chamou de Rio. Era um incentivo para a primogênita não desistir do sonho da medalha olímpica e lutar para disputar os Jogos de 2016. Aos poucos, vai virando realidade.