Ela já competia antes de Flávia Saraiva nascer. E quer ir para 7ª Olimpíada
Ela tem um abdômen de fazer inveja a qualquer rata de academia. Faz os quatro aparelhos da ginástica artística com um fôlego que muitas garotas deixam de ter já aos 20 anos. E ainda consegue brigar por boas posições nas competições. Tudo isso aos 40 anos. Quando começou a competir, muitas de suas atuais adversárias, como a brasileira Flávia Saraiva (16), sequer eram nascidas. Mas idade é um assunto que não preocupa a uzbeque Oksana Chusovitina, a ginasta mais velha do Mundial disputado em Glasgow, na Escócia.
Encerradas as eliminatórias no domingo, a atleta ficou fora da final do individual geral e do salto, sua especialidade. Provavelmente porque tomou uma decisão arriscada: testar, em pleno Mundial, um novo movimento, o que seria o exercício de maior dificuldade do aparelho. Não conseguiu concluí-lo e provavelmente teria somado mais de meio ponto a mais se tivesse acertado ou se tivesse tentado outro mais fácil. Mas para Chusovitina, o simples não tem graça.
“Quem não se arrisca, não bebe a champanhe”, brincou a uzbeque. “Tentei pousar meus pés, mas meu braço escorregou. Só preciso praticar mais. Hoje eu tentei, e estará perfeito para a Olimpíada”.
A veterana fala com tanta certeza sobre estar nos Jogos do Rio que ninguém duvida de que ela conseguirá. A vaga direta não veio em Glasgow, mas Chusovitina poderá passar no evento-teste do ano que vem. E se nem lá conseguir, pode ser a escolhida da FIG (Federação Internacional de Ginástica) para ficar com a vaga convite que dois atletas (uma mulher e um homem) terão.
Ir a uma Olimpíada não seria nada inédito para Chusovitina. Na verdade, ela briga para estar em sua sétima edição de Jogos. E pelo terceiro país diferente. Tudo começou em Barcelona-1992, quando competiu pela Comunidade dos Países Independentes formada por nações migradas da União Soviética e conquistou duas medalhas: ouro por equipes e bronze no salto.
Depois ainda viriam Atlanta-1996, Sydney-2000 e Atenas-2004 competindo pelo próprio país, até que Chusovitina resolveu se naturalizar alemã. Foi uma forma de agradecer o que o país fez quando ela enfrentou a maior adversária de sua vida: uma leucemia que acometeu seu filho no início dos anos 2000. A comunidade da ginástica se reuniu para ajudar a atleta a bancar o tratamento, e a principal ajuda veio dos alemães, onde Chusovitina foi morar com a família para tentar a recuperação de Alisher. O agradecimento não poderia ser mais laureado: veio com uma prata no salto.
Após uma breve aposentadoria, Chusovitina voltou a competir por seu país e disputou a Olimpíada de Londres-2012. Prometeu que seria sua última grande competição, mas não conseguiu manter a palavra.
“Você conhece nós, mulheres. Dizemos uma coisa e depois mudamos de ideia o tempo todo. Eu estou confiante, e vou continuar competindo”, brinca a quarentona, que agora não quer nem saber de parar. “Não penso nisso agora. Pode ser no ano que vem, pode ser daqui a 10 anos. Meu objetivo agora é a Olimpíada”.
Chusovitina é uma lenda do esporte, e durante o Mundial de Glasgow foi bastante exaltada pela organização do evento, pelas colegas e pelo público.
“Eu só agradeço por todo o apoio. Mas os árbitros poderiam apoiar também”, diverte-se. “Aos olhos dos juízes, nós somos todas iguais. Não há atenuantes para idades diferentes”.
Com o filho totalmente saudável e praticamente criado aos 16 anos, o foco de Chusovitina agora é um só: voltar ao Rio. De lá, as lembranças são boas. Não só as profissionais. “Estive no Rio algumas vezes. Gostei muito de lá, especialmente de curtir minhas férias”.