Fratura estranha e acordo em jogo polêmico: histórias do livro de Giba
Do UOL, em São PauloCampeão olímpico, tricampeão mundial e um dos maiores jogadores de vôlei da história, Giba lançou nesta semana sua biografia, “Giba Neles!”, escrita em parceria com o jornalista Luíz Paulo Montes.
Em pouco menos de 200 páginas, o agora comentarista da Rede Globo (para as Olimpíadas de 2016) fala sobre polêmicas que marcaram sua carreira, evita o confronto e faz revelações picantes. Uma delas envolve uma aventura sexual, uma fratura inusitada e uma mentira para o grande público.
1. Búlgaros sabiam que o Brasil entregaria jogo em 2010
No Mundial da Itália, em 2010, o Brasil conquistou seu terceiro título mundial seguido. Mas aquela conquista teve uma mancha: no fim da primeira fase, a seleção do técnico Bernardinho entregou o jogo contra a Bulgária para enfrentar, na fase seguinte, adversários mais fáceis. O episódio foi chamado de jogo da vergonha e Giba admitiu, em entrevistas no dia, que aquilo mancharia sua carreira.
Em seu livro, porém, o capitão brasileiro revela que os búlgaros também entraram em quadra dispostos a perder: no dia do jogo, ele recebeu a visita do capitão rival em quarto, Vladimir Nikolov. “Sabia, claro, o motivo dele vir até mim. A conversa foi franca e os dois lados expuseram seus pontos de vista e deixaram claro o que fariam no jogo. As cartas e as estratégias estavam na mesa. Chegamos no ginásio e soubemos, antes de entrar na quadra, que os búlgaros não mediriam esforços para perder o jogo”, escreve.
A partida terminou 3 sets a 0 para os europeus. O Brasil jogou com o oposto Théo como levantador, já que Marlon estava afastado e o titular Bruninho tinha sido poupado na partida.
2. Em 2000, Giba escondeu fratura do pênis
Essa é a história mais inusitada de todo o livro. Em 2000, ele não disputou a fase decisiva da Liga Mundial, em que o Brasil terminou em terceiro lugar. Para a imprensa, a versão dada foi que ele sentia dores no ombro. A verdade, porém, era bem diferente e picante.
“Fiquei fora de toda a fase decisiva com uma fratura no pênis. Sim, no pênis, por mais bizarro que isso possa ser. Era uma folga antes da última semana de jogos da Liga, sofri essa lesão durante uma relação sexual com minha esposa. Fiquei com um enorme inchaço, que me impedia quase de andar. A dor, acreditem, é insuportável. Dormia com gelo ao lado da cama, e toda manhã, antes de levantar, aplicava. Ereção, com aquela fratura, era tudo o que não podia acontecer”.
Por causa da lesão, Giba ficou um mês afastado. Contou aos jogadores o real motivo do afastamento, mas não para a comissão técnica: falou que tinha “levado um soco de um primo nas 'partes baixas'”.
3. Doping com maconha foi empolgação de “peguete”
Em 2002, Giba foi flagrado no antidoping. Em um teste no campeonato italiano de vôlei, seu exame apontou metabólicos de maconha. O brasileiro admitiu o uso, aceitou a punição e voltou para ser três vezes medalhista olímpico. Mas detalhes do episódio que levaram ao doping só foram revelados agora. Naquele ano, seu casamento com a fisioterapeuta Fabiane Pereira tinha terminado e Giba estava deprimido, morando sozinho na Itália. Ele começou um caso com uma mulher italiana, que o ofereceu o baseado. O mais inusitado é que tudo isso ocorreu enquanto assistiam ao filme “O Barato de Grace”, justamente sobre maconha.
“Diante de todos os problemas, e assistindo àquele filme, porém, eu pirei. Ela percebeu, perguntou se eu me incomodava se ela fumasse e voltou a me oferecer. Eu me perdi completamente e aceitei. Fumamos um baseado. Foi, de fato, relaxante”.
No dia seguinte, porém, o time de Giba foi testado no antidoping. Flagrado, o brasileiro foi julgado, mas levou uma pena branda: apenas oito jogos de gancho e uma multa em dinheiro.
4. Maior jogador de vôlei do mundo era fumante
Quando o técnico Bernardinho soube do doping por maconha, foi até a Itália conversar com seu principal jogador. Nesse encontro, pediu ao atacante que parasse de fumar. O cigarro a que o técnico se referia, porém, era o tabaco.
“Os jornais publicaram: 'Bernardinho diz que sabia que Giba fumava maconha'. Ele imediatamente corrigiu, dizendo que, na verdade, não falara de maconha, e sim de cigarro. Aproveitou essa oportunidade e, no nosso encontro, pediu encarecidamente, pelo meu bem e da equipe, que eu parasse com o cigarro. Não combinava, obviamente, com a carreira de atleta e com o ritmo de competições que teríamos nos meses e temporadas seguintes”.
5. Fracasso em primeira peneira e calotes
Quem vê a história de sucesso de Giba no esporte não imagina que, durante a sua carreira, não faltaram obstáculos a serem superados. O jogador, por exemplo, foi dispensado pelo Banespa em sua primeira peneira, em 1993: “Ouvi de um dos treinadores, responsáveis pela seleção dos garotos: 'Você tem condições, mas é muito baixo. Continue tentando, vá para outro clube. Aqui não dá'. Eles buscavam jogadores com, no mínimo, 1,95m. Por três centímetros, fiquei fora. E nunca mais esqueci aquela frase”.
