Especialistas questionam decisões da CBB em contratos com agências
Guilherme CostaDo UOL, no Rio de Janeiro
A CBB (Confederação Brasileira de Basquete) pagou comissões a duas agências por um contrato. Uma dessas empresas era de André Stuart Beck, filho de Roberto Beck, que na época era vice-presidente da entidade. Segundo especialistas ouvidos pelo UOL Esporte, ainda que seja impossível concluir que houve dolo ou crime em qualquer um desses expedientes, ambos mostram ao menos um problema de gestão da entidade que comanda um dos esportes mais populares do país.
Veja abaixo o que especialista de mercado e advogados disseram sobre as práticas:
Ricardo Ognibene, diretor-executivo da Sport Group Brazil
“Eu não sou contra a terceirização. Sou a favor desse modelo de negócio, e se for um contrato sério, com dois lados querendo realmente trabalhar e gerar receitas, acho bastante válido. O que eu entendo é que se você conseguir estruturar o clube ou a federação com pessoas capacitadas e que tenham autonomia, isso vai ser igual a qualquer negócio do mundo e vai funcionar”.
“A questão de precificação é diretamente da agência com o clube ou federação, mas existe um limite de mercado e um limite moral. Dentro do esporte isso varia bastante, mas falamos de algo entre 6% e 15%. Isso não é só no esporte, mas de negócios em geral que sejam feitos de forma correta. A gente ouve falar de coisas bem diferentes, mas a gente trabalha de 6 a 15%, dependendo do envolvimento da agência”.
Fabio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports & Marketing
“Essa passagem de bastão acaba gerando uma perda em aspectos como estratégia, alinhamento e características internas. A agência pode ser um apoio para o marketing ou um complemento, mas a completa terceirização é algo que não cabe na minha visão”.
“A comissão depende fundamentalmente do trabalho realizado. Diversas coisas podem ser feitas em parceria, e cada cliente tem suas características. Tem clube que me pagou 5% e clube que me pagou 1%, mas eu fujo de receber diretamente do clube. Procuro negociar o melhor valor para o meu cliente e receber do cliente. Fica mais transparente para as partes envolvidas”.
Júlio César Cocolichio, advogado e mestrando em direito político e econômico
“Esse contrato da Eletrobras com a CBB redundou num termo de parceria. Ali vai estar disciplinado o que vai ser executado. Sem analisar, posso dizer que essa atuação por parte do parceiro privado está em contradição com os princípios que regem a lógica administrativa. Você tem dois princípios desgastados: eficiência e moralidade, por causa do nepotismo”.
“Do ponto de vista da CBB, ela está empregando o recurso de uma maneira ineficiente, e a eficiência é um dos princípios que regem a administração de dinheiro público no Brasil”.
“Em tese é viável [que uma entidade que toma dinheiro público contrate a agência do filho de um de seus dirigentes], mas geralmente os editais preveem a não contratação de pessoas com grau de parentesco por parte dos sócios dirigentes. Geralmente tem esse tipo de previsão no próprio documento que baliza a concorrência”.