Ginasta brasileiro vai de suspensão por injúria racial a sucesso no Mundial
Paula AlmeidaDo UOL, em Glasgow (ESC)
Apenas o público assíduo da ginástica artística conhecia Arthur Nory antes de maio de 2015. A essa altura, ele já tinha chegado perto de uma medalha nos Jogos Olímpicos da Juventude e participado de dois Campeonatos Mundiais adultos. Já era uma das promessas do Brasil na modalidade. Mas só em maio apareceu para o grande público ao ser protagonista de um caso de injúria racial. Cinco meses depois, a vida de Nory deu uma guinada. Ele é o principal destaque do país no Mundial de Glasgow, na Escócia.
O jovem paulista de 22 anos já era cotado para uma vaga nos Jogos Pan-Americanos de Toronto quando participou de uma ‘brincadeira’ com outros colegas de seleção em que ironizavam a cor do companheiro Ângelo Assumpção. Além de ter de fazer um pedido de desculpas e de levar uma bronca da comissão técnica, Nory foi suspenso de suas atividades esportivas por 30 dias. No retorno, foi perdoado e convocado para o Pan, onde conquistou a prata por equipes e disputou três finais por aparelhos.
Nas eliminatórias de domingo em Glasgow, Nory foi o ginasta mais regular do Brasil. Somou 88,182 pontos e, não à toa, já está com um dos pés na final individual geral e bem próximo de disputar a decisão da barra fixa, aparelho em que, no primeiro dia, só foi superado pelo pentacampeão mundial Kohei Uchimura.
“Esse ano foi bem complicado pra mim, mas é questão de se superar a cada dia. Colocar a cabeça no lugar, se preparar e botar na cabeça os nossos objetivos para alcançar essas metas que você tem, que você vai chegar lá. Não deixei em nenhum momento nada me atrapalhar, cirurgia ou qualquer outra coisa que teve. Eu coloquei que a gente ia classificar, eu ia estar na equipe do Mundial e do Pan-Americano.”, afirmou o atleta após a fase classificatória.
Após cada final de série, Nory comemorava como se fosse um título. “A cada aparelho eu tinha que dar meu máximo para conseguir uma boa nota, porque a gente quer muito essa classificação direta para as Olimpíadas como equipe. Então fazendo as séries eu tinha que mostrar que estava satisfeito no que eu fiz e mandar confiança para a equipe. Mesmo que tivesse algum erro, ficar feliz, ficar satisfeito, porque é um alívio. A gente treinou tanto para estar aqui, é muita pressão, muita coisa que a gente passou”.
Apesar da confiança de Nory, a vaga olímpica direta do Brasil está sob risco. A equipe terminou o primeiro dia de eliminatórias na sexta colocação e agora só pode ver um de seus rivais diretos ultrapassá-la, já que os Estados Unidos, que ainda vão competir, quase certamente ficarão entre os primeiros colocados.
Sem a certeza de estar na final por equipes, Nory tem que, pelo menos, se preparar para as finais individuais que disputará. E terá que se superar se quiser evoluir. No Mundial do ano passado, piorou sua nota das eliminatórias na decisão individual geral. E no Pan, falhou nas finais por aparelhos que disputou.
“É trabalhar para ser mais regular, mais constante em competição, porque eu sempre oscilo um pouco, nunca estava conseguindo ir bem”, comentou. “Eu estou mais seguro em relação as minhas séries. Elas não estão tão difíceis, mas eu consigo pegar pelo lado da execução. Então isso dá um ajuste. Mas quando eu juntar dificuldade com execução, vou estar nos meus 150%”.
Se depender da confiança de companheiros e treinadores, Nory terá sucesso. “O Nory foi muito bem hoje. Não vou dizer que ele fez a competição da vida dele, mas ele fez uma ótima competição, está de parabéns, não só ele mas toda a equipe brasileira”, elogiou Arthur Zanetti. “O Nory e o Lucas competiram lá no teto hoje, foram melhor do que nos treinos”, ressaltou o técnico Marcos Goto, referindo-se ainda a Lucas Bittencourt, o segundo melhor ginasta do Brasil nas eliminatórias.