De astro a peça estratégica, Diego Hypolito vive sonho olímpico diferente
Paula AlmeidaDo UOL, em Glasgow*
Nem parecia a mesma pessoa. O Diego Hypolito que saiu calado e cabisbaixo do treino de pódio do Brasil no Mundial de ginástica artística em Glasgow, na última quarta-feira (21), deu lugar a um Diego sorridente e falador após a final masculina por equipes da quarta-feira. O bicampeão mundial de solo e finalista olímpico experimenta agora novas situações no time do qual já foi o número 1, mas em que hoje é um integrante estratégico.
Os fãs um pouco menos familiarizados com o cotidiano da seleção brasileira não entenderam quando Diego ficou na reserva nas eliminatórias. Em conversas com torcedores estrangeiros na Hydro Arena, a reportagem do UOL Esporte teve que responder algumas vezes ‘por que o Hypolito não está na equipe?’. Hoje, Diego é mais útil em finais e até nos bastidores, mas não compõe um time ideal em fases qualificatórias.
Especialista em solo e salto, o paulista tem séries fracas em aparelhos como barra fixa, paralelas e cavalo com alças e já não é mais um generalista como foi no auge. Como a equipe brasileira já tem um especialista, Arthur Zanetti, que também não faz esses aparelhos e costuma competir apenas em argolas, solo e salto, a presença de Diego pouco acrescenta. Em seu lugar, é melhor ter atletas mais constantes como Péricles Silva. Mas quando o colega se machucou, foi Diego quem teve que substituí-lo na decisão. E aí mostrou por que ainda é importante. Fez 15,220 no solo, nota que lhe garantiria até lugar na final do aparelho se ele tivesse competido nas eliminatórias.
“Eu acabei competindo hoje, não imaginava nem que iria competir, minhas expectativas já estavam em função das Olimpíadas”, afirmou Diego, que repetiu em Glasgow a mesma série apresentada no Mundial de 2014 em Nanning, mas que já treina movimentos novos visando à Rio-2016. “Tentei fazer o meu melhor, sem pressão nenhuma. Eu até estava um pouco nervoso na hora do solo e do salto, mas porque era uma vaga que o Péricles tinha conquistado, que era de mérito dele. Ele acabou tendo uma lesão e eu consegui fazer um bom papel”.
Em finais, vale a pena ter Diego porque apenas três notas por aparelho são computadas, e não quatro como nas preliminares. A experiência do ginasta também conta nessas horas. É nele que se deposita a confiança nas horas de tensão. É dele que se esperam as palavras de incentivo ou consolo aos colegas, como aconteceu com Francisco Barreto, que caiu da barra fixa e do cavalo com alças. É ele quem levanta o moral dos parceiros, como faz com Arthur Nory. “Tenho orgulho dele”, ressalta.
"O Diego é o ginasta com mais tempo de seleção do grupo, com vários títulos internacionais, temos muito orgulho e respeito por isso", diz Leonardo Finco, coordenador da seleção masculina. "No dia a dia, ele tem o mesmo tratamento de todos porque está em preparação e busca assim como os demais uma vaga na equipe que irá aos Jogos Olímpicos do Rio. Ele hoje é considerado por nós como um especialista e passa a sua experiência ao grupo sempre que possível".
Ao mesmo tempo, Diego ainda corre em busca da medalha que duas quedas em Olimpíadas lhe tiraram. “Não gosto nem de pensar na Olimpíada porque eu tenho vontade de chorar só de imaginar. Porque mais uma vez Deus me deu a oportunidade de estar lá e representar a minha nação. Os meus resultados deixaram de ser meus, e eu deixo muito claro isso. Porque se eu continuei na ginástica depois das minhas falhas em Olimpíadas é porque eu acredito que eu posso. Não só eu, todos os meninos”, argumenta ele, que hoje apela para a modéstia depois das decepções em 2008 e 2012.
“Eu cheguei em Pequim achando que eu seria campeão olímpico e eu não fui porque eu não era merecedor momentaneamente. Não por não ter treinado, mas porque eu me senti um campeão já antes de competir. E lá, todos treinaram para esse momento. E dessa vez eu acredito que estou fazendo tudo que é possível de uma pessoa mais por baixo mesmo. Eu não me considero hoje um campeão mundial, um campeão olímpico. E olha que eu tenho títulos mundiais. Eu me considero um atleta como todos os outros. E todos têm chance. Se eu trabalhar, com certeza eu também terei nas Olimpíadas”.
Ao lado do orgulho ferido de ainda buscar o resultado individual que não veio, Diego agora caminha com uma equipe que tem pela frente sua primeira experiência olímpica. Mais maduro, o agora veterano faz questão de comemorar a classificação inédita do time masculino. Sabe o tamanho do feito alcançado.
“Desde 2003 eu me imaginava competindo uma Olimpíada como equipe. Isso é algo inédito, a gente comemorou muito. Não comemorar de sair, ir pra balada. A gente comemorou de felicidade. Alma lavada. Parece que saiu um peso de cima de mim, porque eu falava ‘gente, e se não der, e se der’. A gente fica numa expectativa muito grande. Quem diria que num país que vivia a ginástica antigamente só para as mulheres, nós teríamos uma equipe [masculina] classificada para as Olimpíadas. Isso pra mim é o maior mérito”.
Diego Hypolito não tem vaga garantida nos Jogos do Rio. A equipe está classificada, mas os integrantes serão definidos pela comissão técnica (Nory e Lucas Bittencourt podem carimbar o próprio passaporte se forem medalhistas nas finais individuais que disputarão). Mesmo se convocado, ele só poderá conquistar uma medalha individual se disputar as eliminatórias como titular. Mas dedicação para ser convocado não vai faltar.
“As pessoas têm diariamente falado pra mim ‘e aí, vai ganhar uma medalha olímpica?’. Eu seria hipócrita em dizer que não vou treinar pra ser um medalhista olímpico. Mas eu não sei. Eu sei que vou tentar o máximo, o máximo que vocês podem imaginar. É o meu maior sonho, e isso eu tenho certeza que eu consigo passar, porque eu quero muito, mais do que qualquer pessoa, mais do que qualquer momento que eu passei”.
*Atualizada às 12h16