Momentos mais difíceis, porém, foram os calotes. Em 1998, ele era jogador do time de Chapecó: “Fui um dos principais atacantes da competição [Superliga 96/97], mas, financeiramente, quase me afundei. Nós, jogadores, ficamos cinco meses sem receber salários. Foi ali que o fantástico Carlão me estendeu a mão e me colocou dentro de sua casa, ajudando com o que fosse preciso. Inclusive alimentação”. Giba ainda levaria calotes graves em seus dois últimos clubes como jogador, o Bolivar, da Argentina, e o Al Nasr, dos Emirados Árabes.
6. Jogador passou por três cirurgias espirituais
Giba não se declara espírita, mas fala muito sobre sua ligação com a religião – uma visita ao médium Chico Xavier, em Minas Gerais, para uma reportagem do Esporte Espetacular, inclusive, toma boa parte do livro. Nesse momento, Giba revela que fez três cirurgias espirituais em sua vida. A primeira foi aos seis anos, após cair de um balanço e machucar a nuca. “[O médico] alertou que aquela pancada havia sido forte e poderia afetar o meu crescimento – eu provavelmente não passaria dos 1,70m”.
A segunda aconteceu aos 14 anos: “Ainda muito jovem, passei de 1,90m de altura. E justamente por conta desse meu rápido crescimento, foi necessária a segunda cirurgia espírita. Espichei e fiquei com o chamado bico de papagaio no joelho”.
A terceira aconteceu em 1998, já com Giba jogador da seleção adulta. E em um local inusitado: um avião, entre Los Angeles e Tóquio. Dona Solange, sua mãe, perguntou se tinha algo errado. Ao ouvir que o filho tinha dores no ombro, mandou que ele deitasse a cadeira e fechasse os olhos em um determinado horário. “Quando o avião decolou, e o horário determinado se aproximou, eu simplesmente apaguei. Acordei quando estávamos perto de Tóquio, destino final. […] Joguei o torneio inteiro sem qualquer problema no ombro”.
7. Leucemia, 150 pontos no braço e um acidente
Giba quase morreu três vezes. A história mais famosa é da leucemia, doença que ele superou ainda bebê. No livro, Giba conta que a gravidade do problema foi escondido de sua mãe, que achou que o filho tinha apenas uma anemia profunda. “Enquanto as outras crianças tomavam mamadeira de leite, eu tomava suco de beterraba ou de laranja com espinafre”. Dona Solange só soube que o filho tinha câncer quando os exames já mostravam a cura.
O segundo quase-encontro com a morte veio aos 12 anos. Ao subir em uma árvore, perto da padaria da família, Giba caiu. “Logo abaixo, a grade do portão de uma casa tinha pontas em formato de lanças, e uma delas, na queda, ia acertar a minha nuca. Eu ia morrer. Pensei rápido e coloquei o braço esquerdo na frente. Soltei meus pés da grade e caí. [...]Quando olhei, vi os nervos e muito, muito sangue”. Giba passou por cinco horas de cirurgia e levou 150 pontos no braço.
O terceiro foi adulto: indo de Maringá para Chapecó, ele sofreu um acidente de carro. “No era começo de madrugada quando entrei na serra. Fiz uma curva perigosa, senti o carro derrapar e tentei controlar. Não deu. Atravessei a pista e desabei barranco abaixo. O carro bateu a frente no barranco e voou. Passei por cima de um rio”. O jogador tinha derrapado nos restos de um cachorro morto no local. Segundo o policial que foi ao local do acidente, aquela era a “Curva da Morte” da região.
8. Cristina Pirv, o pacto pré-casamento e os seguranças
O casamento com a romena Cristina Pirv, mãe de seus dois filhos, acabou no fim da carreira esportiva de Giba, quando ele jogava na Argentina. Mas rendeu algumas histórias inusitadas.
Em uma delas, os dois não conseguiram cumprir um pacto pré-casamento: “Por conta da Copa do Mundo, ficamos cerca de 36 dias sem nos encontrarmos. E fizemos um trato: ficaríamos sem sexo até nosso casamento”. O trato, porém, não resistiu ao primeiro encontro após o campeonato, em dezembro de 2003. Após um jantar, os dois não aguentaram a viagem para casa. “Encostei o carro na beira da estrada, tirei Cristina do carro e, ali mesmo, descumprimos a promessa de ficar dois meses sem sexo até o casamento”.
Outro momento relembrado no livro aconteceu quando os dois já moravam em São Paulo, em 2009. E envolve a falta de segurança da capital paulista: “Pouco tempo depois [de blindar seu carro], fui assaltado à mão armada na avenida Santo Amaro, em São Paulo. Ele colocou a arma no vidro e me pediu que passasse tudo – relógio, carteira e o que mais tivesse. Falei: 'Pode atirar'. E comecei a andar para a frente e para trás. Liguei a sirene ele correu. Nesse momento, sinceramente, eu pensei: 'O que eu estou fazendo aqui? Lá fora não tem nada disso'. Em locais públicos, sempre havia um segurança atrás de meus filhos e minha esposa. Eles nunca souberam disso”.